Lula defende Snowden: "ele presta serviço à humanidade denunciando os EUA"
Ex-presidente também afirmou que Brasil assumiu papel-chave na geopolítica mundial ao não se submeter a Washington
Lula defende autonomia na política externa brasileira Douglas Calixto / Opera Mundi |
Sob críticas ou aplausos, a política externa brasileira teve outro rumo
na administração de Luiz Inácio da Silva. O ex-presidente, em palestra
na UFABC nesta quinta-feira (18/07), usou palavras do cantor Chico
Buarque para definir qual foi a estratégia brasileira em sua
administração (2003-2010). “Fomos respeitados porque não falamos grosso
com a Bolívia ou falamos fino com os EUA”, disse.
Nessa linha, Lula não titubeou ao ser perguntado sobre a sua opinião
sobre o ex-funcionário da CIA Edward Snowden, responsável por revelar
esquema internacional de espionagem comandando por Washington. “Ele
prestou um serviço à humanidade, denunciando um mau comportamento dos
EUA”, afirmou o ex-presidente, dizendo não conhecer os motivos para o
Itamaraty ter negado o pedido de asilo político ao norte-americano.
“Os EUA se comportam como os xerifes do mundo e as elites brasileiras,
que dirigiam esse país, sofriam do mal de 'cachorro vira-lata'. Qualquer
imposição norte-americana tinha que ser aceita sem qualquer tipo de
debate porque nós nascemos para ser inferiores. Eu lutei contra isso e
nós mudamos o nosso patamar. Hoje o Brasil tem sua autonomia”, disse o
presidente.
Em auditório lotado em São Bernado, Lula ligou a posição de destaque no
Brasil no cenário internacional ao fato do enfrentamento de ondas
conservadores que “defendiam a relação de serventia aos EUA”, exatamente
como o que acontece com o escandâlo de espionagem norte-americana,
delatado por Snowden no mês de junho.
O ex-presidente também cobrou uma posição mais insiva da ONU nos
confrontos no Oriente Médio. Para ele, a entidade teve critérios
diferentes, sempre privilegiando as grandes potências. “A mesma força
que a ONU teve para criar o estado de Israel deveria ter para criar o
estado palestino”, disse.
O exempo marcante de Lula para explicar a queda de braço com as grandes
potências foi o tratamento discriminatório dos países ricos em relação à
participação do Brasil nas negociações entre Washington e Irã sobre o
programa nuclear iraniano. O ex-presidente afirmou que diversos
dirigentes o consideraram ingênuo por se envolver com a questão.
"Conversei com os principais líderes mundiais e ninguém deles havia
falado com Ahmadinejad (ex-presidente iraniano). Quando disse que iria
me encontrar com ele, fui atacado por diversas pessoas. Disseram para
mim que ele não cumpria com o que falava e que era inegociável. Disse
isso para Ahmadinejad e sai de lá com um documento assinado com todas as
exigências que Barack Obama havia dito que seria inegociáveis com o
Irã. Isso prova que as grandes potências não aceitam um novo ator no
cenário mundial", criticou o presidente.
Lula também discorreu sobre América Latina, dizendo que o bloco alcançou
um incrível patamar de crescimento social após "uma sucessão histórica
de fatos", disse em referência à eleição Hugo Chávez, Evo Morales,
Néstor Kirchner, entre outros presidentes ligados às causas sociais e de
ordem contra hegemônica. "O que aconteceu aqui foi um momento
histórico", ponderou.
*comtextolivre
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