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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 06, 2015

Pela CPI do Genocídio CIMI e exigindo investigações sobre o genocídio dos povos indígenas

Pela CPI do Genocídio
Em defesa do CIMI, dos povos indígenas e na luta pela CPI do Genocídio!
Movimentos sociais e sindicais seguem unidos na luta contra a CPI do CIMI e exigindo investigações sobre o genocídio dos povos indígenas.
Na segunda reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que acontece nesta terça-feira (6), às 14h30, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, os movimentos sociais e sindicais, vem através desta nota pública, mais uma vez, manifestar seu total repúdio a essa absurda tentativa de criminalização de uma organização que merece nosso total respeito e que ao longo de sua história vem realizando um importante trabalho na defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil.
Em 1972, religiosos e leigos, inspirados pela Conferência de Barbados, criaram o CIMI, organização vinculada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com a missão de garantir que os povos indígenas permanecessem em suas terras e vivessem conforme a sua própria cultura, modos e costumes. A sua atuação missionária, conferiu um novo sentido ao trabalho da igreja católica junto aos povos indígenas.
A proposta do Conselho é clara: o missionário deve inculturar-se, ou seja, passar a viver junto aos indígenas conforme os costumes dos povos. Não mais o missionário levaria Boas Novas aos povos; ao contrário, o missionário traria as Boas Novas dos povos para a sociedade envolvente e para a Igreja. Mais do que isso: o missionário faria o anúncio destas vidas em busca do Bem Viver ameríndio e denunciaria tudo o que afligisse tais comunidades ou atentasse contra os seus direitos humanos e sociais.
Em plena ditadura militar, em seu período mais cruel e cercado de ufanismo, o CIMI passou a ser um inimigo do governo autoritário, o que não foge muito a regra do atual momento que estamos passando em Mato Grosso do Sul, tempos difíceis, que nos fazem lembrar e muito da repressão ditatorial.
Na época da Ditadura o CIMI organizava as Assembleia Indígenas. Foram mais de uma dezena, até os anos 1980. A ideia era que as lideranças se conhecessem e partilhassem os problemas, denúncias e culturas. Este pode ser considerado o embrião do movimento indígena nacional, em luta por direitos coletivos. O processo desemboca na redemocratização e na batalha da Constituinte, onde os povos saem vitoriosos com os artigos 231 e 232. De 1988 em diante a luta passa a ser pela demarcação das terras indígenas e consolidação dos direitos humanos e sociais.
Lá se vão 43 anos de atuação desta importante organização junto aos povos indígenas de todo o país, contando com os grupos em situação de isolamento voluntário, os índios livres, do Oiapoque ao Chuí. O Cimi já teve integrantes assassinados, como no caso de Vicente Cañas, morto em 1987 por fazendeiros na Terra Indígena Enawenê-Nawê, no Mato Grosso, além de dezenas de ameaças, emboscadas, agressões e detenções.
A perseguição a organização em Mato Grosso do Sul é só mais uma neste anos todos de história e nós, dos movimentos sociais e sindicais, temos a certeza que esta CPI possui uma única intenção, que é a de impedir que os direitos constitucionais indígenas sejam cumpridos. A Comissão vem para desviar a atenção dos crimes e da violência praticada contra os povos nativos e, dessa forma, impedir a demarcação e o respeito aos territórios indígenas.
Nos últimos 12 anos, ao menos 585 indígenas cometeram suicídio e outros 390 foram assassinados em MS. O estado tem 23 milhões de bovinos que ocupam aproximadamente, coincidentemente, também, 23 milhões de hectares de terra, isso quer dizer 1 hectare por animal. Enquanto isso, com a morosidade e a paralisação dos processos de demarcação, os cerca de 45 mil Guarani Kaiowá, continuam espremidos em apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais.
Neste sentido, unidos, cobramos que a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul também instaure uma Comissão Parlamentar para investigar o genocídio dos índios no estado e reiteramos o nosso apoio ao CIMI e a todos os nossos irmãos e irmãs indígenas, que batalham dia a dia, para conseguir a demarcação de seus territórios, na busca por uma vida mais digna e humana.
Campo Grande, MS, 06 de outubro de 2015.
- Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
- Central Única dos Trabalhadores – CUT.
- Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE.
- Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul – FETEMS.
- Coletivo Terra Vermelha - CTV.
- Movimento de Luta Camponesa pela Reforma Agrária – MCLRA.
- Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de MS – Fetagri.
- Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – CEBI.
- Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares – RENAP.
- Centro de Documentação e Apoio aos Movimentos Populares – CEDAMPO.
- Tribunal Popular da Terra - TPT.
- Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU.
- União da Juventude Comunista – UJC.
- Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
- Partido Comunista Brasileiro – PCB.
- Conselho Terena.
- Movimento das Mulheres Camponesas – MMC.
- Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã y – CDDH.
- Irmãs Catequistas Franciscanas.
- Sindicato dos Bancários de Campo Grande e Região.
- Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde, Trabalho e Previdência Social - SINTSPREV/MS.
- Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul - PT/MS.

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