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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, setembro 07, 2012

Por que Haddad dificilmente deixará de ser prefeito de São Paulo

Por Paulo Nogueira
Haddad

Leio o revelador texto de meu irmão Kiko sobre o fenômeno Russomano. Converso com ele e fazemos uma aposta sobre qual vai ser o novo prefeito de São Paulo.
Não sabia, embora desconfiasse, que a situação de Serra era tão precária dentro do próprio PSDB. Me pergunto: se era tamanha a rejeição a ele entre os próprios tucanos, por que o escolheram? Ninguém imaginava que os paulistanos lembrariam que Serra os largou no meio do caminho quando foi prefeito?
Serra dificilmente escapará da derrota no primeiro turno. Russomano está firme na ponta, e Haddad já encostou, como era previsível. É algo parecido com o que aconteceu, no plano nacional, com Dilma: saiu de baixo nas pesquisas e, com o horário eleitoral, foi crescendo.
Sobrarão, provavelmente, Russomano e Haddad.
É quando a vida tende a ficar mais difícil para Russomano. A presença de Serra, até aqui, o beneficia. Parte do eleitorado que seria tucano rejeita Serra e opta por ele. Sem surpresas: é um rosto relativamente novo, e tem familiaridade com televisão, um atributo precioso na política contemporânea.
Depois é que virão as dificuldades. O PT é um partido articulado e organizado, ao contrário do caricato PRB de Russomano. Haddad é, como ele, uma cara fresca. (O PT acertou ao escolhê-lo em vez de Marta, que cairia na categoria da velha turma botocada de sempre.)
Os eleitores que ficarem com Serra no primeiro turno tenderão a votar depois em Haddad, e não em Russomano, excetuada a minoria mais retrógrada que abomina o PT  – e que tem no blogueiro Reinaldo Azevedo seu porta-voz mais estrepitoso. Tirada essa parcela arquiconservadora, o tucano típico apoia, hoje, iniciativas sociais destinadas a reduzir a miséria. Mais ainda, gostaria de ver o partido agarrar com vigor a bandeira da justiça social. Para este eleitor, a escolha entre Russomano e Haddad será simples.
Por isso, Haddad tende a ganhar, com uma certa folga.
Foi essa a aposta que fiz com meu mano. Ele acha que o apoio dos evangélicos levará Russomano — que  ele e eu olhamos com justificada má vontade, dada sua biografia de demagogo  –  à prefeitura. Penso que igreja nenhuma é capaz de levar alguém a virar prefeito de uma cidade como São Paulo.
Veremos qual de nós vencerá. Qualquer que seja o desfecho, e estou tão convicto de meu raciocínio que disse a Kiko que escolhesse o que apostaríamos, um Nogueira vencerá.

*Mariadapenhaneles

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