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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 27, 2012

Morreu Al Jazeera.

do:InformaçãoIncorrecta

Al Jazeera perde pedaços.

"Tá bom"; pode pensar o Leitor, "afinal é só uma rede televisiva como muitas..."
Leitor malandro, não é bem assim.

Al Jazeera representou muito mais do que isso: era a voz do mundo islâmico, a voz culta, racional, informada, sempre à frente. Uma fonte de notícias únicas, uma das poucas vozes digna da informação global, dominada pelos media ocidentais ou pro-ocidente.

Isso antes. Agora é diferente.

Com a cobertura tendenciosa da crise na Síria e o silêncio ensurdecedor acerca da crise no Bahrein, Al Jazeera despiu o disfarce e mostrou o que realmente é: mais uma voz ao serviço do Império e dos aliados deste. Por isso, alguns importantes membros da filial de Beirute anunciaram a demissão ou já foram-se embora, como relatado pelo diário libanês Al Akhbar.

O managing director de Beirute, Hassan Shaaban, uma semana atrás tinha anunciado a sua ida, depois do correspondente Ali Ashem e do productor Mousa Ahmad. Todos em protesto contra a maneira como foram apresentados os eventos na Síria. Isso sem contar a revolta do Bahrein.

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