Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 19, 2013

Lula fala sobre política externa na Conferência 2003-2013 e defende Snowden


Lula defende Snowden: "ele presta serviço à humanidade denunciando os EUA"

Ex-presidente também afirmou que Brasil assumiu papel-chave na geopolítica mundial ao não se submeter a Washington
Lula defende autonomia na política externa brasileira Douglas Calixto / Opera Mundi
Sob críticas ou aplausos, a política externa brasileira teve outro rumo na administração de Luiz Inácio da Silva. O ex-presidente, em palestra na UFABC nesta quinta-feira (18/07), usou palavras do cantor Chico Buarque para definir qual foi a estratégia brasileira em sua administração (2003-2010). “Fomos respeitados porque não falamos grosso com a Bolívia ou falamos fino com os EUA”, disse.
Nessa linha, Lula não titubeou ao ser perguntado sobre a sua opinião sobre o ex-funcionário da CIA Edward Snowden, responsável por revelar esquema internacional de espionagem comandando por Washington. “Ele prestou um serviço à humanidade, denunciando um mau comportamento dos EUA”, afirmou o ex-presidente, dizendo não conhecer os motivos para o Itamaraty ter negado o pedido de asilo político ao norte-americano.
“Os EUA se comportam como os xerifes do mundo e as elites brasileiras, que dirigiam esse país, sofriam do mal de 'cachorro vira-lata'. Qualquer imposição norte-americana tinha que ser aceita sem qualquer tipo de debate porque nós nascemos para ser inferiores. Eu lutei contra isso e nós mudamos o nosso patamar. Hoje o Brasil tem sua autonomia”, disse o presidente.
Em auditório lotado em São Bernado, Lula ligou a posição de destaque no Brasil no cenário internacional ao fato do enfrentamento de ondas conservadores que “defendiam a relação de serventia aos EUA”, exatamente como o que acontece com o escandâlo de espionagem norte-americana, delatado por Snowden no mês de junho.
O ex-presidente também cobrou uma posição mais insiva da ONU nos confrontos no Oriente Médio. Para ele, a entidade teve critérios diferentes, sempre privilegiando as grandes potências. “A mesma força que a ONU teve para criar o estado de Israel deveria ter para criar o estado palestino”, disse.
O exempo marcante de Lula para explicar a queda de braço com as grandes potências foi o tratamento discriminatório dos países ricos em relação à participação do Brasil nas negociações entre Washington e Irã sobre o programa nuclear iraniano. O ex-presidente afirmou que diversos dirigentes o consideraram ingênuo por se envolver com a questão.
"Conversei com os principais líderes mundiais e ninguém deles havia falado com Ahmadinejad (ex-presidente iraniano). Quando disse que iria me encontrar com ele, fui atacado por diversas pessoas. Disseram para mim que ele não cumpria com o que falava e que era inegociável. Disse isso para Ahmadinejad e sai de lá com um documento assinado com todas as exigências que Barack Obama havia dito que seria inegociáveis com o Irã. Isso prova que as grandes potências não aceitam um novo ator no cenário mundial", criticou o presidente.
Lula também discorreu sobre América Latina, dizendo que o bloco alcançou um incrível patamar de crescimento social após "uma sucessão histórica de fatos", disse em referência à eleição Hugo Chávez, Evo Morales, Néstor Kirchner, entre outros presidentes ligados às causas sociais e de ordem contra hegemônica. "O que aconteceu aqui foi um momento histórico", ponderou.
*comtextolivre

Nenhum comentário:

Postar um comentário