Concentração, manipulação, promiscuidade política e corrupção são problemas comuns ao conjunto das empresas que controlam a comunicação de massa no país. E as Organizações Globo são seu maior símbolo
por Intervozes - Carta Capital
Nesta
quinta-feira, 11 de julho, uma mobilização convocada por mais de 80
organizações, movimentos sociais e centrais sindicais tomará novamente
as ruas do Brasil pedindo transformações em nosso país. Ao lado de temas
como a destinação de 10% do PIB para a edução, melhoria no SUS e
garantia de investimentos na saúde, transporte público de qualidade,
redução da jornada de trabalho para 40 horas e defesa da reforma
agrária, a democratização da mídia também será uma reivindicação central
dos manifestantes. Em várias capitais, os protestos terminarão em
frente à sede da TV Globo, repetindo e reforçando atos que aconteceram
em todo o país na última semana (página do protesto que acontecerá em São Paulo).
Mas por
que a Globo como alvo, se a crítica cada vez maior da população acerca
do papel dos meios de comunicação de massa aponta para problemas comuns
ao conjunto das grandes empresas que controlam a maioria do que se lê,
assiste e ouve no Brasil? Porque a Globo é um símbolo. É parte desse
problema e uma de suas principais causas. Vale enumerar:
ConcentraçãoO
cenário na televisão brasileira é de quase monopólio – algo proibido
pela Constituição Federal, mas nunca garantido na prática. Na TV aberta,
a Globo controla 73% das verbas publicitárias, embora tenha 43% da
audiência. No mercado de TV por assinatura, a Globosat participa de 38
canais e tem poder de veto na definição dos canais da NET e da SKY, que
juntas controlam 80% do conjunto de assinantes. Em grandes cidades como o
Rio de Janeiro, o grupo controla os principais jornais, TVs e rádios,
situação que seria proibida nos Estados Unidos e em vários países da
Europa, onde há regulação democrática da mídia anticoncentração.
Promiscuidade política
Várias
emissoras afiliadas da Globo pelo Brasil são controladas por políticos
envolvidos em inúmeros escândalos: no Maranhão, a família Sarney
controla a TV Mirante; em Alagoas, Fernando Collor controla a Gazeta;
entre outros. É importante lembrar que a Constituição Federal também
proíbe, em seu artigo 54, que políticos detentores de cargos eletivos
controlem concessionárias de serviço público. Historicamente, as
Organizações Globo construíram seu poder econômico e político a partir
de estreitos laços com a ditadura militar, que lhe garantiu o acesso a
toda a estrutura da Telebrás e a expansão nacional do seu sinal.
Manipulação
A
emissora opera politicamente, direcionando o noticiário jornalístico a
partir de suas opiniões conservadoras e buscando definir a agenda
pública do país a partir de entrevistados que têm visões alinhadas. A
mudança que vimos recentemente na abordagem da cobertura dos protestos
simboliza bem a transição entre a deslegitimação e a tentativa de
cooptação das ruas a partir de sua própria pauta. Momentos grosseiros de
manipulação, como a cobertura das Diretas Já ou a edição do debate
entre Collor e Lula, que favoreceu a eleição do primeiro, ainda existem,
mas perdem espaço para uma manipulação mais sutil, sofisticada e
cotidiana – muitas vezes imperceptível para grande parte da população.
CorrupçãoA
recente denúncia de uma operação fraudulenta da Globo para sonegar
impostos na compra dos direitos de exibição da Copa do Mundo de 2002 –
sobre a qual a população ainda aguarda explicações – não é o primeiro
caso de corrupção na história da empresa. Seu crescimento na década de
1960 se deu a partir de um acordo técnico ilegal com o grupo Time-Life,
que mereceu uma CPI no Congresso Nacional, mas foi abafado. Além disso, a
Globo – como outras emissoras – vende espaços editoriais para
divulgação de filmes e artistas, numa conhecida prática de grilagem
eletrônica, que termina por absorver recursos públicos incentivados do
cinema nacional.
Por estes e outros motivos a
Globo simboliza os podres da mídia brasileira. Por este e outros
motivos, a democracia brasileira só será consolidada quando os meios de
comunicação de massa forem também democratizados; quando os princípios
previstos na Constituição para a comunicação social saírem do papel e
quando a liberdade de expressão for um direito garantido a todos e
todas.
*Mariadapenhaneles
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