por Vitor Sion, no Opera Mundi
Guilherme de Aguiar Patriota afirmou que grandes veículos brasileiros são "nostálgicos" da Alca e críticos do Mercosul
Um dos assessores da presidente Dilma Rousseff para assuntos
internacionais, o embaixador Guilherme de Aguiar Patriota lamentou nesta
quarta-feira (17/07) que a legislação brasileira ainda permita a
propriedade cruzada nos meios de comunicação. No penúltimo dia de
debates da conferência “2003-2010: Uma nova política externa”, na
Universidade Federal do ABC, Patriota argumentou que a concentração dos
grandes veículos da imprensa nas mãos de poucos grupos dificulta a
implementação de uma diplomacia autônoma em relação aos Estados Unidos.
“A imprensa é um ator importante na formulação da nossa política
externa, pois a opinião pública é formada basicamente por grandes
jornais e canais de televisão. E aqui ainda é permitida a propriedade
cruzada dos meios. Então é muito difícil executar uma diplomacia contra a
grande imprensa, pois eles vão criticar o governo de maneira muito
contundente, não vão economizar recursos para isso”, afirmou o
embaixador.
Patriota, que é irmão do chanceler Antonio Patriota, classificou o
posicionamento da mídia nacional como defensor de um aprofundamento da
relação bilateral com os Estados Unidos, crítico do Mercosul e
nostálgico da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), iniciativa dos
EUA rechaçada pelos países latino-americanos. “Esse cenário poderá ser
quebrado com a internet. Espero que o meio digital não tenha
concentração como a grande mídia. O governo deve ficar atento para que
isso não ocorra”, argumentou.
O tema da democratização dos meios de comunicação já havia aparecido no
seminário da UFABC nesta terça-feira. Na ocasião, o embaixador Samuel
Pinheiro Guimarães, um dos principais formuladores da política externa
do governo Lula (2002-2010), considerou que uma mudança nessa área é
“essencial”.
“O primeiro passo seria dividir melhor a verba de propaganda do governo,
que hoje é distribuída pelo critério de audiência, dando prioridade aos
grandes oligopólios. Uma ideia seria tentar analisar a qualidade da
informação e criar uma cota máxima para cada veículo, como nos EUA, mas é
muito difícil que um projeto desse passe pelo Congresso”, lamentou.
Pinheiro Guimarães também lembrou que os Estados que tentaram
democratizar a imprensa na América Latina, como Argentina e Venezuela,
têm sofrido “intensa campanha contrária na mídia brasileira”. A
conferência “2003-2010: Uma nova política externa” termina hoje, em São
Bernardo do Campo, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
* Blog Justiceira de Esquerda
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