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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 03, 2014

Professores da USP denunciam prisão forjada pela polícia


Nós Somos Fábio Hideki Harano
dos professores da USP signatários do texto, via e-mail
Por que as pessoas protestam?
Depois de junho de 2013 uma onda de protestos incomoda os porta-vozes das classes endinheiradas na imprensa. Desde a invocação do direito de ir e vir em São Paulo (sic) até a aceitação do protesto (desde que sem vandalismo!), a grande imprensa elenca vários argumentos contra as liberdades democráticas dos manifestantes.
Obviamente, as pessoas comuns protestam porque não podem formar lobbies no Congresso; porque não frequentam as altas rodas em que as políticas  reais são conchavadas; porque não acompanham políticos em jatinhos carregados de drogas. As pessoas protestam quando não são indiferentes.
Fabio Hideki Harano  é um jovem solidário.  Ele foi a atos em defesa da causa negra sem ser negro. Ele acompanhou a marcha da maconha sem ser usuário. Ele foi ao ato do  dia 23 de junho sem condenar black blocs, pichadores e outras formas de  indignação da juventude. Quem conhece o Fábio sabe que ele é também pacífico.
Fábio pertence ao movimento estudantil da USP e para ele escreveu análises muito ponderadas. Fábio não carregava explosivos quando foi preso nas escadarias do Metrô. Ele só ia para casa.
Fabio não pertence a nenhuma associação criminosa como a Polícia o acusa. Ele é aluno e funcionário da USP. E está em greve, exercendo um direito constitucional. O Padre Julio Lancelotti, que o acompanhava, viu que o flagrante policial foi forjado.
Os policiais, os juízes do Tribunal de Justiça que lhe determinaram prisão preventiva, o Governador da Opus Dei e  seu secretário e os membros da imprensa que tratam de seu caso com “neutralidade” apenas reforçam a nossa Democracia Racionada. Fabio é uma vítima dela.
Se Fábio Hideki Harano e o professor Celso Lusvarghi não forem soltos; se não forem retiradas todas  as falsas acusações contra eles, ninguém poderá dormir tranquilo. Se Fabio  foi preso à luz  do dia só por ser um militante político de esquerda, não é preciso perguntar o que a Democracia Racionada guarda para os jovens presos à noite nas  quebradas da vida.
Todos nós somos hoje Fábio Hideki Harano. A injustiça que pesa sobre ele pesa sobre nós.
Nós Somos Fábio Hideki Harano.
Assinam os Professores da USP:
Jorge Grespan – Jorge Luiz Souto Maior – Lincoln Secco – Luiz Renato Martins – Marcos Silva – Ricardo Musse – Vladimir Safatle

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RECADO DE FÁBIO HIDEKI DIRETO DA PRISÃO
Facebook Librerdade para Fábio Hideki Harano 
Alexandre Harano, irmão de Fábio, visitou-o na prisão em Tremembé e trouxe algumas informações suas (podem ser verificadas no twitter @AYHarano, do irmão de Fábio). Antes de tudo, Alexandre informa que Fábio “está sendo bem tratado tanto no CPD3 de Pinheiros qto no CPD2 de Tremembé, seja funcionários qto outros detentos”.
Veja informações comunicadas por Alexandre a pedido de Fábio:
“Sou sindicalista, membro do Conselho Diretor de base do SINTUSP. Não sou membro formal de nenhum partido ou corrente política.”
“Não sou da organização de nenhum movimento social.”
“Manifestação de rua não é crime.”
“Usar equipamento de proteção para não dispersar aos primeiros ataques da PM não é crime”.
“Não estava com o tal explosivo”.
Não sou black bloc. Ser black bloc é quebrar símbolos do capital”.
“Sou militante independente de coletivos, correntes ou partido. Só o SINTUSP.”
Alexandre Hirano termina seus twittes com este pedido de ajuda:
“Volto para casa e peço encarecidamente que divulguem, RT etc. Como disse, meu irmão Fábio Hideki Harano está bem e esperando.”

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