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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, setembro 29, 2010

Os judeus pacifistas

De Tel Aviv para a BBC Brasil


Irene


Irene

Barco Irene tem entre tripulantes um sobrevivente do holocausto

A Marinha israelense interceptou nesta terça-feira o barco Irene, tripulado pelo grupo Judeus por Justiça para os Palestinos, que pretendia chegar à Faixa de Gaza em um protesto contra o bloqueio à população palestina do território.

O barco, que zarpou de Chipre no domingo, deveria chegar nesta terça-feira às águas territoriais da Faixa de Gaza, mas foi conduzido pelas forças israelenses até o porto de Ashdod, ao norte do território palestino.

acordo com o porta-voz do Exército israelense, durante a invasão do barco "não houve qualquer ato de violência, nem por parte dos militares nem por parte dos viajantes que estavam a bordo".

Os dez viajantes e tripulantes foram presos e levados para serem interrogados pelas autoridades israelenses. Todos são judeus – cinco deles têm cidadania israelense e os outros cinco são europeus e americanos.

Os cinco israelenses foram entregues à policia local, e os viajantes de cidadania estrangeira serão interrogados pelo departamento de imigrantes ilegais do Ministério do Interior.

Parentes dos detidos se manifestaram no porto de Ashdod exigindo a libertação imediata dos viajantes do Irene.

De acordo com a advogada dos ativistas, Smadar Ben Natan, todos deverão ser libertados após o interrogatório.

Sobrevivente do Holocausto

Segundo os passageiros, um dos objetivos da ação era demonstrar que "não são todos os judeus do mundo que apoiam a política do governo de Israel em relação aos palestinos".

Richard Cooper, cidadão britânico que estava no barco, diz que o grupo realizou uma "ação simbólica e não violenta, de protesto e solidariedade".

A embarcação, de bandeira britânica, levava uma carga de próteses ortopédicas, redes de pesca, instrumentos musicais e brinquedos para a população de Gaza.

Um dos ativistas era o sobrevivente do Holocausto Reuven Moskovitz, de 82 anos.

"Como sobrevivente do Holocausto, o protesto contra a opressão em Gaza é uma missão sagrada para mim", disse ele.

Outro viajante é Rami Elhanan, cidadão israelense que perdeu sua filha, Smadar, em um atentado suicida cometido pelo Hamas em 1997, em Jerusalém.

"Queremos protestar contra o bloqueio desumano a 1,5 milhão de pessoas na Faixa de Gaza", disse Elhanan.

O barco Irene surpreendeu as autoridades israelenses, que, de acordo com a imprensa local, não estavam cientes dos planos do grupo.

De acordo com o governo israelense, o objetivo do bloqueio à Faixa de Gaza é impedir a entrada de armas que poderiam ser usadas pelo Hamas, que controla a região, para atacar Israel.
*GilsonSampaio

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