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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 16, 2012

Toda vez que um justo grita/Um carrasco vem calar/Quem não presta fica vivo/Quem é bom mandam matar

Colônia americana ameaça invadir embaixada do Equador

Toda vez que um justo grita/Um carrasco vem calar/Quem não presta fica  vivo/Quem é bom mandam matar

Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência


Ameaça britânica de invadir embaixada do Equador provoca crise diplomática
Presidente da Assembleia Nacional do Equador convoca sessão extraordinária e diz que ameaça é intolerável. Em carta oficial enviada ao ministério dos Negócios Estrangeiros equatoriano, governo britânico afirma que tem bases legais para prender Julian Assange nas instalações da embaixada equatoriana em Londres e ameaça fazê-lo. Embaixada está cercada pela polícia desde a madrugada.

Cartazes em defesa de Assange diante da embaixada do Equador em Londres. Foto de acidpolly
A ameaça apresentada pelo governo do Reino Unido de invadir a embaixada do Equador em Londres para prender o fundador da Wikileaks, Julian Assange, é oficial e consta de uma carta entregue ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Quito. “Recebemos a ameaça expressa e por escrito”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador, Ricardo Patiño, numa conferência de imprensa realizada na noite de quarta-feira, acrescentando considerar esta atitude imprópria de um país democrático, civilizado e que respeita o Direito.
"Se as medidas anunciadas na comunicação oficial britânica se materializarem, serão interpretadas pelo Equador como um ato hostil e intolerável e também um ataque à nossa soberania, que exigirá uma resposta com grande força diplomática”, disse Patiño, acrescentando que uma ação como essa seria um flagrante desrespeito da convenção de Viena sobre as relações diplomáticas e das regras da lei internacional nos últimos quatro séculos.
“Seria um precedente perigoso porque abriria a porta à violação de embaixadas como um espaço soberano declarado”, afirmou o responsável pela diplomacia equatoriana. Sob a lei internacional, as instalações diplomáticas são consideradas território da nação estrangeira.
A decisão do governo do Equador sobre o pedido de asilo apresentado por Assange ao refugiar-se na embaixada será conhecida nesta quinta-feira.
Uma intolerável ameaça britânica
Por seu lado, o presidente da Assembleia Nacional do Equador, Fernando Codero Cueva, convocou uma sessão extraordinária do parlamento para tomar posição sobre a comunicação britânica. No portal da Assembleia, Cueva recorda que “a Constituição da República do seu país condena a ingerência dos Estados nos assuntos internos de outros Estados e qualquer forma de intervenção, seja incursão armada, agressão, ocupação ou bloqueio económico ou militar”. E conclui: “Com base nos princípios constitucionais, Fernando Cordero Cueva, titular da legislatura, qualificou este facto como uma intolerável ameaça britânica”.
O portal da Assembleia disponibiliza um resumo (em castelhano) da carta britânica, onde se afirma, entre outras coisas, que, diante da possibilidade de o presidente Rafael Correa conceder asilo a Assange, as autoridades britânicas negarão qualquer salvo-conduto para permitir a saída do australiano da embaixada. Mas as passagens mais significativas da carta são as que se referem a uma possível invasão da embaixada:
“• Devemos reiterar que consideramos o uso contínuo de instalações diplomáticas desta maneira incompatível com a Convenção de Viena e insustentável, e que já deixámos claro as sérias implicações para as nossas relações diplomáticas.
• Devem estar conscientes de que há uma base legal no Reino Unido – a Lei sobre Instalações Diplomáticas e Consulares de 1987 (Diplomatic and Consular Premises Act 1987) – que nos permitiria tomar ações para prender o sr. Assange mas instalações atuais da embaixada.
• Sinceramente esperamos não ter de chegar a este ponto, mas se os senhores não podem resolver o assunto da presença do sr. Assange nas instalações, estará o caminho aberto para nós.”
Não somos uma colónia britânica”
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador reafirmou que "a entrada não autorizada na embaixada do Equador seria uma violação flagrante da Convenção de Viena". E sublinhou: “Não somos uma colónia britânica. Esses tempos são passado.”
Julian Assange, fundador do site Wikileaks pediu asilo à embaixada do Equador em Junho para evitar a extradição para a Suécia, onde teria de responder como testemunha a um processo de agressão e violação sexual, de que não foi ainda acusado formalmente. O australiano de 41 anos, que nega os crimes, quer evitar a extradição para a Suécia por considerar que esta seria apenas um pretexto para depois o extraditar para os Estados Unidos.
Em reação às declarações de Patiño, o governo britânico disse que apenas "chamou a atenção do Equador sobre as disposições da legislação britânica, entre elas as garantias sobre os direitos humanos" nos processos de extradição no país e o "status legal das sedes diplomáticas".
Num comunicado emitido já nesta quinta-feira, a Wikileaks condena a ameaça britânica. "Uma ameaça desta natureza é um ato hostil e extremo, que não é proporcional às circunstâncias, e é um ataque sem precedentes aos direitos dos cidadãos que procuram asilo por todo o mundo", afirma a organização.
*GilsonSampaio

