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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, maio 28, 2010
O Brasil mudou muito, mas os tucanos e o PIG continuam os mesmos
O Brasil mudou muito, mas os tucanos e o PIG continuam os mesmos
(Quinta-Feira, 27 de Maio de 2010 às 15:50hs)
Depois de 26 horas viajando, contando a partir do momento que sai da casa do amigo que me hospedou em Moscou até a porta do meu apartamento, já estou no Brasil de novo.
Viagens a destinos diferentes sempre nos despertam novas reflexões. Talvez a principal que fiz nesta última foi a de que o Brasil mudou bastante para melhor nesses últimos anos.
Minha primeira longa viagem internacional foi à Europa em 1994. Na ocasião, a sensação que tinha quando da volta era de absoluto desalento com as perspectivas brazucas.
Sob qualquer parâmetro vivíamos num quase quinto mundismo. Nosso salário mínimo era de um ridículo de dar dó se comparado com o de qualquer outro país, as pessoas mal sabiam que um novo presidente acabava de ser eleito e só me perguntavam sobre miséria, futebol e desmatamento da Amazônia.
Em 1994, vivia-se o início da globalização tanto do ponto de vista da sua lógica neoliberal quanto do processo de difusão da informação. A internet ainda era um bebê de colo, pois Tim Berners-Lee só apresentara ao mundo a forma de rede que conhecemos em 1989. E em 1994 ainda poucos a utilizavam.
Nesse ínterim de 16 anos fiz algumas outras tantas viagens internacionais e fui percebendo as mudanças de perspectivas do Brasil e do olhar dos cidadãos, principalmente do chamado primeiro mundo, em relação a ele. Em 2004, já senti essa mudança de rota quando fui para o FMS da Índia e aproveitei para fazer um stop over na Europa, onde visitei rapidamente Espanha, França e Itália.
Mesmo ainda em tom apenas curioso, as pessoas já perguntavam de Lula e de seu governo.
Nesta última viagem ficou claro que chegamos ao que os gringos chamam de turning point (algo como o ponto da virada). Tanto na Rússia, como na Grécia, quanto na Holanda, nos noticiários de TV e de jornal e nas conversas informais, a pauta sobre o Brasil agora vai de política internacional a programas de renda que teriam mudado o destino de milhões de pessoas.
O Brasil é tratado como um país que está dando certo e seu presidente é celebrado como grande liderança mundial.
Mas infelizmente por aqui alguns ainda continuam vendo tudo do mesmo tamanho. Pior, a mídia e a oposição avaliam o governo Lula como um desestre tanto do ponto de vista dos avanços internos quanto da política externa.
A manchete da Folha de hoje é um exemplo dessa análise miope e perigosa: “Serra diz que a Bolívia é cúmplice de traficantes”. Na chamada de capa, o jornal ainda “revela” que o candidato a presidente do país teria dito “que 80% a 90% da cocaína que entra no país chega via Bolívia”.
O mesmo Serra que teria dito outro dia que o Mercosul não existe e que a China produz camisinhas com cheiro de galinha fervida.
A propósito, duas observações.
1) A China é hoje a maior parceira comercial do Brasil.
2) O Brasil é hoje liderança incontestável da América Latina, onde, por um acaso, se localizam os países do Mercosul e a Bolívia.
A oposição tucana e a parte PIG da mídia perderam o bonde da história.
Sinceramente, o que não sei dizer é se isso é bom ou ruim.
do Renato Roval
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