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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, julho 04, 2015

 O que há por trás desse empenho em aprovar a redução da maioridade penal?


Maioridade_Penal15
Luciano Martins Costa 
O discurso dos datenas e outros valentões da tevê e do rádio, que deixam os midiotas excitadinhos e enche de tesão certos deputados mal resolvidos sexualmente, não tem muito a ver com a questão da violência, já devidamente desmentida como justificativa para essa ruptura por muitos estudos e indicadores.
O que está por trás desse movimento – e que dificilmente você vai ler na chamada grande imprensa – é o novo mercado de escravos. Ele se institucionaliza no sistema de penitenciárias privadas, objetivo final desse processo.
Quanto vale a mão de obra de centenas de milhares de jovens cheios de energia, obrigados a trabalhar em penitenciárias privadas para reduzir a pena? Além disso, imagine ainda receber do Estado para manter essa clientela ocupada e longe das ruas. Excelente negócio, que movimenta muito dinheiro.
Não por acaso, o Estado de São Paulo é pioneiro nessa iniciativa: alguns oficiais da PM paulista, quase todos reformados, atuam como consultores e lobistas desse movimento.
Seria preciso um grande esforço de reportagem para demonstrar com dados concretos esse jogo. Para os jornalistas independentes e as mídias alternativas, aqui vão algumas dicas:
1) O mercado privado de presídios movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano, sem contar os serviços de apoio.
2) O setor é dominado globalmente por dois núcleos com origem nos Estados Unidos – as corporações Wackenhut Corrections e a Correction Corporation of América (CCA) –, que controlam dois terços do “mercado” de encarceramento.
3) Calcule o valor desse mercado: a população carcerária dos Estados Unidos é a maior do mundo, com 2,3 milhões de presos. Cresceu 780% nos últimos 30 anos, com o sistema de encarceramento privado, que “estimulou” a cultura da privação de liberdade como alternativa preferencial de pena. O custo anual por detento vai de US$25 mil a US$30 mil.
4) A superlotação era de 39% acima da capacidade em 2011.
5) As duas corporações atuam também em outros setores, como a segurança privada. Uma delas, a Wackenhut, está investindo pesadamente no Brasil desde 2010. Seu braço nesse setor, a G4S, é a maior empregadora cotada na bolsa de Londres, com faturamento anual declarado equivalente a R$24 bilhões. No Brasil, já incorporou cinco empresas especializadas em transporte de valores, segurança eletrônica, vigilância etc.
6) O setor de encarceramento juvenil é a joia da coroa desse sistema, porque o valor pago pelo Estado sofre pressão de ONGs que cuidam dos interesses dos menores infratores, o que faz aumentar o valor da “hospedagem” pago pelo Estado. Nos Estados Unidos, essa “clientela” cresce em média 90 mil por ano por condenações mais graves. Os que são detidos por períodos curtos (“delitos” como matar aula, tomar uma cerveja, viajar sem avisar os pais e – pasme! – arrotar em sala de aula, condutas tidas como impróprias), chegam a 2 milhões por ano.
7) Os Estados Unidos nunca aderiram à Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente. O Brasil aderiu, mas se for considerado que a redução da maioridade penal significa um rompimento desse tratado, pode ser denunciado junto à ONU.
8) Nos Estados Unidos, tanto a Wackenhut quanto a CCA declaram obedecer a lei dos lobbies, mas são conhecidas, segundo John Connolly, especialista em segurança pública, por burlar a lei. Imaginem como seria no Brasil, onde o lobby não é regulamentado.
Essa é uma fração dos interesses por trás da festa que fizeram os assanhados parlamentares que participaram da manobra antirregimental de Eduardo Cunha na Câmara.
*limpinhocheiroso

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