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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 01, 2012

Sete mitos ridículos sobre o corpo feminino

vaginadentata



Ultimamente temos ouvido algumas doideiras a respeito desta criação maravilhosa que é o corpo feminino. Os republicanos sempre torceram seus narizes para a educação sexual, e por um bom motivo. Uma compreensão mínima de biologia tornaria absurda muitas de suas vangloriadas ideias sobre as funções anatômicas das mulheres. O deputado do Missouri Todd Akin, aquele do “estuprolegítimo”, é mais um na horda de homens da história cujo medo de mulheres os fez acreditar e espalhar mitos absurdos que seriam até divertidos se, no fim, não acabassem sendo mortais.
O fato dos republicanos conseguirem se ater a fantasias biológicas numa era de métodos e instrumentos científicos modernos mostra o triunfo da ignorância sobre a verdade.
Aqui vai uma lista das coisas mais absurdas que essas mentes doentes já evocaram sobre o corpo feminino por séculos e séculos.
1. O Útero Fujão
E se um dia seu útero decidisse picar a mula de onde estava e passear pelo seu corpo afora, livremente?
Foi o que Platão teorizou em seu famoso e sem crédito diagnóstico para “histeria”, uma praga vastamente disseminada entre as mulheres até o século 20. Em seu diálogo Timaeus, Platão, seguindo a ideia de outros autores gregos, descreve o útero como um pequeno animal de mente própria que vaga pelo corpo humano, “bloqueando passagens, obstruindo a respiração, e causando doenças”.
O mito do útero fujão viveu por séculos.
2. A Vagina Dentada
Você está fazendo amor com a sua gata e, de repente, nhac! A vagina dela comeu seu pênis.
Várias lendas folclóricas pelo mundo sustentavam a ideia da vagina com dentes (do latin vagina dentata). O buraco com dentes afiados escondidos nas partes baixas da mulher surpreende os visitantes com mordidas que podem casar danos ou até castração. Essa fantasia parece vir do temor da mulher enquanto monstro sedutor, particularmente por sua natureza animalesca. Uma banda de punk metal da Bélgica tem como nome o termo em latim.
Em 2007 o filme Teeth inverteu o mito transformando-o na lenda de uma garota colegial que descobre uma arma secreta contra o abuso dos homens.
3. O Clitóris Perigoso
O clitóris, símbolo do prazer feminino, foi motivo de alarme em várias culturas. No século 16, Sinistrari, um juiz romano e autor de um texto clássico sobre demônios, alertou que mulheres com clitóris alongados poderiam estuprar homens, e recomendou tortura para tais profanas criaturas. No século 19, remoção ou cauterização eram comumente indicados por médicos ocidentais como uma “cura” para tudo, de masturbação à “imoralidade”.
A antiga prática da mutilação genital feminina , remoção parcial ou total da genitália, ainda afeta centenas de milhões de mulheres no mundo todo. A prática é justificada em algumas regiões por vários mitos, incluindo a noção de que o clitórios pode crescer e se tornar um pênis se não for cortado fora, ou de que um bebê irá morrer se tocar o clitóris.
4. Menstruação Contaminada
O sangramento mensal de uma mulher está entre as coisas mais assustadoras no campo da imaginação biológica. A menstruação tem sido chamada de punição divina, um sinal de corrupção e de veneno mortal. Plínio, o Velho, afirmou que uma simples visão de uma mulher menstruada poderia “tornar um espelho opaco, tirar o fio de uma aresta de aço e tirar o brilho do marfim”.
Na Idade Média, crenças muito difundidas iam desde a noção de que fazer sexo com uma mulher durante a menstruação poderia matar o homem ou mutilar o sêmem e produzir crianças horrivelmente deformadas, até que lavouras inteiras seriam perdidas na presença de uma mulher menstruada.
5. Ela não pode estudar
Vários motivos bastante criativos foram tramados por homens para negar à mulher o acesso à educação. Nos anos 1800, o educador Edward H. Clarke opinou que a energia gasta no estudo poderia privar os órgãos reprodutivos de uma adolescente de “fluir à potência”.  Mais tarde ele alertou que educação superior poderia produzir mulheres com “cérebros monstruosos e corpos franzinos… [e] digestão fraca”.
Em 2005, o então presidente de Harvard Larry Summers veio com sua própria interpretação fantasiosa entre educação e biologia, dizendo existir diferenças inatas entre homens e mulheres e suas habilidades para matemática e ciências.
6. Colocar a mulher em seu devido lugar na evolução
Quando os conservadores não estão tentando negar a teoria da evolução, eles gostam de usá-la para justificar seus preconceitos contra as mulheres. Estudiosos feministas notaram que o foto de Charles Darwin em machos agressivos competindo para engravidar mulheres “exigentes” lembrava noções de comportamento Vitoriano. Esse viés sutil na obra de Darwin foi descoberto e aumentado por misóginos desde então para justificar a promiscuidade e agressividade masculina, fidelidade feminina e desigualdade entre sexos em geral.
O prêmio do mais recente e mais nocivo exemplo de preconceito evolucionário para para Kevin D. Williamson, editor-chefe adjunto do National Review, que escreveu um mingau de cérebro podre promovendo uma infinidade de idiotices, desde a ideia que homens de verdade fazem filhos ao invés de filhas até a noção risível de que Mitt Romney deveria ter 100% dos votos das mulheres devido à sua superioridade evolucionária.
7.  O Estupro Imaculado
Como notou Robert Mackey, do New York Times, o mito de que estupro não engravida vem circulando por aí há séculos. Ele cita Vanessa Heggie, que afirma no Guardian que a posição legal de que gravidez anula a alegação de estupro vem desde o século 13, na Grã-Bretanha. Esse absurdo para estar ligado a uma crença antiga de que uma mulher teria que ter tido um orgasmo para poder conceber. Portanto, segue o raciocínio, se uma mulher engravidou, ela deve ter tido um parceiro disposto.
Vários malucos do século 20 tentaram tornar ilegal o aborto se virando a esses mitos e os baseando em uma pseudociência. O partido republicano assumiu a causa com uma vingaça e vez ou outra algum legislador expressa sua noção maluca em alto e bom som. NO meu Estado natal, tínhamos um membro do legislativo – um periodontista que presumo ter tido alguma educação médica – anunciou sua crença de que estupro não engravidava porque “os fluidos não fluíam”.
Todd Akin afirmou em uma entrevista na televisão que realmente acreditava que as gestações advindas do estupro eram “muito raras”, porque “se o estupro é legítimo, o corpo feminino tem formas de interromper a coisa toda”. Muitos de nós adoraríamos interromper sua campanha ao Senado.

Jezebel
*Mariadapenhaneles

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