Manifestação maciça da população em apoio ao governo venezuelano, para a mídia, é golpe de Estado. O seqüestro do presidente, em 2002, sim, era a "volta da democracia". Mas o povo derrubou essa "democracia", botou as elites golpistas pra correr e trouxe o presidente eleito de volta. E agora o apóia, mesmo com a mídia em histeria convulsiva.
Nas
manifestações políticas do Brasil, os fotógrafos dos movimentos sociais
precisam buscar ângulos que não deixem aparecer a pouca quantidade de
manifestantes, os vazios da suposta multidão, que revelariam a
incapacidade de mobilização social dos tais movimentos - que ainda não
aprenderam a falar a língua da população, cegos em seu fanatismo
ideológico que os divide em pequenos grupos inimigos e praticamente
estéreis. As "conquistas das lutas populares" tão ao gosto destes
ceguetas, como a jornada de oito horas de trabalho, o 13º, as férias
remuneradas e outras, foram todas obtidas durante uma ditadura, a de
Vargas, no objetivo de cooptar a massa trabalhadora. Objetivo alcançado
com sucesso, haja visto a eleição de Vargas anos depois, apesar da
pesada campanha da parte mais reacionária das elites brasileiras. Mas os
crentes da ideologia fazem parecer que são frutos da "sua" luta (um
ponto comum entre esses grupelhos é se arrogarem a representação dos
"legítimos interesses" da população como um todo. Pretendem-se guias das
massas, conhecedores das verdades universais e dos caminhos da
revolução, acusando os que não lhes comungam os dogmas de traidores do
povo, de vendidos, de pelegos ou de demônios, o que dá tudo no mesmo.
Sua arrogância impede a visão da sua própria esterilidade social -
sempre digo que, com seu linguajar e seus preconceitos, a única maneira
desses caras conduzirem as massas é ir entregar pizzas, pães, bolos e
tortas).
Poucas manifestações puderam ser fotografadas de longe, como as das
diretas já, densas e massivas - já com meio apoio empresarial, que
pressionava pela retirada dos militares do governo. A sociedade já
estava sob controle do poder econômico, As forças armadas já tinham
cumprido sua função e começavam a atrapalhar os grandes lucros das
multinacionais, com o nacionalismo de alguns setores militares e as
trapalhadas que a repressão burra estava fazendo. A escola pública já
estava destruída, as comunicações dominadas, o povo ignorantizado,
desinformado e conformado havia algumas gerações, os focos de
resistência dizimados. Então, saíram os militares e entraram as
marionetes da falsa democracia. Não entendo pessoas instruídas e
informadas falando em "redemocratização", quando o que me parece óbvio é
que a ditadura apenas colocou a máscara de democracia e tirou a cara
feroz dos militares, por conveniência dos poderes reais - muito acima
dos institucionais. A ditadura continua, muito pior, aliás, porque
travestida de democracia reconhecida até mesmo pela mais ferrenha
oposição institucionalizada, que colabora, talvez inconscientemente, com
a construção do cenário que simula essa falsa democracia.
As manifestações de ontem, na Venezuela, levam ao desespero e à mais
aberrante histeria as elites locais, defensoras dos interesses mega
empresariais, sobretudo os estrangeiros que as sustentam em seus
privilégios como pagamento pelos seus serviços no saque das riquezas
naturais, do patrimônio público e na exploração do povo. Fotografias
puderam ser tiradas dos altos dos prédios, revelando a dimensão dessa
movimentação que levou milhões a Caracas, de todas as partes do país e
do mundo, aumentando o ódio explícito da mídia defensora dos
mega-exploradores multinacionais.
Eu estava no bar aqui em frente, ontem, e assisti, estarrecido, à fala
do famoso ipanemense da mídia, afirmando mentiras absurdas, com ódio
incontido, contra toda a movimentação latinoamericana em favor da
revolução bolivariana que trata de resgatar o Estado para sua própria
população. Qualquer pessoa que busque informações além da mídia percebe
as incríveis distorções e falcatruas, os arghumentos malabaristas e as
mentiras explícitas daquele verme elitista. Ele não fala para esses
poucos e não tem pudor diante dos que sabem. É muito bem pago pra formar
opinião da massa sabotada em instrução e informação, sem condições de
consciência pra se defender dessas mentiras, e da classe média
anestesiada, que precisa justificar sua alienação e seu consumismo
predatório com esses ataques a qualquer tentativa de diminuir os abismos
sociais que transformam a sociedade nesse inferno em que vivemos,
exceto nas bolhas privilegiadas, embora estas precisem se armar de
defesas contra a barbárie, vítimas preferenciais da criminalidade
oriunda das situações de miséria e ignorância provocadas pela ditadura
financeira.
Na sua crônica ele minimiza a massa apoiadora do governo venezuelano,
hipertrofia uma oposição elitista e desmoralizada, acusa o chanceler
brasileiro de ir a Cuba "receber as ordens dos irmãos Castro", denuncia
ridiculamente um golpe na Venezuela - um absurdo jurídico que ficará,
como sempre, impune - e acena dramaticamente com o fim do mundo,
"estamos perdidos", o que se aplica, espero, ao predomínio das elites
sobre as populações da América Latina, tão sacrificadas, saqueadas,
massacradas, espoliadas e exploradas durante séculos de colonização
institucional, política e econômica. Fácil de entender, difícil não se
revoltar com o descaramento da mídia e seus porta-vozes sem caráter. Não
há o menor compromisso com a verdade, apenas com os interesses
empresariais mais desumanos, mais perversos, mais covardes e criminosos.
Sem o menor constrangimento, a aberração midiática fantasiada de
comentarista afirma que há 60 mil guerrilheiros cubanos na Venezuela
prontos pra atacar a oposição. Uma oposição anêmica, caricata, ridícula,
sem força nem expressão, derrotada repetidamente e em vias de extinção,
que se destrói por si mesma e está desmascarada em seu país - tratado
até a chegada de Chávez à presidência como sua propriedade privada. O
que Cuba tem na Venezuela são professores e médicos, cerca de 40 mil,
com o que o governo fez chegar à massa da população excluída o ensino e a
medicina que até então haviam sido negados. Essa é a força do governo
venezuelano e da revolução bolivariana. A tomada de consciência de
grandes parcelas da população que perceberam qual é o papel do Estado na
sociedade e porque este não cumpria suas obrigações constitucionais.
Artigo de Altamiro Borges, no Blog do Miro, comentando as posições da mídia a respeito da Venezuela:
http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/01/quem-sao-os-golpistas-na-venezuela.html
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