Asilo para Assange: Reino Unido ameaça Equador com medida temerária

Chanceler do Equador diz que recebeu ameaça do Reino Unido sobre caso Assange. Segundo Ricardo Patiño, Londres teria cogitado invadir a embaixada caso jornalista receba asilo
Julian Assange Equador Londres
Asilo político de Julian Assange (fundador do Wikileaks) no Equador está sob ameaça britânica.
O ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, disse nesta quarta-feira (15/08) ter recebido “uma ameaça expressa e por escrito” por parte do Reino Unido. De acordo com o embaixador, o governo britânico disse que poderia “invadir nossa embaixada do Equador em Londres caso não lhes entreguemos Julian Assange”.
A decisão sobre o futuro de Assange, segundo Patiño, já foi tomada e deverá ser anunciada nesta quinta-feira (16), por volta das 7 horas de Quito (9 horas de Brasília).
O jornalista australiano Julian Assange, fundador do Wikileaks, está na representação diplomática equatoriana há quase dois meses, onde pediu asilo político ao presidente Rafael Correa.
Patiño deu a informação durante uma coletiva de imprensa, em Quito. Os principais jornais do país, como o El Diário, de Quito e o El Universo, de Quayaquil, além da Agência Pública de Notícias do Equador já veicularam a informação.
Segundo a rede britânica BBC, Patiño pediu a convocação de uma reunião de emergância da Unasul (União dos Estados Sul-Americanos) e a OEA (Organização dos Estados Americanos).
“Não somos uma colônia britânica. Os tempos do colonialismo terminaram”, disse o chanceler equatoriano. “São ameaças impróprias de um país democrático, civiliado e respeituoso ao direito”.
Juridicamente, uma embaixada é submetida à jurisdição do país em que ela está instalada. No entanto, a representação conta com alguns privilégios especiais, acordados na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. O país que abriga a embaixada não pode entrar dentro de suas dependências, incluindo forças de ordem e policiais, sem permissão expressa.
O caso
Assange, que lançou o Wikileaks em 2010, é procurado pela Justiça da Suécia para responder oor um suposto crime sexual. Ele ainda não foi acusado nem indicado. No Reino Unido, ele travou uma longa batalha jurídica contra sua extradição para o país escandinavo, que se recusava a interrogá-lo em solo britânico. No entanto, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu queele deveria ser extraditado. Há sete semanas, o jornalista buscou asilo na embaixada do Equador em Londres, em uma jogada classificada como “tenaz” pela imprensa local.
Assange teme que, após ser preso na Suécia, os Estados Unidos peçam sua extradição, onde poderá ser julgado por crimes como espionagem eroubode arquivos secretos. O Wikileaks obteve acesso e divulgou centenas de milhares de arquivos diplomáticos norte-americanos, muitos deles confidenciais.

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