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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 08, 2010

Capitalismo selvagem







Além de ser vegetariano, há outras idéias: evitar andar de carro (esse hábito terrível faz com que diante dos nossos olhos o desperdício energético seja tão grande que podemos ver só no trânsito de São Paulo várias usinas Belo Monte que seriam desnecessárias), evitar andar de avião (idem), focar o consumo em produtores locais e pequenos, perseguir decentralização governamental (a idéia de deixar nas mãos dos governos locais decisões sobre sociedade e meio ambiente deveria ir avante), abandonar o consumo desenfreado de bens inúteis, etc.

Nossa sociedade agora foca nos carros-caminhões (os horrorosos e perigosos SUVs), porque carro não é um meio de transporte, mas um mecanismo de divisão social, segundo Goura Nataraj e Andre Kaon Lima. Quanto mais as classes baixas acessam automóveis médios, mais as mais altas precisam se distanciar com carros maiores. O objetivo é a divisão, não o uso.

Não podemos nem devemos produzir mais coisas e sim devemos cortar o desperdício e o desnecessário. Não é de mais energia que precisamos, mas do fim do desperdício, em primeiro lugar, e de um modelo econômico onde as pessoas e o planeta existissem e não fossem apenas números (descartáveis como os bens que nosso sistema produz).

Detesto falar de mim mesmo e usar o pronome na primeira pessoa, mas eu já sou vegetariano há 10 anos. Não suporto a idéia da crueldade feita contra os animais pela indústria toda, além da questão ecológica (a ineficiência ecológica do consumo de carne em relação aos vegetais é gigante). Também sou um ciclista urbano (quase suicida) na cidade de São Paulo, onde o desrespeito monumental das autoridades e das pessoas é um desafio enorme. Não há acesso nem lugares para estacionar as bicicletas em quase todos os pontos urbanos, comerciais ou governamentais. Ciclovias nem se fale, não existem praticamente. Tudo é voltado para o transporte particular de carros de três toneladas para poucos. O resto que se vire.

Mas, o mais importante é colocar o peso da mudança nas instituições e nas empresas: eles respondem por 90% da pegada ecológica. Os indivíduos participam com 10%. Ou seja, aquilo que podemos mudar no dia a dia só irá resolver 10% do problema. Mas claro que a mudança dos indivíduos (com a recusa de produtos com impacto muito grande e de lixo que não tem destino), se disseminada, irá mudar o mundo. Mas estamos muito longe disso acontecer, nem sabemos mais se dará tempo.

Hugo Penteado

do Nosso Futuro Comum

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