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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Sem CPI da Privataria e sem Lei da Mídia, mas com Kassab

Vá lá que, em nome do pragmatismo político, a roubalheira praticada no Brasil durante a era Fernando Henrique Cardoso, roubalheira essa imortalizada pela obra demolidora do jornalista Amaury Ribeiro Jr. A Privataria Tucana, ou o projeto de regulação da comunicação eletrônica no Brasil, a assim chamada Lei da Mídia, sejam ignoradas, respectivamente, pela cúpula do PT e pelo governo federal.
Estamos vivenciando uma era política que o PSDB e a direita midiática haviam anunciado há mais ou menos uma década e meia, quando decretaram o “fim da história”. Só que, à diferença da era tucana, hoje não há propaganda do fim das ideologias em nome do que seria “pragmatismo político-econômico” – a prática é que exibe uma situação em que o impensável se converte em natural com uma singeleza e uma naturalidade assustadoras.

 
O próprio Amaury, o Paulo Henrique Amorim – que sabe sempre das coisas – e mais as torcidas do Flamengo e do Corinthians unificadas já descreem da instalação da CPI pelo senhor deputado Marco Maia.

 
Já a Lei da Mídia, contam as más línguas que só sai se o projeto tiver a rubrica do Otarinho, as dos barões do café e a do ítalo-argentino instalados à Marginal do Tietê, bem como as dos irmãos do Jardim Botânico. Ou seja: não sai se não for para aprofundar a concentração da propriedade de meios de comunicação no Brasil.

 
Mas o que não dá para entender é a cada vez mais repetida – e cada vez menos negada –suposta aliança do PT de São Paulo com o prefeito Gilberto Kassab, aliança cuja origem no partido a mídia atribui ao ex-presidente Lula – ainda que este, ao que se saiba, esteja ocupado com coisas mais importantes para si, tais como cuidar da própria saúde – e ao pré-candidato a prefeito Fernando Haddad.

 
Dirão que o PT se aliou a José Sarney e a Paulo Maluf, em nível federal, e que, portanto, aliar-se a Kassab em nível municipal não seria nada demais. Todavia, essas são alianças com o PP e o PMDB, quando, em São Paulo, o que haveria seria uma aliança de cunho personalista com o muito mal avaliado prefeito da cidade, pois não se fala em aliança com o PSD, mas com o seu suposto idealizador.

 
O PT paulistano, portanto, perdeu para Kassab em 2008, quando ele era popular, e agora, ironicamente, surgem hipóteses de que poderá perder com o mesmo Kassab, pois, atualmente, o ex-poste de José Serra, mergulhado na impopularidade, trata de apunhalar o ex-mentor e se ligar aos seus adversários. E o que é mais surreal: o tucano não diz nada sobre isso. E deve saber por que não diz…

 
O prejuízo político entre a militância governista seria – ou será – moderado com os sepultamentos da lei da mídia e da CPI. Sempre que essas hipóteses são aventadas os petistas mais compreensivos insinuam que tais recuos lhes seriam aceitáveis, por assim dizer. Todavia, ainda não encontrei um só petista, nem o mais dócil, condescendendo diante da hipótese de aliança com Kassab.

 
Sem CPI da Privataria e sem Lei da Mídia, mas com Kassab, então, vejo no horizonte uma pouco provável, mas virtualmente possível futura dissidência de centro-esquerda no PT que poderia se unir à esquerda mais autêntica (PSOL e/ou PSTU, por exemplo) para se contrapor à guinada que a cúpula partidária nacional vai dando em direção à direita.

 
Quem, como este blogueiro, mensura o ânimo da militância diariamente, já não tem dúvida de que, a persistir o endireitamento do governo e da cúpula governista no PT, a direita demo-tucano-midiática pode começar a ter esperanças. Nem que seja de fazer alianças, pois, onde cabe um Kassab, se pensarmos bem caberiam até José Serra e Fernando Henrique Cardoso. Ou não?

 
PS: importantíssima liderança do PT envia e-mail ao blog dizendo que espera que as “profecias” acima, em “todos os seus tópicos”, não se concretizem.Blog da Cidadania
*Oterrordonordeste

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