O NARCOTRÁFICO JÁ É O MAIOR NEGÓCIO IMPERIALISTA DO MUNDO
Sanguessugado do Burgos
Jonas Potiguar
O
total da produção mundial de bens hoje em todo o mundo alcança a cifra
astronômica de 25 trilhões de dólares (por volta de 300 vezes a produção
anual do Brasil). Uma parte importante dessa produção é realizada pelos
trabalhadores das grandes empresas transnacionais, que empregam 40
milhões de trabalhadores. A produção das 500 maiores empresas do mundo,
produzindo em todos os continentes, em 1998, chegou a US$ 11 trilhões de
dólares. Seus lucros chegaram 440 bilhões de dólares. Os setores de
ponta desta produção é a indústria automobilística (em torno de 1
trilhão de dólares), petrolífera (900 bilhões) e eletro-eletrônicos (750
bilhões) em dados da revista Fortune de 1994.
A
indústria do narcotráfico movimenta entre 750 bilhões de dólares a US$ 1
trilhão, portanto se equiparando a estes setores de ponta. Porém, seus
lucros são muito superiores aos granjeados no conjunto destes três
setores acima mencionados. Isto é permitido pela grande diferença de
preço da matéria prima (folha de coca) que é vendida a US$ 2,5 por kg na
Bolívia ou na Colômbia, depois é transformada em cocaína passa a valer
US$ 3.000 na Colômbia, chegando em São Paulo a US$ 10.000 e alcançando o
preço estratosférico de US$ 40.000 dólares no mercado norte-americano e
US$100.000 no Japão. O mesmo se pode dizer da heroína e da maconha. É o
negócio mais rentável do mundo: alcança lucros de mais de 3.000% e o
custo de produção alcança somente 0,5% e o de distribuição 3% do valor
do produto. Em 1992, os lucros com tráfico de drogas estavam em torno de
300 bilhões de dólares, quase 6 vezes o lucro alcançado pelas
indústrias petrolífera, automobilística e de equipamentos
eletro-eletrônicos juntas.
A globalização do narcotráfico
As
máfias, a partir do final dos anos 80, se globalizam, buscando uma
associação estreita entre as grandes gangues em nível mundial. Os
cartéis colombianos, que alimentam todos os outros cartéis desse ramo e
faturam por volta de US$200 bilhões anuais, as máfias orientais, que
dominavam a produção de papoula (matéria prima da heroína e do ópio, no
Triângulo Dourado formado por Birmânia, Tailândia e Laos), as máfias
italianas com suas irmãs americanas, a Yakuza japonesa, as máfias
chinesas, assim como as máfias africanas e as novas, porém fortes,
máfias russas, todas se relacionam.
É um império
subterrâneo, com ramificações em mais de trinta países e penetra em
todas as esferas de poder estatal, empresariais e sociais. Emprega
centenas de milhares de membros organizados e alguns milhões de
trabalhadores na produção da matéria prima (folha de coca ou papoula).
O
negocio inclui tráfico de drogas, vendas de armas, lavagem de dinheiro
do narcotráfico, prostituição adulta e infantil, tráfico de órgãos
humanos, suborno, extorsão, controle de área inteiras utilizando métodos
violentos de terror com uma estrutura paramilitar.
Segundo
dados da revista Newsweek o capital acumulado a cada ano por todas as
máfias do mundo é estimado em US$ 3 trilhões, ou seja, mais de 10% de
toda produção mundial.
Se prossegue este ritmo
vertiginoso de crescimento deste negócio, os cartéis e grupos econômicos
que dominem este setor serão a principal fonte de poder econômico do
planeta. Por isso, discutir o narcotráfico significa, necessariamente,
discutir quem controla regiões inteiras do planeta onde é cultivada a
matéria-prima e onde são instalados os laboratórios para produzir
drogas.
A "guerra ao narcotráfico" é uma disputa
por territórios, entre governos e máfias narcotraficantes. É um negócio
como outro qualquer, com a diferença que sua proibição faz oscilar os
preços de forma espetacular.
Neoliberalismo e narcotráfico
Ainda
que exista há décadas, só agora, nos anos 90, com o neoliberalismo, o
narcotráfico se desenvolveu e adquiriu peso e importância mundiais. É
uma das atividades econômicas mais dinâmicas e rentáveis. O
neoliberalismo foi a esteira que permitiu o verdadeiro salto de um
negócio marginal para o maior de todos os negócios. A queda dos preços
das matérias primas nos países pobres criou as condições para que partes
importantes do campesinato da Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai,
Brasil, etc. se dedicassem a produção da matéria prima para a fabricação
da cocaína, da heroína e da maconha. Ao mesmo tempo, abriu espaço para
que setores burgueses desses países se reorientassem para este negócio,
em franca ascensão, enquanto os negócios "legais" encontram-se em
recessão.
