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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Abujamra entrevista Mário Sérgio Cortella

Elites do país são predatórias e promovem desde sua existência um pedagocídio, um assassinato permanente das condições do ensino. Quarenta e três milhões de analfabetos totais ou funcionais, eu acho que tá subfaturado. Vi em algum lugar que são 70% da população, o que bate com o que vejo por aí. As elites são minorias instaladas no topo dos mercados financeiros, na propriedade das mega-empresas e se estendem por grupos políticos, com o apoio de uma classe média alienada, entorpecida pela mídia e anestesiada em sua consciência.

Três milhões de crianças entre 7 e 14 anos não freqüentam nem as precárias escolas públicas. Um organismo da ONU declara haver no Brasil 50 milhões de indigentes - pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza. Considerando que os analfabetos totais (18 milhões) e funcionais (25 milhões) somam 43 milhões e estão em grande parte na faixa pobre, há um montão de indigentes leitores. As contas não batem, mas a tragédia é a mesma. Domínio por poucos, seqüestro do Estado e barbárie social. Os bem intencionados (vamos supor) como Paulo Ernesto Serpa precisam ver a realidade distorcida pra continuarem a acreditar no seu trabalho.

"Qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio... Qualidade social exige quantidade total."




 

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