Como assim o Anarquismo é Socialismo?
Nota:
O presente artigo promove uma ênfase maior nos fatos historiográficos
ligados ao movimento libertário e anarquista, considerando que a
historiografia marxista já deva ser de conhecimento geral. Caso
persistirem dúvidas ou para informações mais aprofundadas o autor está
disponível nas mensagens da página do facebook do Centro do Socialismo.
Por Guilherme Wagner¹
Por Guilherme Wagner¹
A Revolução dos Sovietes em fevereiro de 1917, e a perpetuação
dos dirigentes bolcheviques a frente do Estado Soviético em outubro
do mesmo ano, promoveu um abalo enorme nas doutrinas socialistas ao
redor do mundo. Muitos por serem idealistas, incrédulos e frágeis
em suas convicções revolucionárias aderiram ao movimento
bolchevique, exportando tal e qual os métodos revolucionários para
suas regiões, à citar Atrojildo Pereira fundador do PCB. Nesse
processo passaram a disseminar pensamentos ortodoxos que viriam a
conceber ideias falaciosas sobre diversos segmentos da esquerda. [1]
O primeiro termo a ser utilizado foi de que o Estado Soviético
criado em outubro seria uma forma de transição do capitalismo para
o comunismo, e a isso se chamaria de socialismo[2]. Isto
não é socialismo, o
pensamento socialista foi formulado no fim do século XVIII
(Revolução Burguesa Francesa) e início do subsequente, aonde
o socialismo seria a destruição da propriedade privada e
administração das coisas por todos,
seus teóricos foram
chamados de socialistas utópicos por Marx e Engels, podendo
ser divididos em:
1. Conspiratórios*,
aqueles que acreditavam que o socialismo deveria ser implementado
como uma legítima ditadura de Estado que beneficiasse a maioria
(trabalhadores), e tal ação revolucionária deveria ser feita por
meio de golpes de estado, de cima, por isso que são chamados de
conspiradores. O principal defensor dessa ideia é Louis Blanquí (ou
Blanc) importante líder
socialista da revolução de de 1848 onde se derrubou a monarquia e
se implantou a Segunda República, defendia a criação de
associações de trabalhadores
divididos em classes
profissionais regulados pelo Estado.
2. Evolucionistas*, aqueles
que pensavam que o socialismo viria de forma gradual e lenta, seu
principal defensor foi o inglês Robert Owen e o Conde de
Saint-Simon. Defendiam que o Estado deveria receber todos os lucros e
que deveria dividir igualmente entre todos, pois para eles, a
igualdade de oportunidades promoveria a harmonia social. Enquanto
Owen era mais utópico, Saint-Simon defendia diferentes classes
dentro do Estado, pois acreditava que o futuro da sociedade se
basearia em cientistas e industrialistas, assim os diretores e
gestores deveriam estar acima dos trabalhadores, no entanto todos
deveriam ter o mesmos ganhos.
3. Libertários*, os
precursores do socialismo libertário, tiveram
com principal teórico Charles Fourier considerado o pai do
cooperativismo, formulou as teorias de falanges ou falanstérios de
produtores e consumidores, que seriam organizados de forma
cooperativista e autônoma, isto é, o primeiro princípio da
autogestão. Primeiro defensor da poligamia, contra o matrimômio,
pela emancipação das mulheres, crítico da moral cristão. Fourier,
foi um libertário.
Quando da formulação do
socialismo científico por Marx e Engels, pode-se verificar ideais
semelhantes aos mesmos dos itens 1 e 2, o blanquismo foi transformado
em leninismo[3] assegurado no pensamento bolchevique, e o
evolucionismo nas ideias marxistas reformistas, defendida
principalmente por neo-kantianos como Bernstein, partidário
social-democrata alemão. Os libertários foram muito influentes no
pensamento socialista de Proudhon, outro francês, um dos criadores
do termo capitalismo, junto
de Blanc. Proudhon foi um crítico econômico e formulou teorias de
organização social e economica chamadas de federalismo, travou
excelentes debates com Marx, debates esses ricos em detalhes em
análises. Proudhon é dono da frase “a propriedade é um roubo”,
em que faz toda uma analise da república francesa e chega a tal
conclusão, é o socialista que primeiro se autodenomina
“anarquista”. Marx
se denomina na mesma época “comunista”. Verifica-se
assim o surgimento do anarquismo como vertente de combate socialista
com Proudhon, e pouquíssimos anos depois o comunismo com Marx e
Engels.[4]
O Materialismo como análise da realidade
Marx e Engels deixaram claros que eram socialistas científicos pois
haviam criado um método de análise da realidade, baseado no
materialismo, chamado materialismo histórico. No qual são
categóricos ao afirmar que a sua principal diferença para os
utópicos era a aceitação, compreensão e práxis da sociedade como
um resultado das lutas de classes. Assim,o comunismo surge
definitivamente da luta de classes. O anarquismo é um socialismo
científico aos olhos das definições de Marx e Engels? O
materialismo é defendido enquanto análise da realidade também por
anarquistas, no entanto, Proudhon não criou um método de análise
da realidade que pudesse explicar a sua teoria organizativa
(federalismo). Tal método foi concebido por Mikhail Bakunine e
chamado de materialismo sociológico, no qual consegue explicar as
relações entre federalismo e socialismo, indo mais longe,
formulando a crítica mais completa ao teologismo existente até os
dias atuais. Todos os teóricos anarquistas do século XVIII e início
do XIX defendem e analisam a realidade a partir da luta de classes, e
afirmam mais claramente, que o anarquismo enquanto teoria socialista
é produto direto de uma sociedade dividida em classes que estão em
constantes lutas. Logo, anarquismo é um socialismo científico.
“Anarco-capitalismo” não é anarquismo
O anarquismo defende de forma dialética diferentes teorias de
revolução e organização social, tais teorias vão do pacifismo ao
radicalismo extremado, do sindicalismo ao individualismo (com
consciência coletiva), no entanto, todos sem exceção bebem da
fonte de sua criação histórica: anticapitalistas, socialistas,
produto direto da luta de classes e análise
materialista da realidade. Não há, em hipótese alguma, nem
histórica, nem ideológica, nem analítica muito menos filosófica
(de método) de se conceber o anarco-capitalismo como um anarquismo.
O único argumento que os defende é a significação radical grega
da palavra anarquia, que significa sem governo. Liberalismo
econômico não é anarquismo.
¹ Estuda
Licenciatura em Matemática pela UFSC, colaborador do Memorial dos
Direitos Humanos/UFSC (GE Mário Pedrosa e Ditadura Civil-Militar),
pesquisa na área de Educação, História e Política
* Tais
separações são opções do autor, não são consenso de
historiadores.
[1] Tais ataques a esquerdas podem
ser vistas em livros “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”
de Lênin, e também “Revolucionários Ineficazes” de Hobsbawn.
[2] Para uma maior análise do tema
e formulação de sua opinião recomendo O Estado e a Revolução de
Lênin, assim como para criar um contraponto, Lenin Frente a Marx:
Associação Obrerar ou Socialismo de Estado de Claude Berger.
[3] Tal opinião é própria e pode
não ser concordância entre socialistas, obra que fala disso O Novo
Blanquismo de Anton Pannekoek.
[4] Vide Manifesto Comunista.
*centrodosocialismo
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