Filmes: "A Dama de Ferro"
Filme pretende pintar um retrato humano de Margareth Tatcher, mulher que governou seu país durante 11 anos com mão de ferro e crueldade
- por André Lux, crítico-spam
A ex-primeira ministra da Inglaterra, Margareth Tatcher, é uma espécie de musa máxima dos neoliberais, já que foi ela, em parceria com o presidente dos EUA na época Ronald Reagan, que implantou em seu país essa doutrina econômica que foi festejada pelas elites econômicas mundiais.
Como sabemos hoje, o neoliberalismo é a expressão máxima do capitalismo selvagem, na qual predominam a privatização (leia-se: doação) do patrimônio público, arrochos salariais, corte de gastos do governo com educação, saúde e qualquer outra coisa que cheira a “ser humano”, desregulamentação do mercado e perseguição brutal a sindicatos e organizações trabalhistas. O resultado dessa política desumana nós todos podemos sentir hoje na crise que assola o mundo e é resultado direto dessa doutrina que foi disseminada e implantada no resto do mundo por políticos de direita (inclusive no Brasil, durante os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso).
“A Dama de Ferro” pretende pintar um retrato humano dessa mulher que governou seu país durante 11 anos com mão de ferro e crueldade nunca antes vistas em uma sociedade democrática, ao ponto de seu próprio partido (Conservador) se voltar contra ela e retirá-la do governo numa virada de mesa engendrada por seus ex-aliados.
Mery Streep tem uma atuação que está sendo bastante elogiada e concorre novamente ao prêmio Oscar da indústria cultural estadunidense, porém na minha opinião não é tudo isso. Primeiro porque é uma atuação de fora para dentro, toda baseada em efeitos de maquiagem e na cópia dos tiques e sotaques de Tatcher. Segundo, porque o roteiro não lhe dá grandes cenas e concentra-se quase todo nos últimos anos da musa do neoliberalismo, quando já sofria de demência em estado avançado, ao ponto de passar a maior parte do tempo conversando com o “fantasma” do marido morto.
Por meio de esparsos flashbacks, o filme vai mostrando sua trajetória, desde a criação familiar (seu pai pobre porém conservador - vejam que paradoxo! - teve importância fundamental na formação do caráter de Tatcher, diz o roteiro) até sua primeira vitória para o parlamento. Nesse ponto “A Dama de Ferro” resvala em uma certa ingenuidade, pintando Tatcher como uma mulher determinada que venceu o preconceito e o machismo dos homens de seu partido impondo sua visão de mundo e conquistando suas vitórias políticas.
Na vida real não me parece que isso tenha ocorrido dessa forma, pois a elite econômica que dominava a política na Inglaterra pode ter muitos defeitos, mas de bobos não tem nada. Assim, é muito mais provável que tenham enxergado na tola e crédula Tatcher uma maneira de seduzir uma parte do eleitorado que era arredio à nata da sociedade, na figura daquela mulher que, embora oriunda das classes inferiores, defendia com unhas e dentes os dogmas ideológicos que serviam para manter os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres (que é o objetivo máximo do neoliberalismo).
Piada pronta: Tatcher recebe a "medalha presidencial da liberdade" das mãos do facínora George Bush. |
É interessante também o esforço que o filme faz no sentido de “humanizar” o personagem, inclusive mostrando que os neoliberais também podem amar. Só que isso acaba sendo descontruído durante a própria projeção, já que fica óbvio que Tatcher casou por interesse com um rico industrial para poder ser aceita pelas elites de seu partido. Ou seja, o que essa mulher amava mesmo era o dinheiro, o poder e o status (não necessariamente nessa ordem), tanto é que depois praticamente abandonou a família para perseguir obsessivamente seus ideais políticos (ao ponto de ser rejeitada pelo filho).
Nesse ponto ao menos o filme tem sucesso, pois mostra de maneira clara que até uma pessoa cruel, fria e calculista como a Sra. Tatcher é também apenas um ser humano e que, no caso dela, só vai sentir o peso de suas ações monstruosas no final da vida, embora isso não a faça mudar de opinião em relação às suas convicções. “O problema do mundo é que as pessoas sentem demais e pensam de menos”, vaticina a idosa Tatcher. Não, o problema do mundo são pessoas como a senhora.
Deus nos livre de ser governado por gente assim.
*Tudoemcima
Nenhum comentário:
Postar um comentário