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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 14, 2012

Cláudio Lembo e o avanço da criminalidade


Cláudio Lembo
O desespero tomou conta da sociedade. A criminalidade deita e rola. Uma desgraça. Já se sofreu muito nos últimos anos. Ninguém esquece 2006, quando todos foram tomados de surpresa pela violência.
Foi uma dura lição. Parece que nada se aprendeu. O crime continua sua escalada ascendente. De todas as partes chegam relatos aterrorizantes. Informações alarmantes.
Em resposta, apenas paliativos. Um irônico já disse que a sociedade contemporânea divide-se em novas classes sociais. Já não se fala em proletariado, classe média e burguesia.
Agora, tem-se: já assaltados, futuros assaltados e, como classe dominante, assaltantes. Amargo sarcasmo, pois em jogo estão vidas e a própria liberdade individual.
Todos se tornaram reféns do temor. Em cada esquina, a preocupação com o outro ângulo. Não se sabe quem está à espreita. Um meliante ou apenas alguma vítima em potencial.
As autoridades precisam se debruçar sobre o tema segurança cidadã. É patética a leitura dos informes de consulados sobre os pontos perigosos das cidades.
Os direitos fundamentais da cidadania estão merecendo violação às vistas do Estado. Este tem a obrigação de preservar a vida e a integridade física de cada cidadão. Preservar a liberdade de não ter medo.
No entanto, sentem-se por parte das autoridades apatia. Uma indiferença com a realidade que atinge níveis absurdos. As três esferas governamentais – União, estados e municípios – precisam examinar, em conjunto, a situação.
A criminalidade avançou por todo o território nacional. Já não se trata dos antigos atos de violência tão comuns no passado. O crime passional ou o roubo de gado são apontados para mero registro.
Agora, o tráfico de drogas avança. Toma todas as áreas das cidades e a beira das estradas. Não há espaços preservados. Tudo foi ocupado pelos traficantes.
A dissolução dos costumes é consequência direta desta situação. Romperam-se antigos valores. Nada substituiu princípios caros de nossa sociedade.
Já não se respeitam mãe, professores e autoridades. Todos passaram a ser "Mané". Deu-se uma socialização das práticas dos cafajestes.
Importa beber mais que o companheiro. Fumar mais que o interlocutor. Promiscuir-se mais que uma messalina. Usufruir o momento que passa sem preocupação com o futuro.
Neste cenário – ampliado pelos meios eletrônicos de comunicação – não há esperanças. A criminalidade crescerá absurdamente. Ainda porque as autoridades a tudo assistem sem qualquer gesto.
Caminha-se para um mundo sem rumo. Os direitos humanos, tão proclamados, após 1988, vão se diluindo em um oceano de insensatos. Os velhos temem dizer a verdade.
Os jovens – muitas vezes – nem sequer procuram a verdade como em tempos passados. As antigas dicotomias, entre direita e esquerda, conservadores e liberais, esgotaram-se.
A anomia tornou-se a única realidade. Neste caos não se formam estadistas, apenas ocupantes temporários do Poder sem vontade de apontar as circunstâncias dramáticas do dia-a-dia.
Enquanto um D. Sebastião – o rei morto – não volta para nos salvar, só nos resta aguardar o próximo assalto. A vítima pode ser deliberadamente escolhida.
Ou então ser vítima da roleta russa que se instalou nas cidades de todo o País. A qualquer momento, pode-se tombar vítima do criminoso de colarinho branco ou do meliante pé de chinelo. Tanto faz.
*Nassif

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