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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Rio de Janeiro inaugura exposição sobre obra do cartunista Henfil

Charge Henfil - Queremos o poder
Entre os dias 25 de janeiro e 28 de fevereiro, no Rio Previdência Cultural, o Instituto Henfil estará apresentando uma exposição para registrar os 25 anos de morte do cartunista Henfil, criador dos personagens Graúna, Zeferino, Bode Orelana, os Fradins e onça Glorinha. A exposição é organizada por Ivan de Souza, filho do artista e Sasha Rodrigues, neto do jornalista Nelson Rodrigues. Hemofílico, Henrique de Sousa Filho, o Henfil, faleceu em 4 de janeiro de 1988 em decorrência de complicações da Aids, contraída em uma transfusão de sangue.
Entre as obras que ficarão expostas se destacam as tirinhas da Graúna, publicadas em periódicos como ‘O Pasquim’ e ‘Jornal do Brasil’. O passarinho preto, um dos personagens mais conhecidos de Henfil falava sobre os problemas políticos e sociais do Nordeste brasileiro. Os textos de ‘Cartas da Mãe’, que Henfil publicava desde os anos 1970, primeiramente em ‘O Pasquim’ e depois na última página da revista ‘Isto é’, também fazem parte do acervo do evento e serão lidas na inauguração da exposição. Eram textos com discreto tom político sobre o cotidiano do Brasil, a censura e a repressão militar. Nesses textos, Henfil comentava também, de forma sutil, a ausência de seu irmão Betinho, que estava exilado desde 1971.
Ao longo da exposição, os visitantes poderão assistir ao documentário ‘Três Irmãos de Sangue’, lançado em 2006. Dirigido por Ângela Patrícia Reiniger, o filme conta a vida dos irmãos hemofílicos Betinho, Henfil e Chico Mário, que transcenderam sua precária condição de saúde para enfrentar a ditadura no Brasil, lutar contra a Aids e brilhar em suas áreas de atuação: a sociologia, o humor e a música. Outra obra audiovisual presente na exposição será o  longa-metragem de ficção ‘Tanga – Deu no New York Time’, que foi dirigido por Henfil e roteirizado em parceria com Jofre Rodrigues. No elenco do longa premiado no Festival do Rio de 1987 estão Flávio Migliaccio, Ricardo Blat, Elke Maravilha, Cristina Pereira, Chico Anísio, Jaguar, Daniel Filho, Haroldo Costa, Ernane Moraes e Fausto Wolff. Outros dois documentários também fazem parte da programação.
O Rio Previdência Cultural fica localizado na Avenida Professor Manoel de Abreu, 300 – Maracanã.
*Clippingdodia

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