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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 06, 2015

São chocantes os dados do Incra, que mostram a evolução da concentração da propriedade da terra no Brasil. De acordo com o...

Não existe mais latifúndio no Brasil?

Sen Lindenberg Farias



São chocantes os dados do Incra, que mostram a evolução da concentração da propriedade da terra no Brasil. De acordo com o cadastro, 2,5% de proprietários concentram 55% do total de terras do país!

Infelizmente, a declaração da ministra Kátia Abreu não condiz com a realidade brasileira, que possui essa estrutura de propriedade da terra altamente concentrada. Latifúndio existe sim. E não só existe como está cada dia mais improdutivo: 71% das "grandes propriedades" estão abaixo da produtividade média, descumprindo sua função social de viabilizar direitos como alimentação e moradia.

Há muita terra ociosa ou com baixíssimo grau de utilização, que poderia atender à demanda dos trabalhadores sem terra. Não é favor. É lei. E a lei diz que o uso da propriedade privada da terra é condicionado ao bem-estar coletivo, sendo que as terras que não cumprem sua função social devem ser destinadas para a Reforma Agrária. Dizer hoje que não existe latifúndio, tratá-lo como ficção, é uma jogada política e ideológica: ora, se não existe latifúndio (lembrando que 71% deles não alcançaram patamares mínimos de produtividade), não precisamos de reforma agrária.

Se queremos falar de justiça social social neste país, é fundamental garantir o bem-estar do trabalhador rural, do camponês e inseri-lo no centro do desenvolvimento econômico. A agricultura camponesa hoje emprega 74% da mão-de-obra no campo, enquanto o agronegócio, apenas 26%. Paradoxalmente, o agronegócio detém 76% das terras. Precisamos equilibrar esse jogo.

Além disso, somam-se a essa concentração clássica e histórica da propriedade da terra no Brasil (favorecida pela completa falta de tributação fundiária) as fragilidades cadastrais e a apropriação ilegal. Apesar dos esforços de regularização fundiária pelo governo federal, o que se vê ainda são situações de apropriação ilegal de terras devolutas ou mesmo já arrecadadas, e irregularidades no Cadastro, que permitem que, em alguns casos, a área dos imóveis cadastrados supere a própria área total do estado.

Enfrentar as desigualdades em nosso país passa pela democratização da terra e recursos naturais. Negar a existência do problema da sua posse e uso no Brasil é o mesmo que não trabalhar por mais igualdade e justiça social.

Agora, apesar de Kátia Abreu, nós vamos fazer essa reforma agrária no Brasil avançar. Por causa da luta determinada das entidades, do MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, da CONTAG e também porque podemos contar com o comprometimento do ministro Patrus Ananias, que tem força política para fazer essa pauta prosperar.

Viva os trabalhadores rurais, viva a luta pela reforma agrária!

Foto: MST

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