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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 07, 2012

A chance de iluminar os porões

Silvaldo, com sua tristemente famosa foto de Vladimir Herzog
A declaração do ex-fotógrafo policial Silvaldo Leung Viera, levado por militares para fotografar o falso suicídio de Vladimir Herzog, de que está disposto a contar   os detalhes deste e de outros episódios em que testemunhou torturas e assassinatos políticos, como revela hoje a Folha. mostra o quanto é urgente que a presidenta Dilma instale a Comissão da Verdade.
Ele próprio diz que ” a história vai se perdendo, há muitos episódios que não são conhecidos, acho que uns 90% dos fatos ainda não se tornaram públicos”.
Já se vão dois anos desde que Lula teve a iniciativa de propor a comissão e o assunto ficou preso no Congresso.
O povo brasileiro tem o direito de conhecer os fatos. Independente de serem responsabilizados judicialmente os seus autores, é preciso que esta escuridão desapareça da vida política.
Por mais que se deseje uma “agenda positiva”, ações de governo que impulsionem mais este país pra o desenvolvimento com justiça social, não dá para adiar mais o que já deveria ter ocorrido há duas décadas, com a redemocratização do Brasil.
Senão,o tempo é quem matará o direito à memória.
*Tijolaço

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