A abertura indiscriminada dos
mercados, a desregulamentação financeira internacional, abriu as
comportas do sistema financeiro mundial para uma enxurrada de
narco-dólares que são lavados em paraísos financeiros (Caribe) ou no
Uruguai, Argentina, Brasil, Suíça, EUA, Israel, etc. Grandes bancos
aceitam de bom grado o que se estima em US$ 1 trilhão de narco-dólares
que são lavados anualmente no sistema financeiro mundial. Este dinheiro
cumpre um papel importante na especulação mundial, no crescimento
artificial das bolsas de valores, assim como é recebido com "fogos de
artifício" pelos governos neoliberais capachos.
Lucros escalonados
Como
qualquer negócio imperialista, há diversas fases desta indústria. A
parte do leão fica com os países imperialistas que recolhem a maior
parte dos lucros deste negócio, enquanto que para os países "produtores
de matérias primas", do "terceiro mundo", ficam as menores fatias do
bolo e mesmo assim nas mãos dos grandes traficantes.
O
"negócio" começa nos países semi-coloniais que entram com a produção
(Colômbia, Peru e Bolívia no caso da cocaína ou Afeganistão no caso da
heroína, por exemplo) feita por milhões de camponeses que vendem a
matéria prima por poucos dólares o quilo. Daí a folha de coca passa para
as mãos dos narcotraficantes "tupiniquins" que processam a matéria
prima, produzindo a cocaína ou a heroína, vendendo-as já por alguns
milhares de dólares. Estas gangues agarram a primeira parte dos grandes
lucros do negócio, seu enriquecimento é exorbitante e está demonstrada
sua relação com os partidos políticos tradicionais, com as cúpulas
dominantes destes países, estendendo seu poder de corrupção a todas as
atividades econômicas, políticas, sociais.
A
terceira etapa do processo está nas mãos dos distribuidores nos grandes
centros de consumo (principalmente EUA, que consome 240 toneladas de
cocaína por ano, e Europa), em geral controlado pelas máfias dos países
imperialistas (nunca denunciadas, nem perseguidas) e ficam com a maior
parte dos lucros do negócio, dividido depois com os grandes bancos
internacionais que fazem a lavagem dos narco-dólares, transformando-o em
capital financeiro, principalmente especulativo, que vai voar pelo
mundo afora em prol da "globalização". Estima-se que os EUA reciclam US$
500 bilhões por ano do narcotráfico.
O grosso
dos lucros em todos os níveis, são embolsados pelos setores da burguesia
(traficante e não traficante) dos EUA. A economia norte-americana vende
parte importante dos compostos químicos, recebe US$ 240 bilhões anuais
por isso, uma parte dos quais se destina a repor capital no mesmo ramo
da produção de drogas e outra parte é investida em outros setores da
economia ou vai para os bancos. Isto transforma os EUA no país onde a
narco-economia tem uma importância vital, ocupa aproximadamente 5% do
PIB, se convertendo no setor mais importante da economia
norte-americana.
As veias do negócio na América Latina
A
América Latina é o principal fornecedor de cocaína e maconha do mundo.
Os cartéis latino-americanos enviam ao mundo 270 toneladas de cocaína
por ano e já detêm 15% da produção de heroína, produto tradicionalmente
elaborado no sudeste asiático. Hoje, o Afeganistão controla a maior
parte da produção mundial. A coca ocupa uma área de 200 mil hectares
espalhados em milhares de propriedades na Colômbia, Peru e Bolívia e
emprega 5 milhões de pessoas. Calcula-se que na Bolívia entram por ano
US$ 600 milhões relativos ao comércio da coca, no Perú US$ 650 milhões e
na Colômbia US$ 1,7 bilhão, ainda que seja impossível conseguir cifras
exatas.
Na Colômbia, 70% das terras cultiváveis
estão agora nas mãos dos narcotraficantes. Segundo dados da DEA (Agência
de Repressão às Drogas do governo norte-americano) para 1995, as
entradas, produto das exportações de cocaína da Colômbia, alcançava os
10% do PIB, três vezes mais que as vendas da Ecopetrol, de longe a maior
empresa do país. O narcotráfico e seus capitais penetraram em todas as
atividades econômicas básicas e fundamentais do país, como bancos,
agricultura, construção civil e indústria e faturam uns US$ 200 bilhões,
segundo dados do FMI.
