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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Crise na Grégia vem de gregos preguiçosos?

Os gregos, retratados como "escuros" e indolentes, pela direita austríaca
Publiquei, há pouco, no blog Projeto Nacional:
É frequente vermos na imprensa os comentários de que é crise grega é resultado da “gastança” feita pelos gregos, que teriam se acostumado a exigir muito e trabalhar pouco.
Um partido austríaco de direita chegou a espalhar out-doors racistas retratando os gregos como entregues ao descanso perdulário, que a gente reproduz no post.
Hoje,  artigo publicado pelo jornal romeno Criticatac mostra que, apesar de o preconceito contra os gregos estar se espalhando pela Europa, mostra, com números, que o motivo da crise pode ser tudo, menos isso.
Os gregos, segundo os números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OECD, trabalham em média 2090 horas por ano, 48,6% mais que as 1.419 horas anualmente trabalhadas pelos alemães e  35,7% mais que as 1554 horas anuais do trabalhador francês médio.
É irônico que, na longa lista de países que compõe a estatística da OECD, os gregos só percam – e de pouco – para a maior jornada média anual apurada: a dos sul-coreanos,  com 2.193 horas, 4% a mais ou, dividindo-se por uma média de 230 dias úteis por ano, 22 minutos diários de trabalho em relação aos gregos.
Não é exato fazer comparações com o Brasil, para não mudar os critérios de apuração, sobretudo porque é difícil equacionar a questão do emprego rural e do informal neste cálculo, mas andamos por volta de 2.000 horas  anuais, embora este número venha se reduzindo em razão da formalização do emprego. Ainda assim, segundo dados do Censo de 2010, 28% dos brasileiros trabalhavam mais de nove horas por dia.
De qualquer forma, há algo positivo nesta história deprimente.
É o fato de vermos como o “mito da indolência”, tantas vezes usados contra nós, brasileiros, encobre desde os interesses de dominação, passando pelo racismo e , sobretudo, pelo encobrimento de sistemas econômicos injustos e empobrecedores, generosos com o capital e mesquinhos com o trabalho.
Ou, como brincava um amigo, nos anos 80  , dando um sentido amargamente irônico ao conceito marxista de “mais -valia”: “meu irmão, a mais-valia aqui é diferente: é que para ganhar esse salário-mínimo, mais valia ficar à toa”
*Tijolaço

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