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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 27, 2013

DE GOLPES E LABAREDAS

      
(HD)- Certa militante de partido da oposição usa a internet para divulgar “golpe comunista” em 2014. Estudante pernambucano de 19 anos, para ridicularizar o gesto, cria, pelo mesmo meio, a frase “Eu Vou. Golpe Comunista em 2014. Os reacinhas piram!”, ilustrada com a foice e o martelo, e consegue milhares de “apoiadores” para  manifestação fictícia marcada para o começo do ano que vem. O banner passa a ser reproduzido em sites de direita e de extrema direita, como se tratasse de  ameaça real. Um farmacêutico de 34 anos “reage”, criando página no Facebook, sob o título “Golpe Militar 2014”.
        Desta vez, no entanto, não se trata de uma “brincadeira”. Trata-se, sim, segundo ele, de “testar o apoio a um golpe militar no Brasil”, e de defender a tese de que “nenhuma solução virá das urnas”. A página, ilustrada com fotos copiadas de um site oficial do Exército, torna-se desaguadouro de comentários radicais.
       O que está ocorrendo com a Nação? Estaríamos, na velocidade da internet, dando inequívoca demonstração de falta de bom senso?  Consideramos, como certos meios de comunicação, normal esse tipo de “brincadeira”? Ou os políticos, por ignorância ou omissão, desconhecem o que se passa?
       Basta navegar pela Rede, para ver que vivemos perigoso processo de radicalização nos extremos do espectro político brasileiro. Quem usar parte de seu tempo pode encontrar dezenas de sites que pregam a quebra da ordem institucional e o fim do Estado de Direito. Há páginas de orientação nazista, integralista, sites anticomunistas católicos, blogs ligados a organizações estrangeiras, sites que afirmam representar segmentos associados à reserva das Forças Armadas, a policiais e bombeiros.
      Acusado de pretender o “golpe”, o PT deveria ter tomado providências. Brincadeira ou não, ao ver seu símbolo ligado à mesma idéia, o PCB e o PC do B deveriam ter pedido à justiça a retirada do material do ar, e a proibição de sua reprodução futura.
      Tudo isso mostra que é preciso aprovar, com a máxima urgência, legislação clara de proteção à democracia no Brasil. Em um país em que, todos os anos, páginas são retiradas do ar por iniciativa do Ministério Público, e a apologia do tráfico de drogas e ao racismo dá cadeia, o apelo à quebra da ordem constitucional e ao fim do Estado de Direito deve ser investigado e seus autores punidos.
     A volta da democracia ao nosso país foi  conquista, árdua e sacrificada, de todo o povo brasileiro. À esquerda e à direita, não podemos brincar com fogo. É preciso que se convoquem e se unam os setores mais responsáveis da sociedade - à margem  de suas opções políticas e ideológicas -  para acabar com essas provocações, antes que se alastrem, como um vírus, contaminando o país e ameaçando a República.
*MauroSantayana

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