Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 16, 2013

Protestos são resultado de 'sucesso' do País, diz Lula



 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que as manifestações brasileiras são resultado do sucesso econômico e social sem paralelo do Brasil na última década, de jovens de famílias pobres que, pela primeira vez, conseguiram entrar em uma universidade, comprar carro e voar de avião e agora querem participar mais da vida política e melhores serviços públicos, diz em um artigo no jornal norte-americano The New York Times, no qual argumenta ainda que o PT precisa passar por uma renovação profunda para lidar com estes novos tempos.


Lula começa seu artigo falando que parece mais fácil explicar os protestos populares quando eles acontecem em países não democráticos, como o Egito e a Tunísia, em 2011, ou em nações em que a crise econômica aumentou o desemprego entre os jovens, como na Grécia e na Espanha, do que no Brasil, que passa por níveis historicamente baixos de desemprego e experimenta uma expansão econômica e social sem paralelos.

"As demonstrações são resultado dos sucessos econômico, político e social do País", avalia o ex-presidente. Lula cita que na última década o Brasil dobrou o número de estudantes universitários, muitos vindos de famílias pobres. "Reduzimos nitidamente a pobreza e a desigualdade."

O ex-presidente vê como um processo natural que esses jovens, que estão obtendo coisas que seus pais não tiveram condições de ter, queiram ainda mais. Esses jovens, ressalta Lula, não experimentaram a repressão da ditadura militar nos anos 60 e 70 e nem a inflação galopante dos anos 80. "Eles se lembram muito pouco dos anos 90, quando a estagnação e o desemprego deprimiram a economia. Eles querem mais."

Muitos jovens e famílias conseguiram nos últimos anos comprar seus primeiros carros e fazer a primeira viagem de avião. É compreensível que neste contexto eles queiram serviços públicos melhores, sobretudo nas grandes cidades, avalia Lula.

Além da necessidade de melhora material dos serviços públicos, Lula diz que os jovens que protestam nas ruas também querem instituições políticas mais transparentes e claras, sem as distorções do sistema político e eleitoral anacrônico brasileiro. "A legitimidade destas demandas não pode ser negada, mesmo sendo difícil atendê-las rapidamente. Primeiro é necessário achar os recursos, estabelecer objetivos e um cronograma."

Uma sociedade democrática, diz Lula, está sempre em fluxo, debatendo e definindo prioridades e desafios. Só uma democracia poderia eleger um índio para presidente da república, como na Bolívia, ou um afro-americano, como nos Estados Unidos, ou ainda um metalúrgico e em seguida uma mulher, como no Brasil.

No artigo, Lula defende a existência dos partidos políticos, muito criticados durante as manifestações. "A história mostra que quando os partidos são silenciados e as soluções são buscadas à força, os resultados são desastrosos, como guerras, ditaduras e perseguições de minorias", diz Lula. "Sem partidos não pode existir uma democracia verdadeira." Mas as pessoas, diz ele, não querem apenas votar a cada quatro anos, elas querem participar e interagir diariamente nos governos, locais e federais. "Elas querem ser ouvidas. E isto cria um tremendo desafio para os líderes políticos."

Para Lula, os líderes políticos têm que ter melhores formas de engajamento e interação neste novo cenário, seja nas redes sociais, nas fábricas ou nas universidades. Se as instituições democráticas usarem as novas ferramentas tecnológicas para, não apenas fazer propaganda, mas também para dialogar com a sociedade, elas estarão respirando um ar novo, avalia.

Renovação

O ex-presidente diz que mesmo o PT, partido que ajudou a fundar em uma época que a classe operária não tinha representantes, precisa de uma "renovação profunda". O PT precisa recuperar a ligação diária com os movimentos sociais e oferecer novas soluções para novos problemas.

"A boa notícia é que os jovens não são conformistas apáticos ou indiferentes à vida pública." Mesmo aqueles que odeiam a política, estão começando a participar.
Postado por Jussara Seixas

Nenhum comentário:

Postar um comentário