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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, maio 25, 2014

Em sua 4ª edição na cidade, Marcha das Vadias em SP

marcha paulo ermantino

Mulheres tomam a avenida Paulista

Em sua 4ª edição na cidade, Marcha das Vadias reuniu centenas de pessoas para dizer que sexo sem consentimento é estupro
Por Ivan Longo 
O tema da edição deste ano é "Quem cala não consente". (Fotos: Ivan Longo)
O tema da edição deste ano é “Quem cala não consente”. (Fotos: Ivan Longo)
Em sua 4ª edição em São Paulo, a Marcha das Vadias ocupou, hoje, parte da avenida Paulista. O tema da manifestação, neste ano, foi “Quem cala não consente”, que reforça a ideia de que sexo não consentido também é estupro.
“É um grito que a gente adotou contra a cultura do estupro, que considera que a mulher enquanto estiver calada é por que ela quer”, explicou Andrea, de 19 anos que faz parte do coletivo que organiza a Marcha das Vadias, que preferiu não revelar o sobrenome.
“Por exemplo, quando uma mulher vai pra balada e um cara se aproxima dela, puxa pela cintura e tenta beijar. As vezes ela se sente intimidada, e não consegue falar não. Ele interpreta aquilo como um sim e faz o que ele quiser fazer”, exemplifica Andrea.
Segundo dados divulgados pelas organizadoras da marcha, 64% dos estupros ocorrem na casa da vítima e apenas 18% em vias públicas.
Passeata
Reunidas no vão livre no Masp desde às 11h da manhã, onde ocorreu a confecção de cartazes e performances artísticas, as mulheres seguiram em marcha, por volta das 14h20, sentido rua Augusta, onde desceram até a Praça Roosevelt, local em que terminou o protesto. Cerca de mil pessoas fizeram parte da passeata, que tomou todas as faixas da avenida Paulista sentido Consolação.
Ao som de bateria, as mulheres entoavam músicas em que enfatizavam os direitos que têm sobre o próprio corpo e convocavam o público que estava na rua a integrar a luta contra o machismo.
A passeata bloqueou todas as faixas da Av. Paulista sentido Consolação.
A passeata bloqueou todas as faixas da Av. Paulista sentido Consolação.
Entre outras reivindicações, as manifestantes não deixaram de lembrar da Copa do Mundo, com gritos como “da Copa eu abro mão, do feminismo, não”.
Corpo nu
A Marcha das Vadias ficou conhecida mundialmente principalmente pelo fato de que muitas mulheres utilizam do próprio corpo para protestar, o que chama muito a atenção da imprensa e das pessoas de uma forma geral. Mostrar os seios tornou-se um símbolo de luta pelo direito de escolher a maneira como lida com o próprio corpo sem ser julgada ou culpabilizada.
Alguns coletivos feministas, no entanto, são críticos em relação a essa postura, alegando que a exposição do corpo só reforça sua objetificação.
Na marcha deste ano, apesar de minoria, havia mulheres que fizeram questão de expor os seios e protestar dessa maneira. “Eu acho que a falta de roupa é a forma de atrair a grande mídia e uma forma oportunista de aproveitar o marketing fazem em cima da mulher nua. Eu acho super certo. A partir do momento que estamos passando a mensagem de um oprimido, as pessoas têm que aceitar. A gente não tem voz na sociedade. Qualquer tipo de manifestação dessa voz é válida”, explicou Valesca Pinheiro, uma seguidora da Marcha de 19 anos, que estava com os seios à mostra.
Mostrar os seios tornou-se símbolo da luta pela autonomia do próprio corpo.
Mostrar os seios tornou-se símbolo da luta pela autonomia do próprio corpo.
Andrea, da organização do protesto, também falou sobre o assunto. “É uma minoria das mulheres que vem na marcha e que expõe o corpo, mas é justamente essa parte que interessa à mídia. Porque é muito fácil chegar e tirar foto de uma mulher seminua e expor do jeito que eles querem, como se fosse uma Playboy, quando na verdade não é. A gente é sempre favor da escolha da mulher e contra a culpabilização da vítima”, explicou.
O protesto nasceu em 2011 em Toronto, no Canadá, quando uma vítima de violência sexual  foi culpabilizada. Na época, disseram que suas roupas e seu comportamento eram dignos de uma “vadia”, algo que até hoje é muito comum não só no Brasil, como em diversos países do mundo. Na cidade canadense, o movimento nasceu como Slut Walk e aqui se tornou a Marcha das Vadias.
Crédito foto de capa: Paulo Ermantino
*Spresso

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