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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 14, 2013

Lula, a ética e o jogo pesado dos doutores

Lula: o político ideal talvez esteja dentro das pessoas
(Foto: José Cruz/ABr)


Durante décadas e décadas os meios de comunicação vêm nos dizendo que a corrupção que cobre o imenso Brasil é causada única e exclusivamente por uma entidade chamada "governo", a qual, logicamente, é constituída por políticos, burocratas, funcionários de maior ou menor poder etc e tal. 

Nunca ouvimos falar do corruptor, o sujeito que "compra" os serviços oferecidos pelo corrupto - e que, em 1.000% dos casos se trata do "impoluto" representante do setor privado. 
Foi sempre assim e continua assim: os maus, esses terríveis bandidos que se apoderaram do setor público, e os bons, os nossos exemplares empresários que fazem tudo de acordo com a lei, que são incapazes de oferecer propinas e que tais para ganhar concorrências, serviços ou o que for, que nunca sonegaram um centavo de impostos, que seguem a ética e a moral passo a passo em suas realizações. 
Essa é uma opinião tão incrustada na consciência popular que quando uma liderança de raro instinto sociológico como o ex-presidente Lula, durante um debate sobre os dez anos de governos petistas, diz que não existe político "irretocável do ponto de vista do comportamento moral e ético", muita gente se choca. 
Por mim, prefiro ver que ainda existe gente como Lula, que usa a sinceridade no dia a dia, do que outras autoridades como esses ministros do Supremo Tribunal Federal, que estão ajudando a afundar de vez o pouco que resta do prestígio do Judiciário brasileiro, essa aberração que sabe perfeitamente distinguir a culpa dos réus apenas pela cor de sua pele, pelo tecido de suas roupas, pelo couro de seus sapatos, pela marca do carro e nome dos advogados. 
Lula pegou pesado na sua análise. 
Disse que a imprensa nacional tenta vender a imagem de que existem políticos ideais, que, segundo ele, não existem. 
Na sua avaliação, há setores que tentam promover a negação da política como forma de prejudicar o PT. 
Segundo ele, isso ocorreu na eleição da presidente Dilma Rousseff e também na eleição municipal de São Paulo em 2012. 
E apesar disso, ele fez um apelo aos mais jovens para que não desistam da política. 
"Quando vocês não acreditarem em mais ninguém, no Lula, no (Fernando) Haddad, na Dilma, em ninguém, nem no Paulo Maluf... ainda assim, pelo amor de Deus, não desistam da política", afirmou, segunda-feira, à plateia do Centro Cultural São Paulo, na capital paulista. 
"O político ideal que vocês desejam, aquele cara sabido, aquele cara probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês." 
Esse é o Lula, o metalúrgico nordestino "analfabeto" que chegou à Presidência da República duas vezes e conseguiu tirar o país do buraco em que se encontrava quando era governado por sabidos intelectuais. 
E ele está errado? 
Basta ver o esforço que o STF, junto com a Procuradoria-Geral da República, está fazendo para criminalizar a atividade política brasileira para dar razão ao ex-presidente. 
E se os doutos ministros fazem isso é porque de bobos eles não têm nada. 
Sabem perfeitamente que o prêmio desse jogo que se arriscam a jogar, metendo o país numa grave crise institucional, vale a pena. 
Afinal, eles têm interesses muito além dos nossos, pobres mortais.
do Blog CRÔNICAS DO MOTTA
*opensadordaaldeia 

Brasil vive 'revolução social', diz Marilena Chauí


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que estava presente para assistir ao debate,
falou ao final e criticou àqueles que,
'apressadamente', fizeram críticas ao governo.

Em lançamento de livro sobre os 10 anos de pós-neoliberalismo no país, filósofa destaca empoderamento das mulheres e a conquista de direitos pela classe trabalhadora
Redação, RBA

A filósofa Marilena Chauí afirmou ontem (13) que o programa Bolsa Família provocou uma "revolução social" no Brasil ao transferir paras as  mulheres a tarefa de gerenciar o benefício.

“Não sei o quanto temos consciência de que aconteceu uma revolução social no Brasil. Vocês sabem que o Bolsa-Família vai para as mulheres. Vocês não imaginam o quanto isto alterou o modo de constituição da relação familiar, da relação homem-mulher e da maneira pela qual as mulheres se percebem como sujeitos sociais, como sujeitos políticos, e não apenas como instrumento de uso. Isso é gigantesco”, disse ela, durante o lançamento do livro 10 Anos de governos pós-neoliberais no Brasil - Lula e Dilma

A obra, editada pela Boitempo e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), é uma coletânea de 21 textos sobre o período, para os quais colaboram diversos intelectuais, entra eles a própria Chauí. Além filósofa, participaram do debate de lançamento o economista Márcio Pochmann (também coautor) e o sociólogo Emir Sader, responsável pela organização do livro.
Outra transformação dos últimos dez anos, segundo a professora da USP, foi a melhora econômica da classe trabalhadora. Ela avessa ao conceito de nova classe média.
Para Chauí, o que define uma classe social não são os bens de consumo dos quais as pessoas dispõem, mas sim as relações dentro do modo de produção capitalista.
“A perspectiva de dispor de um conjunto de bens de consumo de massa e dispor de um conjunto de direitos sociais significa mudar de classe? Não. Significa que a classe conquistou seus direitos e seu lugar”.
Márcio Pochmann, que é professor da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, ressaltou a ampliação de direitos e oportunidades para a população de baixa renda. 
“O povo brasileiro se transformou no grande protagonista das transformações que vemos hoje. Este é uma marco inegável da transformação da democracia de uma elite para uma democracia de massa. O caminho é universalizar as possibilidades que por muito tempo foram para poucos.”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava presente para assistir ao debate, falou ao final do evento a pedido do público, e saudou o livro como um contraponto aos ataques sofridos pelos governos do PT nos veículos da grande imprensa.
“Os apressados escreveram muita coisa ruim sobre o governo. Tem uma literatura farta contra o governo e contra o PT. E eu sempre tive consciência de que somente o tempo é que iria de se encarregar de colocar as coisas no lugar. Tinha consciência que meu problema com parte da elite política deste país e parte da imprensa brasileira era o meu sucesso.”
Ouça aqui a reportagem de Cláudio Manzzano.
*Saraiva

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