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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 11, 2012

A involução irreversível da Europa

 



 

Por robertog
Direitos sociais e trabalhistas duramente conquistados desde o início do século XX, especialmente depois do final do salazarismo e da ditadura militar grega estão sendo tragados a canetada. Estamos assistindo uma gigantesca regressão social. E agora na Espanha também. Seria cômico se não fosse trágico: o chamado "bom senso dos mercados financeiros" acaba prevalecendo justamente para "curar as economias" da doença que a própria ciranda financeira trouxe para as sociedades.
Por trás da fumaça da crítica das aposentadorias precoces e da evasão fiscal que realmente existem na Grécia e das "pontes" de feriados portugueses vai passando a precarização quase completa do trabalho e a reversão dos direitos a aposentadoria e mesmo à saúde e escolarização das camadas menos favorecidas daqueles países.
E além da desgraça intrínseca da regressão ao estado liberal mais tradicional temos a constatação cada vez mais óbvia que as economias dos países destituídos se tornam anêmicas e caem em estagnação de longo prazo. A grande diferença é que a paulada social de agora é na cabeça de uma população mais instruída e acostumada com um nível de segurança e bem-estar sem precedentes. A pergunta é como ela irá reagir no médio e longo prazo. No final do XIX e início do século XX enormes contingentes desses países imigraram para as Américas e outros espaços mais promissores. Hoje em dia não há mais espaços vazios.

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