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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 03, 2012

Lula e presidente da Turquia tinham razão: Irã não planeja bomba


A constatação de que o Irã não pretende fabricar a bomba atômica, em anúncio feito pelo ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, tem despertado críticas ao governo dos Estados Unidos e, por outro lado, elogios ao ex-presidente Lula e ao presidente da Turquia, Tayyp Erdogan.

Em 2010, Lula e Erdogan, então primeiro-ministro turco, negociaram um acordo com Mahmoud Ahmadinejad relacionado ao uso do urânio enriquecido por parte do Irã. O processo de diálogo obteve êxito, mas Estados Unidos e França, entre outros países, criticaram o acordo feito, embora tivessem elogiado a iniciativa de mediação por parte dos governos brasileiro e turco.

A informação divulgada recentemente pelo governo de Israel, ao isentar o Irã de intenções belicistas, contribui para diminuir a tensão no Oriente Médio e atesta o rumo certo da política externa conduzida pelo Itamaraty, avalia o deputado Henrique Fontana (PT/RS).

“Essa notícia demonstra o acerto da política externa brasileira e fortalece os seus pilares fundamentais: o diálogo como caminho para evitar conflitos, o respeito à autonomia dos povos e o não alinhamento automático com quaisquer polos em disputa”, destacou Fontana, que integra a Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Erro dos Estados Unidos
O deputado Dr. Rosinha (PT/PR) concorda com o colega e cita análise feita por Trita Parsi, especialista em relações internacionais, no livro A single roll of the dice – Obama’s diplomacy with Iran (“Um simples rolar dos dados – a diplomacia de Obama com o Irã”), lançado em janeiro passado, mas ainda não publicado no Brasil.

“No livro, o autor mostra que o acordo feito por Lula e Erdogan estava correto e deveria ter sido apoiado pelo governo dos Estados Unidos, mas isso não aconteceu. Hoje, com o anúncio de Israel, fica mais uma vez comprovado que aquele acordo feito em 2010 estava certíssimo”, disse Rosinha.

Os petistas criticaram a postura dos Estados Unidos nesse caso em particular e também na perspectiva histórica da política internacional. “A política externa norte-americana ainda possui uma influência muito grande do clima existente na época da Guerra Fria, o que leva o governo dos Estados Unidos a adotar sempre uma postura negativa, belicista”, acredita Fontana.

Dr. Rosinha também critica a postura dos Estados Unidos nesse episódio. “A política externa norte-americana quer sempre impor a sua vontade e não aceita que outros países sejam protagonistas – como Brasil e Turquia, nesse caso – das negociações internacionais”, afirmou o parlamentar, que é vice-presidente do Parlamento do Mercosul (Parlasul).

Mídia submissa
“A grande mídia, em geral, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, é muito submissa às posições do governo norte-americano em matéria de relações internacionais. Não há investigação e não há senso crítico, salvo exceções”, observou Rosinha.

“Muitos no Brasil criticaram o presidente Lula em função do acordo com o Irã e defendiam o senso comum de condenação a este país. Hoje podemos, mais uma vez, elogiar a postura corajosa do nosso ex-presidente ao tratar daquela questão delicada”, enfatizou Fontana.

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