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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 11, 2010

“Idealistas”, à vanguarda!!!






A postura obscena e antiética da mídia

Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:

Infâmias, aleivosias, manipulações, sofismas, casuísmos, golpismo, “denuncismo” seletivo, “manchetismo” de ocasião [tão efêmeros quanto grandiloqüentes e estéreis]... A lista de ardis e procedimentos antiéticos utilizados pela grande mídia em nosso país nos dias que correm é vasta. Não resisto ao simbolismo da comparação: são como uma espécie de entulho moral, um monte de lixo de práticas escusas, sob o qual, “cavoucando” bem, encontraríamos aos tais [quiméricos?] princípios de pluralismo, da independência, do apartidarismo e do imparcialismo, que deveriam ser os fundamentos do exercício do jornalismo e ilustram, desgraçadamente como meros adornos, os Manuais de Redação.

Estes “anti-princípios” do jornalismo, listados acima, não se aprende [ainda não, ao menos que se saiba] nas Faculdades de Comunicação – mas esse delicado tema deveria, sim, ser tratado/debatido nas salas de aula. Aprende-se, isto sim, na realidade sombria e sufocante das grandes redações. É a decisiva, derradeira lição com que todo jovem jornalista se depara um dia e aprende: escrever com as próprias mãos a matéria, o artigo ou reportagem “contaminada”, “alicerçada” pela ideologia do chefe; esquadrinhada pela pauta, pelos ditames que emanam do “aquário”.

Melhor dizendo, apreendem essa lição, aqueles que são mais atentos, mais “espertos”, antes até, previamente, nos “rigorosos” e extenuantes processos seletivos (entrevistas, dinâmicas de grupo etc.), onde só os arrivistas passarão. [“ Eles passarão/ eu, passarinho” – ler Mário Quintana].

As redações de hoje estão tomadas por jovens arrivistas – aqueles que aceitam fazer o serviço sujo em troca de uma “sólida” carreira, rumo aos altos cargos e generosos salários, rumo ao “estrelato”. Ledo engano. Serão todos, um a um, descartados, no seu devido tempo, tal qual jornal velho, no primeiro “facão”, na primeira “necessidade” (ou melhor, na falta desta). Os “idealistas”, como são rotulados, estes já são expurgados logo no meio do caminho. É a inescapável sentença, que o outro poeta, o maior deles, já nos ensinara: “no meio do caminho tinha uma pedra”. Há sempre uma pedra no meio do caminho. A educação pela pedra.

Porém, alguns poucos “idealistas” recusam esse papel, o de assinar – não os textos, matérias e reportagens que, “idealista”, sempre sonhara escrever –, mas colocar o seu nome embaixo, subscrever um texto que reflete apenas os ditames, a “encomenda” daquele que manda. O mandonismo “cordato” dos novos coronéis. Alguns jornalistas, mais maduros, calejados e experientes na carreira, não sofrem esse singelo dilema, pois já trazem o patrão dentro de si.

Tenho verdadeira compaixão e, claro, como conseqüência da mais pura tradução semântica desse termo, tenho também irrestrita solidariedade e emotivo apreço por esses “idealistas”. Porém, reconheçamos, solidariedade e apreço não enchem barriga, não pagam contas. Então, que conselho lhes daria? Que caminho(s) lhes poderia sugerir para quando se colocarem diante de tal encruzilhada? Simples assim: o de não trair as suas convicções; o de não se prostituir. Demasiada simplificação?

Para alívio e graça desses “idealistas”, nos dias que correm, até como conseqüência/decorrência desse estado de coisas, os grandes veículos estão em franca decadência (não só moral, mas econômica – uma, muito provavelmente, conseqüência da outra).

Para alívio e graça desses “idealistas”, com o aumento exponencial/vertiginoso da chamada “Classe C”, a demanda pelo produto “comunicação” [ou “informação”, melhor dizendo] também crescerá exponencialmente. Os novos meios e veículos da chamada “blogosfera” também, paulatinamente, crescerão; irão se desenvolver, diversificar e certamente necessitarão, cada vez mais, da mão-de-obra de jornalistas ou de pessoas com vocação e talento para o exercício do jornalismo – jovens ou não. A saída, digo, a porta de entrada já não está necessariamente na grande mídia.

Devo-lhes aqui um desabafo em tom confessional com uma pitada considerável de assombro e vergonha: nunca, em tempo algum, nessas mais de duas décadas de militância na imprensa alternativa, jamais vi comportamento tão escancaradamente vil, obsceno, despudorado e antiético por parte da grande imprensa. E olhe que já testemunhei muita coisa. Nem nas eleições de 2006 viu-se algo semelhante!

Esse último episódio da repercussão, incessante e reiterada, em todos os meios (TV, rádio, jornais e revistas), dessa acusação [não comprovada, pois algo extemporânea, ilógica e estapafúrdia] de que a campanha da candidata do governo teria violado o sigilo fiscal de correligionários, de familiares e de pessoas próximas do candidato da oposição, é golpismo escancarado. Simples e cristalino assim.

E o que nos trará o livro do Amaury?

Deseja-se, nitidamente, conturbar o processo eleitoral e mudar, através de manipulação da verdade [ou seja, através de fatos inverídicos], os rumos da eleição, os rumos do país; desejam conspurcar a livre escolha da população, a democracia. E isso, sabemos todos, atende pelo nome de golpismo. Manchetes e mais manchetes, chamadas e mais chamadas são forjadas, diuturnamente para falar mal da candidata do governo e/ou bem do candidato da elite golpista. O que há de pior em nossas elites manifesta-se nesses “recalques”, revela-se através desses expedientes sórdidos dos quais deveriam, em verdade, se envergonhar. Mas não demonstram mínimo pudor ou constrangimento em expor suas vergonhas.

Muito oportuna, portanto, a representação impetrada pelo Movimento dos Sem Mídia (MSM), junto à Procuradoria Geral Eleitoral (PGE), denunciando a utilização de concessões públicas na prática de crime eleitoral. Ou, como está na ação “sobre possível atuação ilegal de órgãos de mídia no atual processo eleitoral”. Vivemos num Estado Democrático de Direito e devemos sempre recorrer às instituições para preservar os direitos inerentes à cidadania e evitar abusos. O MSM marca mais um gol – independente da representação ser ou não aceita. O que importa é a ação em si – e toda simbologia que traz consigo, tudo o que traduz.

Não podemos permitir que ganhem essa eleição “no grito”, “no tapetão”. Estejamos todos, pois, atentos e vigilantes. Mais golpes sujos virão por aí. O dogmatismo da infâmia não conhece limites. Mais pedras serão interpostas nessa nossa longa caminhada rumo a um novo Brasil. “Idealistas”, à vanguarda!!!
*AltamiroBorges

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