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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, setembro 27, 2010

A “ditadura” em que se vota a toda hora





Saíram os resultados das eleição na Venezuela, a 11ª em 12 anos desde que Hugo Chávez chegou, também eleito, ao poder. A imprensa internacional comemora o fato de que a oposição do Presidente conseguiu, finalmente, superar um terço das cadeiras no parlamento e, portanto, terá o poder de impedir reformas constitucionais, embora as reformas propostas por Chávez, até hoje, tenham sido objeto de referendo popular. Um deles, aliás, perdido pelo presidente e respeitado.
A votação correu em paz, não há questionamento sobre sua lisura e o Partido Socialista Unido conquistou 94 das 165 cadeiras, ou 57% dos assentos no Parlamento. Com os representantes indígenas e outro agrupamento de esquerda, são mais de 60% do parlamento.
Normalidade, democracia, voto. Tudo o que a mídia diz que não há por lá.
Pode-se gostar ou não de tudo ou de parte do que faz o Governo da Venezuela.
Mas já é hora de parar com o terrorismo que se faz aqui, apontando como uma ditadura um regime que, todo ano, chama seu povo às urnas.
E onde a oposição, curiosamente, vale-se da abstenção – muito alta, pois o voto não é obrigatório – para reduzir o peso do voto popular nos resultados.
*Tijolaço

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