Pelo menos neste caso a Folha não se vendeu ao STF como fez a Globo
Jornal decidiu bancar ele mesmo as despesas do enviado a Costa Rica para cobrir viagem de Joaquim Barbosa.
Na tentativa de atenuar a conduta antiética do Globo e de Joaquim Barbosa, alguns leitores comentaram, no Diário, que todos os jornais tinham feito a mesma coisa.
A mídia brasileira teria, em massa, embarcado na caravana da alegria patrocinada pelo contribuinte mas oferecida pelo Supremo para que fossem feitas matérias positivas para JB na inútil, irrelevante, desprezível viagem que este fez para a Costa Rica.
A lógica, se entendi, era aquela de um romance de Agatha Christie em que um grupo enorme dá facadas numa pessoa.
Um assassinato coletivo não teria um culpado. Quase que não haveria crime, na verdade.
Bem, longe do mundo de Agatha Christie, decidi verificar.
Pesquisei os textos da Folha sobre JB na Costa Rica.
Não encontrei a informação de que o repórter da Folha teria viajado ‘a convite’ do STF.
Para o leitor fora do ramo: a Folha foi quem inovou, aspas, nesta prática.
Viagens na chamada ‘boca livre’ – há muito tempo proibidas nas empresas jornalísticas mais sérias – ainda vigoram na Folha.
O que a Folha fez para tentar manter a compostura: passou o problema ao leitor. Ela avisa que o repórter X está viajando ‘a convite’ de uma empresa, de um país ou, se for o caso, do Supremo.
Cabe ao leitor, assim, decidir se o texto é corrupto ou íntegro.
No caso da Costa Rica, não havia este aviso – presente nos artigos da jornalista da Globo. Sim, a Globo conseguiu macaquear a Folha numa prática que pisoteia ao mesmo tempo a ética e o leitor.
Teria a Folha deixado de dar este recado, por alguma razão?
Fui tirar a dúvida na fonte.
Fiz essa pergunta, pelo Facebook, a Sérgio Dávila, editor executivo da Folha e antigo colega de Abril.
A resposta: “Recebemos e recusamos o convite. Custeamos todas as despesas de nosso enviado.”
Dávila, editor executivo da Folha: “Recebemos e recusamos o convite” |
Que fique claro, então, que houve sim o terrível convite com o qual o contribuinte bancou uma operação autopromocional de Joaquim Barbosa.
O fato de a Folha, tão pronta a aceitar convites para se livrar de despesas editoriais indispensáveis ao bom jornalismo, ter recusado este do Supremo mostra o tamanho do abismo ético que havia na operação.
A Globo é assim no trato do dinheiro público: não tem cerimônia.
Em meus dias de Editora Globo, tive uma briga tenebrosa assim que cheguei porque recusei manter um esquema segundo o qual a revista Época elogiava um governador e, em troca, este fazia compras milionárias de livros da casa. (Tais compras renderam grandes bônus com os quais os diretores Juan Ocerin e Fred Kachar podiam renovar periodicamente seus BMWs e suas Porsches de novos ricos.)
Como a Globo se comporta é sabido, do BV aos vários financiamentos de mãe para filho concedidos por sucessivas administrações.
O fato novo, no episódio, é como Joaquim Barbosa lida com o dinheiro público. Dizem que é um homem inteligente.
Quer dizer, os que querem promovê-lo dizem.
Pergunta: com este alegado QI ele não foi capaz de enxergar o absurdo ético de patrocinar uma viagem ridícula com o dinheiro público? Ou dinheiro público, para ele, pode ser usado assim mesmo, com imenso desprendimento?
É um fato de extrema gravidade, uma vez que estamos falando do presidente do tribunal mais alto do Brasil. Se ele não sabe que o convite é antiético, o que saberá?
Uma mídia efetivamente a serviço do Brasil iria investigar o assunto.
Iria cobrar, em nome do povo, o STF no caso Costa Rica.
E traria informações novas: qual o Orçamento do Supremo para despesas como essas da viagem? Quem aprova as despesas? (Se é o próprio Supremo, amigos, temos um problema.) E por aí vai.
Isso se tivéssemos uma mídia a serviço do Brasil.
A nossa, lamentavelmente, está a serviço de si mesma
Paulo Nogueira No DCM
*cutucandodeleve
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