Sem CPI da Privataria e sem Lei da Mídia, mas com Kassab
Vá lá que, em nome do pragmatismo político, a roubalheira praticada no
Brasil durante a era Fernando Henrique Cardoso, roubalheira essa
imortalizada pela obra demolidora do jornalista Amaury Ribeiro Jr. A
Privataria Tucana, ou o projeto de regulação da comunicação eletrônica
no Brasil, a assim chamada Lei da Mídia, sejam ignoradas,
respectivamente, pela cúpula do PT e pelo governo federal.
Estamos vivenciando uma era política que o PSDB e a direita midiática
haviam anunciado há mais ou menos uma década e meia, quando decretaram o
“fim da história”. Só que, à diferença da era tucana, hoje não há
propaganda do fim das ideologias em nome do que seria “pragmatismo
político-econômico” – a prática é que exibe uma situação em que o
impensável se converte em natural com uma singeleza e uma naturalidade
assustadoras.
O próprio Amaury, o Paulo Henrique Amorim – que sabe sempre das coisas –
e mais as torcidas do Flamengo e do Corinthians unificadas já descreem
da instalação da CPI pelo senhor deputado Marco Maia.
Já a Lei da Mídia, contam as más línguas que só sai se o projeto tiver a
rubrica do Otarinho, as dos barões do café e a do ítalo-argentino
instalados à Marginal do Tietê, bem como as dos irmãos do Jardim
Botânico. Ou seja: não sai se não for para aprofundar a concentração da
propriedade de meios de comunicação no Brasil.
Mas o que não dá para entender é a cada vez mais repetida – e cada vez
menos negada –suposta aliança do PT de São Paulo com o prefeito Gilberto
Kassab, aliança cuja origem no partido a mídia atribui ao ex-presidente
Lula – ainda que este, ao que se saiba, esteja ocupado com coisas mais
importantes para si, tais como cuidar da própria saúde – e ao
pré-candidato a prefeito Fernando Haddad.
Dirão que o PT se aliou a José Sarney e a Paulo Maluf, em nível federal,
e que, portanto, aliar-se a Kassab em nível municipal não seria nada
demais. Todavia, essas são alianças com o PP e o PMDB, quando, em São
Paulo, o que haveria seria uma aliança de cunho personalista com o muito
mal avaliado prefeito da cidade, pois não se fala em aliança com o PSD,
mas com o seu suposto idealizador.
O PT paulistano, portanto, perdeu para Kassab em 2008, quando ele era
popular, e agora, ironicamente, surgem hipóteses de que poderá perder
com o mesmo Kassab, pois, atualmente, o ex-poste de José Serra,
mergulhado na impopularidade, trata de apunhalar o ex-mentor e se ligar
aos seus adversários. E o que é mais surreal: o tucano não diz nada
sobre isso. E deve saber por que não diz…
O prejuízo político entre a militância governista seria – ou será –
moderado com os sepultamentos da lei da mídia e da CPI. Sempre que essas
hipóteses são aventadas os petistas mais compreensivos insinuam que
tais recuos lhes seriam aceitáveis, por assim dizer. Todavia, ainda não
encontrei um só petista, nem o mais dócil, condescendendo diante da
hipótese de aliança com Kassab.
Sem CPI da Privataria e sem Lei da Mídia, mas com Kassab, então, vejo no
horizonte uma pouco provável, mas virtualmente possível futura
dissidência de centro-esquerda no PT que poderia se unir à esquerda mais
autêntica (PSOL e/ou PSTU, por exemplo) para se contrapor à guinada que
a cúpula partidária nacional vai dando em direção à direita.
Quem, como este blogueiro, mensura o ânimo da militância diariamente, já
não tem dúvida de que, a persistir o endireitamento do governo e da
cúpula governista no PT, a direita demo-tucano-midiática pode começar a
ter esperanças. Nem que seja de fazer alianças, pois, onde cabe um
Kassab, se pensarmos bem caberiam até José Serra e Fernando Henrique
Cardoso. Ou não?
PS: importantíssima liderança do PT envia e-mail ao blog dizendo que
espera que as “profecias” acima, em “todos os seus tópicos”, não se
concretizem.Blog da Cidadania
*Oterrordonordeste
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