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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 12, 2010

São Paulo, ascender socialmente é . Contrate seus próprios seguranças, seu próprio atendimento médico e sua própria educação






São Paulo: para quem pode

Um dos argumentos mais frequentes que o eleitor da dupla Serra & Alckmin consegue formular para legitimar o assalto que sofre nas rodovias de São Paulo, é que, ao pagar o pedágio para as empresas que exploram a concessão abusivamente, recebe rodovias de “primeiro mundo”, superiores às do resto do país. Acrescenta, orgulhoso, que o pacote dá direito a polícia rodoviária e socorro em caso de necessidade…
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que mais do que qualquer outro povo do planeta, o paulista tem uma adoração sagrada pelo seu automóvel. Talvez seja em decorrência das várias horas diárias em que convivem – ele e seu “possante” – nos congestionamentos sempre recordistas do nosso trânsito. O automóvel é como um filho. Se o seu filho ficasse doente e precisasse de um tratamento caro, você certamente faria qualquer coisa por ele. Venderia tudo que tem para salvá-lo. Muitos paulistas fariam o mesmo por seu automóvel. Xingue suas mães, humilhe-os, engane-os, transe com suas mulheres – mas não lhes arranhe o carro! Como já vimos, chegam a matarem-se uns aos outros em brigas de trânsito. Sendo assim, pagar pedágio sem questionar, parece normal para essa gente. Até porque, toda despesa que o cidadão tem com seu automóvel lhe dá a sensação de estar fazendo um investimento no seu patrimônio.
Construir e manter rodovias em perfeitas condições (incluindo polícia rodoviária e socorro em caso de acidentes) é obrigação do governo do estado. Não deveria custar nada. Pois estes serviços já são pagos através dos impostos recolhidos. Assim como a saúde, segurança, educação, saneamento, transporte, limpeza urbana, etc. Mas na prática, o paulista paga dois e leva um. E muitos quase sentem prazer em serem explorados pelo esquema privatista dos seguidos governos do PSDB. Imaginam-se vivendo em algum “paraíso” europeu repleto do que há de mais moderno em matéria de desenvolvimento urbano e civilidade. O paulista engole taxas e arrota a arrogância de se considerar VIP.
Então qual é o dever do estado? Para onde vão os R$ 125 bilhões previstos no orçamento de 2010 – se o governo terceiriza os serviços e as concessionárias cobram taxas extorsivas do contribuinte? Em 2009 o governo do PSDB de São Paulo chegou a aplicar o dinheiro do seu caixa. Não, não aplicou em benefícios à população, e sim, no mercado financeiro. Porque apostava (leia-se torcia) que a “marolinha” viraria um “tsunami” e queria estar preparado para o “pior”…
Além do governo tucano terceirizar suas obrigações – muitas vezes através de licitações irregulares para consórcios mafiosos, “parceiros de longa data” – a cada ano que passa a cidade recebe serviços piorados. Principalmente quando se trata de atender a população de baixa renda. Um exemplo disso foi o caso das merendas escolares produzidas nas cozinhas imundas da empresa contratada pela gestão Serra/Kassab que rendeu sua interdição. O mais surreal naquele episódio, foi a instituição de prêmio para as cozinheiras que conseguissem reduzir os custos suprimindo carnes e outras proteínas das refeições!
Enquanto os cidadãos motorizados passam 3 horas diárias dentro dos seus automóveis em congestionamentos recordistas para ir e vir ao trabalho, os pobres são enlatados no transporte público que também lhes consome, em média, 3 horas diárias. Nisso, ao menos o governo do PSDB é justo: ao priorizar o transporte individual, retira 3 horas de convívio familiar de todos por igual. Democraticamente.
Em São Paulo, ascender socialmente é entrar na onda da terceirização. Contrate seus próprios seguranças, seu próprio atendimento médico e sua própria educação para seus filhos. Pague taxas e pedágios para ter algum “extra” VIP. Depois de 16 anos de PSDB, o paulista simplesmente não conhece outra maneira de viver. Entendem que usufruir do status de viver no estado mais desenvolvido do país, “é para quem pode e não para quem quer”.
Para o paulista, que dá o sangue para manter-se VIP, é igualmente importante manter o estado sob controle do PSDB. Sente que essa ascendência social que se dá no resto do país é uma ameaça cada vez mais perigosa para o seus privilégios. Afinal, o que seria dos ricos se não fossem os miseráveis?
Em São Paulo, só os ricos são paulistas.
Roni Chira
*comtextolivre

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