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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, julho 06, 2015

Rússia e Grécia assinam um pacto econômico em plena crise com a UE

Primeiro-ministro Tsipras reúne-se nesta sexta-feira com Putin em São Petersburgo


Putin e Tsipras em São Petersburgo. / SASHA MORDOVETS (GETTY IMAGES)
Grécia retoma seu flerte com a Rússia enquanto se agravam os problemas com os parceiros europeus. O Governo de Tsipras assinou nesta sexta-feira, um dia depois do fracasso da reunião do Eurogrupo, um memorando com a Rússia para que o gasodutoTurkish Stream passe pelo território grego com financiamento russo, informa a Reuters. O ministro da Energia grego, Panayotis Lafazanis, afirmou ao assinar o acordo que a Grécia precisa de apoio e não de pressão em sua negociação com os parceiros e credores para resolver a crise da dívida e que a cooperação econômica com a Rússia não pretende gerar atritos com outros países ou com a Europa. Lafazanis é o líder da ala dura do Syriza, que é contra fazer concessões aos parceiros.
Na cerimônia de assinatura do acordo, o ministro da Energia russo, Alexander Novak, declarou que a Gazprom, a empresa estatal de energia russa, não assumirá o trecho grego do TurkStream, a outra denominação que recebe o gasoduto, que substitui o cancelado South Stream.
Em paralelo e também em São Petersburgo, o vice-primeiro-ministro russo Arkady Dvorkovich anunciou na sexta-feira que Moscou considera uma ajuda financeira a Atenas: “O mais importante para nós são os projetos de investimento e o comércio com a Grécia. Se for necessário apoio financeiro, consideraremos o assunto”, declarou em entrevista citada pela agência Tass.
Na quinta-feira, mesmo dia em que o futuro da Grécia na zona do euro era decidido na reunião dos ministros de Economia, o primeiro-ministro Alexis Tsipras chegou a São Petersburgo em uma visita oficial programada desde abril, a segunda que realiza à Rússia em menos de três meses. Acompanhado do ministro Lafazanis, o chefe de Governo viajou à antiga capital imperial para participar do Fórum Econômico Internacional, o maior encontro empresarial russo e que atrai numerosas empresas ocidentais, apesar das sanções vigentes contra o Kremlin.
Mas o encontro econômico não parece ser o principal motivo da viagem de Tsipras, que nesta sexta-feira terá “uma reunião de trabalho” com o presidente russo, Vladimir Putin. Dois assuntos principais, a colaboração energética e, provavelmente, a participação da Grécia no banco de desenvolvimento dos BRICS, a convite do Kremlin, são os núcleos da agenda de trabalho de sua visita. Nas últimas semanas foram levantadas dúvidas sobre o traçado do gasoduto TurkStream depois da proposta eslovaca de contornar a Grécia prevendo um possível colapso econômico grego. Durante a cerimônia de assinatura, o ministro da Energia russo, Alexander Novak, afirmou que a gigante estatal Gazprom não será proprietária do trecho grego do gasoduto.
Na quinta-feira, Tsipras compareceu à reunião de Lafazanis, um dos superministros econômicos de seu Governo, com o diretor da Gazprom, Alexei Miller.
“Queremos desenvolver boas relações e teremos a oportunidade de assinar um acordo político entre a Rússia e a Grécia para apoiar um gasoduto em nosso território”, disse Lafazanis na quinta-feira aos jornalistas.
Como em sua última visita oficial a Moscou, em abril, muitos interpretam a presença de Tsipras na Rússia como uma clara tentativa de conseguir ajuda econômica quando as negociações com os parceiros estão por um fio. Nada mais distante da realidade, segundo o vice-ministro da Economia russo, Serguei Storchak. “Não houve pedidos de ajuda por parte da Grécia; não temos recursos (…) A visita do primeiro-ministro está, em minha opinião, orientada a fechar projetos conjuntos e desenvolver as relações comerciais, e não a solucionar seus problemas orçamentários”, disse Storchak.
Interessa ao Kremlin que a Grécia resolva seus problemas financeiros e normalize as relações com seus credores, já que não deseja absolutamente “uma escalada das tensões” entre Atenas e seus parceiros, ressaltou Storchak.
O estreitamento de relações entre Atenas e Moscou desde a chegada do Syriza ao poder depois das eleições de 25 de janeiro suscitou inquietação nas chancelarias ocidentais, especialmente pelas reiteradas reticências gregas a endurecer ou ampliar as sanções contra o Kremlin.
*http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/19/internacional/1434709247_831736.html

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