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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, setembro 28, 2010

Jornal francês Liberation dedica suplemento especial ao Brasil.

“Os rostos do novo Brasil”

Jornal francês Liberation dedica suplemento especial ao Brasil. Manchete da capa, “Lula, o Brasil reinventado”


Rostos do Brasil no Liberation
Libe

(AFP)

PARIS — “Os rostos do novo Brasil” é o título de um suplemento especial que chega às bancas nesta terça-feira no jornal francês Liberation, que ilustra sua primeira página com uma foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cinco dias das eleições gerais brasileiras.
“Lula, o Brasil reinventado”, afirma a manchete do diário francês, que na margem superior traz as cores da bandeira brasileira.
Através de 10 figuras conhecidas e de cidadãos anônimos, o suplemento de 16 páginas apresenta “os rostos do novo Brasil”, um país que Lula “transformou profundamente”.
Assim, naturalmente, o primeiro artigo fala sobre a vida e a trajetória sindical e política de Lula, ex-operário metalúrgico que no dia 1º de janeiro de 2003 se tornou o primeiro presidente de esquerda do Brasil – que, impedido constitucionalmente de disputar um terceiro mandato, tenta eleger sua sucessora, Dilma Rousseff.
“O Brasil foi promovido ao status de grande potência emergente atacando a miséria, mas o caminho ainda é longo na direção de um país igualitário”, afirma um dos artigos, antes de fazer um resumo da atual situação em várias esferas.
“A educação e a saúde pública precisam de recursos, a violência e o racismo perduram, as minorias têm dificuldades para reconhecer seus direitos e a televisão continua sendo a principal fonte de informação dos mais desfavorecidos”, aponta.
Fabíola Derani, professora de história em uma escola secundária pública; Gabriela Leite, ex-prostituta e candidata a deputada pelo Partido Verde; Priscilla de Oliveira Azevedo, policial em uma favela, e Raí Souza Vieira de Oliveira, ex-jogador de futebol, contam suas histórias de vida.
“Ele tem uma voz bonita, de rádio. Eu falo como todo mundo, o que é importante em um país onde as diversidades sociais são tão grandes”, diz a apresentadora Fátima Bernardes, que comanda a bancada do principal noticiário da TV Globo ao lado do marido, William Bonner.
As famosas sandálias Havaianas, uma foto do célebre estádio carioca do Maracanã, uma referência ao etanol, símbolo do “preço da independência energética”, e Nossa Senhora de Aparecida, santa padroeira do Brasil, encerram a publicação especial, que não foi a única nestas semanas na França.
O jornal francês Le Monde e a revista Los Inrockuptibles também dedicaram números especiais ao Brasil.
*Luis Favre

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