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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Tribunal julga amanhã recurso do torturador Brilhante Ustra

Tribunal julga amanhã recurso de coronel acusado de tortura 
O Tribunal de Justiça de São Paulo julga amanhã (22) o recurso do coronel da reserva Carlos Brilhante Ustra contra a sentença na qual foi reconhecido como torturador de presos políticos. A sentença inicial foi proferida no dia 8 de outubro de 2010, na 23.ª Vara Civil do Fórum João Mendes, em São Paulo. Foi uma decisão inédita.
 A ação é movida pela família Teles e envolve o período em que o coronel comandou o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do 2o. Exército, entre 1970 e 1974. A sessão deve iniciar às 13h30, na sede do TJ, na Praça da Sé. Ex-presos políticos e familiares de mortos e desaparecidos no período do regime militar vão se reunir no local.
O casal Maria Amélia e César Teles estiveram presos no DOI-Codi de São Paulo durante onze meses, em 1973. Em seu relato na Justiça declararam que foram torturados  em diversas ocasiões.
Maria Amélia, mais conhecida como Amelinha, disse ao juiz Gustavo Santini Teodoro que seus dois filhos, Janaína, de 5 anos, e Edson, de 4, foram mantidos na cela com os pais durante quase dez dias. Logo após a sentença, o suplemento Aliás publicou uma reportagem sobre a história, assinada pelo jornalista Ivan Marsiglia, com impressionantes relatos dos integrantes da família. Em um dos trechos, Janaína, que hoje é historiadora, diz: “Infelizmente, eu me lembro. Lembro dos gritos, da escuridão, de quando me levaram para ver minha mãe toda machucada, ensanguentada, na cadeira do dragão (instrumento de tortura com assento, apoio de braços e espaldar de metal onde o prisioneiro era amarrado nu, com o corpo molhado, e submetido a choques elétricos).”

*esquerdopata

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