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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, abril 27, 2012

A tungada do pedágio urbano

 

Fiéis à tradição de desdizerem a cada propositura legislativa o que afirmam em discurso com relação à redução de taxas e impostos, os partidos aliados ao prefeito Kassab em São Paulo – Democratas e PSDB – tentam agora instaurar o chamado rodízio urbano.
Por essa nova legislação todos os veículos que adentrarem na área do centro expandido da capital, aquela zona compreendida entre as marginais e as avenidas que circundam os bairros mais centrais da cidade, deverão pagar uma quantia aos cofres municipais. Como o município possui sete milhões de automóveis, está evidente o que move as intenções dos legisladores municipais e as do prefeito que as emula.
Dizem que a expressiva coleta de recursos do contribuinte a ser amealhada com a obrigação destinar-se-á à instalação de infraestrutura necessária ao fomento do transporte coletivo. Nada mais falacioso, pois além da impossibilidade de fiscalizar a aplicação do que vier a ser recolhido com mais essa taxação, o município possui receitas mais que suficientes para contribuir com essa obrigação que não é prioritariamente sua, mas do Estado, de prover linhas de metrô, ferrovias e linhas de trens leves sobre trilhos.
Escudados no argumento de saneamento da qualidade do ar, o que os vereadores ligados aos dois partidos situacionistas na capital pretendem é fazer com que os proprietários de carro financiem a instalação de meios de transporte de massa que em mais de 20 anos os governantes no município e no Estado não foram capazes de prover, mesmo com as arrecadações recordes dos últimos 10 anos de bonança econômica.
Se vinham antes ensaiando meios ilegítimos de arrecadação baseados na indústria da multa e da inspeção veicular, agora os “inimigos dos impostos” atacam frontalmente os contribuintes do imposto sobre circulação de mercadorias, o IPVA, com uma taxa discricionária que ignora o direito constitucional de ir e vir de cada cidadão num quadro de ausência de transportes coletivos, em quantidade e qualidade necessária.   
 Na verdade, o que buscam prefeito e vereadores é atender a lobbies de empresas privadas prontas a oferecer os meios de controle  para que a medida venha ser implantada – como a empresa Controlar – e fechar ainda antes que se encerra a fracassada gestão de Serra-Kassab inúmeros contratos com empreiteiras amigas tendo por lastro as fontes de receitas propiciadas pela nova legislação.
Espera-se que os candidatos às eleições que decidirão quem será o sucessor de Kassab denunciem mais essa manobra de fim de gestão do antipopular prefeito e a ela não se acomodem, esperando com isso usufruir de vantagens fiscais espúrias à expensas da justiça tributária devida aos contribuintes paulistanos.
*Brasilquevai

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