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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, maio 31, 2014

Não, não são apenas uns pedaços de pano costurados


bandeira

Do site Tijolaço


Resumida a isso, a manifestação “anti-Copa” partiu para uma exibição imbecil.
Queimar a bandeira brasileira.
Sem simplismos patrióticos de “ultraje à Pátria”, um ato de estupidez que mexe com algo que vai além, muito além, de um pano costurado ou da representação formal deste país.
Gente tão auto-suficiente em seus delírios autoritários que não consegue ver que, para este povo colonizado, dominado, saqueado, explorado e discriminado aquela é a única coisa que identifica, reúne, que faz a todos se sentirem parte de um todo.
O sentimento generoso da juventude não pode ser dominado por uma arrogância idiota daqueles que se acham os “portadores da verdade e da pureza”; e que não são capazes, em seu primarismo feroz, de entender a importância do sentimento democrático de que somos todos brasileiros.
Não há, no gesto de atear fogo à bandeira brasileira, o significado que, pelo mundo, tem as cenas comuns de incinerar a bandeira americana. Ali, não se estava ateando fogo à pátria americana, mas à ação daquele país sobre outros, oprimindo povos, derrubando ou estabelecendo governos, intervindo militarmente em outras terras.
Ou será que eu estou sendo generoso e o que fizeram traduz seu próprio sentimento de que o Brasil é um lixo para eles, “cosmopolitas” demais, embora não tenham capacidade de compreender ou de se  emocionar com tudo o que a cultura e a diversidade planetária já produziu em livros, pintura, arquitetura e tudo o que os homens são capazes de produzir somando suas próprias origens ao sentimento de mundo?
Não, meninos, não confundam Picasso com Picachu, dos pokemonscom que vocês brincavam até o ano passado.
Ao contrário do que vocês não pensam, a ideia de Nação é o traço de unidade de um povo e sua alavanca de ascensão.
Sem ela – e os nossos amigos do PT demoraram a compreender isso – o progresso passa a ser visto como mérito pessoal e não como processo coletivo.
O povo brasileiro, quando se entende como  Nação, rapazes,  tem uma força que vai muito além do que vocês imaginam ser, uma torcida de futebol.
E aquilo, por isso, não é só uma bandeirinha.
PS. Vi agora e recomendo a matéria do Viomundo sobre o leitor que “pagou geral” na loja de luxo de shopping por causa de camiseta “Abaixo este Brasil atrasado”. Atrasado que vende camiseta a 100 reais.

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