Na Bolívia, igualmente, o
valor das exportações relacionadas com a cocaína supera todos os demais
ramos econômicos. No Peru, a produção de coca chegou a alcançar 8% do
PIB do país, empregando 7% da população economicamente ativa. Houve uma
queda importante nestes índices, devido à queda dos preços da coca,
saturação do mercado mundial, forte superprodução. Depois de ser o
primeiro produtor mundial de folhas de coca, o Peru - tudo indica que -
vai tornar-se um forte exportador de heroína, pois já estão se
produzindo papoulas em terras muito propícias para este cultivo.
No
Paraguai, o tráfico de drogas, carros e armas é o setor mais dinâmico
da economia e já penetrou em todas as instituições estatais, policiais,
políticas, etc. O México é um grande produtor de maconha, cujo monopólio
é assegurado pelo próprio exército do país, que foi direcionado para
reprimir o narcotráfico e terminou sendo comprado. Argentina e Uruguai,
principalmente este último, têm se convertido em importantes bases para
"lavar" narco-dólares.
Em todos estes países
pode-se encontrar altas esferas do poder metidos até o pescoço no
narcotráfico, desde altos oficiais, incluindo as agências nacionais
"antidroga" na Colômbia, Paraguai, Peru, México, Bolívia. Até políticos
de altas esferas, como Oviedo no Paraguai, Menem, o irmão do
ex-presidente Salinas, no México, foram flagrados em escândalos. No
Brasil, agora está vindo à luz informações que comprometem políticos
burgueses, setores inteiros das polícias, juizes, empresários e
banqueiros, corrompidos pelos cartéis do narcotráfico.
O imperialismo norte-americano quer controlar todo o negócio e...
A
"guerra contra o narcotráfico" promovida pelos EUA tem um aspecto
econômico, político e militar. O aspecto econômico busca impedir que
surja uma forte burguesia nos países semi-coloniais apoiada neste grande
negócio, já que isto permitiria o controle de um negócio mundial que
alcança cifras em torno de trilhões de dólares. Daí sua política de
repressão seletiva, que ataca os pequenos produtores, com a destruição
das plantações de coca na Bolívia, Peru e Colômbia e com os
consumidores, sem atacar os grandes atravessadores que são os que detém o
maiores no processo, principalmente as máfias americanas e os grandes
bancos que recolhem o grosso dos lucros do narcotráfico.
É
uma repressão seletiva porque busca destruir os grandes cartéis somente
quando estes assumem proporções gigantescas, como os cartéis de Cali e
Medellín que estavam constituindo grandes oligopólios mundiais por fora
do controle americano. Por isso, foram desbaratados e em seu lugar
surgiram dezenas de cartéis que continuam o trabalho inclusive
produzindo e distribuindo mais cocaína que os dois cartéis juntos. A
burguesia destes países produtores (Colômbia, Peru e Bolívia) se dividem
alinhado-se ou não com o imperialismo americano pelo controle e pela
apropriação da maior quantidade de lucro que gera para incluir no
circuito "legal" do capitalismo.
Desta forma, o
imperialismo, acossado pela crise econômica, busca controlar todos os
ramos econômicos dos países semi-coloniais (vide privatizações e
abertura dos mercados) e a "guerra contra o narcotráfico" é somente a
cobertura para uma luta sem quartel para controlar e garantir que os
volumosos lucros desta grande indústria seja açambarcado por suas
empresas, bancos, e por setores aliados nos países atrasados e não
potencialize o surgimento de uma forte burguesia lúmpen que rivalize com
o imperialismo ou mesmo possa enfrentá-los ainda que
circunstancialmente.
Ademais, desbaratando os
grandes cartéis, utiliza o dito "dividir para reinar", já que pode
infiltrar agentes da DEA e da CIA, informantes e pilantras da pior
espécie dentro das organizações mantendo, perfeitamente, um controle
sobre todo o negócio e "explodindo" os setores que não estão totalmente
"sob controle". Para isso contam com a ajuda da subserviente burguesia
latino-americana mais realista que o rei e totalmente subordinada aos
interesses do Império do Norte.
É do
conhecimento de todos os escândalos que relacionam os americanos em
tráfico de drogas. Por exemplo, a esposa do coronel Hiett, o chefe dos
militares destacados para seguir na Colômbia o combate às drogas foi
detida por traficar cocaína usando os canais diplomáticos. O comércio é
tão gigantesco que uma rede dentro da American Airlines, usava as
facilidades de acesso a aeroportos para oferecer cocaína nas maiores
capitais do Tio Sam.
