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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 14, 2013

Direita manipula a energia das ruas para fragilizar a presidente


JORNAL: O TEMPO


LEONARDO BOFF
Direita manipula a energia das ruas para fragilizar a presidente

PUBLICADO EM 12/07/13 - 02h21
É notório que a direita brasileira, apoiada pelas mídias privada e familiar, está se aproveitando das manifestações massivas nas ruas para manipular essa energia a seu favor. A estratégia é fazer sangrar mais e mais a presidente Dilma Rousseff e desmoralizar o PT, e assim criar uma atmosfera que lhe permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.

Se, por um lado, não podemos nos privar de críticas ao governo do PT, por outro não podemos ingenuamente permitir que as transformações político-sociais alcançadas nos últimos dez anos sejam desmoralizadas e desmontadas por parte das elites conservadoras.
É sabido que, com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste Europeu, em 1989, o presidente norte-americano Reagan e a primeira-ministra britânica Thatcher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado, tido como ineficiente, e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso, visava-se chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado, na qual tudo vira mercadoria. Conseguiram.
O Brasil, sob a hegemonia do PSDB, se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos, que foi maléfica ao interesse geral.
Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grande maioria da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro, como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos.
A crise econômico-financeira de 2008, instaurada no coração dos países centrais que inventaram essa perversidade social, foi consequência desse tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância.
Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta, e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macroeconomia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita dessa crítica não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político, especialmente aquele ligado ao poder de Estado, a partir do qual garantiam seu enriquecimento fácil.
Por isso, as massas devem continuar na rua contra elas. Precisam estar atentas a essa infiltração, que visa mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas.
Daí, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e a oposição para, juntas novamente, esvaziarem o clamor das ruas e manterem um status quo que prolongue benefícios compartilhados.
Dessa forma se enfrentarão as articulações da direita e se poderá, com mais força, reclamar reformas políticas de base que vão na direção de atender a infraestrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.
JORNAL: O TEMPO

LEONARDO BOFF
Direita manipula a energia das ruas para fragilizar a presidente

PUBLICADO EM 12/07/13 - 02h21
É notório que a direita brasileira, apoiada pelas mídias privada e familiar, está se aproveitando das manifestações massivas nas ruas para manipular essa energia a seu favor. A estratégia é fazer sangrar mais e mais a presidente Dilma Rousseff e desmoralizar o PT, e assim criar uma atmosfera que lhe permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.

Se, por um lado, não podemos nos privar de críticas ao governo do PT, por outro não podemos ingenuamente permitir que as transformações político-sociais alcançadas nos últimos dez anos sejam desmoralizadas e desmontadas por parte das elites conservadoras.
É sabido que, com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste Europeu, em 1989, o presidente norte-americano Reagan e a primeira-ministra britânica Thatcher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado, tido como ineficiente, e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso, visava-se chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado, na qual tudo vira mercadoria. Conseguiram.
O Brasil, sob a hegemonia do PSDB, se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos, que foi maléfica ao interesse geral.
Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grande maioria da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro, como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos.
A crise econômico-financeira de 2008, instaurada no coração dos países centrais que inventaram essa perversidade social, foi consequência desse tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância.
Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta, e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macroeconomia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita dessa crítica não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político, especialmente aquele ligado ao poder de Estado, a partir do qual garantiam seu enriquecimento fácil.
Por isso, as massas devem continuar na rua contra elas. Precisam estar atentas a essa infiltração, que visa mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas.
Daí, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e a oposição para, juntas novamente, esvaziarem o clamor das ruas e manterem um status quo que prolongue benefícios compartilhados.
Dessa forma se enfrentarão as articulações da direita e se poderá, com mais força, reclamar reformas políticas de base que vão na direção de atender a infraestrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.
*JaneM.

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