Porém, estes dois exemplos
são só a expressão de uma vasta rede clandestina montada pela CIA, DEA e
outros órgãos de inteligência americana. Em janeiro de 1980 apareceu
morto um
banqueiro australiano, F. Nugan,
co-proprietário de uma instituição (NUGAN HAND INC) com sucursais nos 5
continentes. As atividades da Nugan: negócios com pessoas com conexões
provadas com drogas; intensa atividade bancária na Florida ligada a
narcóticos, tráfico de armas. Existem provas da conexão desta "empresa"
com o FBI e a CIA. O quadro de acionistas e pessoas que tiveram relação
com o banco vão desde Abe Saffron, personagem fundamental do crime
organizado na Austrália, Terry Clarck, chefe do sindicato exportador de
opiáceos chamado Mr. Ásia. Capos da Cosa Nostra americana que se
conectavam com o Banco Nugan via Sir Peter Abeles, igualmente sir Peter
Strasser, equivalente de Abeles ao nível de petróleos, Rupert Murdoch,
Theodore Shackley, ex-diretor de operações clandestinas da CIA, Richard
Secord, chefe de vendas de equipamento militar no Pentágono de 1978 a
1984, demitido depois de fraudar o exército americano em 8 milhões de
dólares. Através de Oliver North - em nome do Conselho de Segurança
Nacional, Secord foi encarregado de organizar a conexão Irã-Contras. Os
administradores e conselheiros do banco eram na sua maioria militares de
alta patente, ligados ao Conselho de Segurança Nacional dos EUA, chefes
na guerra do Vietnã, ex-diretores da CIA.
Esta
grande rede controlava o tráfico de heroína e venda de armas em acordos
com os grandes cartéis, "sócios na luta contra o comunismo". Quando este
banco vai à falência, surge imediatamente um substituto, o BCCI, que
passa a ser parte desta rede clandestina e foi via ele que processou a
negociata do escândalo Irã-Contras onde o governo financiou os contras
nicaraguenses com a venda ilegal de armas ao Irã e com o tráfico de
entorpecentes. O BCCI tinha uma rede secreta composta por 1.500
funcionários dedicados ao tráfico de armas, drogas e divisas,
prostituição, seqüestros, assassinatos, etc.
Na
verdade, o pretenso combate ao tráfico é a fachada para impor um
controle econômico e político na região, já que sequer consegue
efetivamente o que se propõe. O tráfico de drogas do Panamá aumentou
após a intervenção imperialista contra Noriega. O governo do
ex-presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, grande amigo dos EUA,
tinha uma de suas bases de sustentação no tráfico e seu próprio irmão
Raúl era uma das figuras centrais do contrabando e do tráfico.
Na
Colômbia, os narcotraficantes mais poderosos apóiam os paramilitares e
tiveram participação direta nas execuções de líderes sindicais,
ativistas e jornalistas. Esses crimes permanecem impunes, com a
conivência das mesmas FFAA que os EUA orientam e enchem de dólares.
O
que preocupa o imperialismo é que os países exportadores de drogas se
beneficiem economicamente. Por isso dirige seus ataques à periferia: as
plantações, os centros de produção e principalmente a "lavagem de
dólares" na América Latina. Porém, não combate estas atividades com a
mesma intensidade e força em seu próprio território.
O
imperialismo sabe, pela sua própria história, que o surgimento destes
ramos "ilegais" é uma forma de acumulação primitiva do capital que pode
permitir o surgimento de grandes capitais financeiros, como foi no seu
tempo o tráfico de escravos, a colonização da América, os piratas a
serviço da rainha da Inglaterra ou mesmo, mais recentemente, na década
de vinte nos EUA, quando a proibição do álcool levou à formação de
impérios clandestinos que depois transformaram-se em grandes negócios.
...recolonizar a América Latina
O
aspecto político e militar da luta "contra o narcotráfico" é que a
partir do final dos anos 80 o imperialismo norte americano utiliza o
"perigo do narcotráfico" para assim justificar sua crescente intervenção
nas forças de segurança dos países latino-americanos, como na Colômbia,
Bolívia, Peru, Equador, Panamá, Brasil, Paraguai, México, etc.
Por
trás dessa máscara se insinua a penetração de militares
norte-americanos em toda América Latina, cuja ponta de lança para a
intervenção começa na Colômbia, porém que está desenvolvendo seus
tentáculos em todos os países da área. O Narcotráfico é utilizado para
justificar intervenções abertas e descaradas, retrocedendo a formas
coloniais que vai desde invasões, como foi o caso do Panamá, até
treinamento de FFAA com "assessores" militares como na Colômbia,
Bolívia, Peru, Paraguai, até ceder partes partes do território para que
sejam patrulhados por ianques. O imperialismo norte-americano relocaliza
dezenas de milhares de militares que estavam estacionados no Panamá,
construindo bases e acordos militares com a maioria dos países da área,
preparando-se para embates na luta contra a liberação nacional e os
grandes enfrentamentos que estão por dar-se na área, como prenunciam
Colômbia, Equador e outros.
Fonte: pampalivre.info
*Gilsonsampaio
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