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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 15, 2010

Como age a CIA e os USA






(Esta matéria é uma continuação do artigo British Petroleum - Parte I - Obama Ameaça "Chutar a Bunda" da Maio...)

Em 1908, quando as enormes reservas petrolíferas da região ainda eram desconhecidas, o magnata britânico William Knox D'Arcy descobriu a primeira jazida comercialmente viável do Oriente Médio. Após 7 anos de prospecção, ele finalmente encontrara óleo a 360 metros de profundidade no Khuzestão iraniano, próximo à fronteira com o Iraque. Fundada com a finalidade explícita de explorar a jazida, a Anglo-Persian Oil Company (APOC) foi a empresa original que, anos mais tarde, viria a chamar-se British Petroleum. Quando o grande potencial produtivo do campo ficou evidente em 1912, a APOC investiu na construção de uma refinaria na vizinha ilha de Abadan, destinada a tornar-se no futuro uma das maiores usinas petroquímicas do planeta. A fim de precaver-se contra a intrusão de concorrentes indesejáveis, a companhia obteve junto ao governo de Sua Majestade Britânica o monopólio da exploração petrolífera no Irã, através do pagamento de uma propina de 5.000 libras esterlinas ao futuro Primeiro Ministro Winston Churchill, no ano de 1923. Em 1935, a empresa passou a chamar-se Anglo-Iranian Oil Company (AIOC).

Ao contrário do que aconteceu nos vizinhos India e Paquistão, o Irã nunca chegou a tornar-se uma colônia inglesa e, apesar da dominação econômica da Inglaterra, conservou um mínimo de soberania nacional durante os anos de apogeu do Império Britânico. Um sintoma dessa independência foi a Revolução Constitucionalista Persa, que resultou na implantação do primeiro Parlamento moderno do continente asiático, quando o Xá renunciou a seus poderes autocráticos, e aceitou a coroa como "um dom divino outorgado pelo povo," em 31 de dezembro de 1906. Em agosto do ano seguinte, foi assinada a Convenção Anglo-Russa de 1907, um "acordo de cavalheiros" entre Londres e São Petersburgo que definia as "esferas de influência" das duas potências em território iraniano - russos ao norte, ingleses ao sul (o Irã, obviamente, não foi consultado sobre o assunto).

Apesar de vitoriosa na II Guerra Mundial, a Inglaterra estava virtualmente falida ao fim do conflito, e não pode impedir a independência das duas maiores jóias da Coroa - India e Paquistão - ocorrida em 1947. Quando ficou claro que Stalin não tinha a intenção de perpetuar a "esfera de influência" russa no norte do país, os iranianos sentiram que era chegado o momento de acertar as suas contas com a Inglaterra, e de propor uma renegociação dos contratos da Anglo-Iranian Oil Company. Pelos acordos então em vigor, a companhia retinha mais de 80% dos rendimentos do petróleo, e os iranianos não tinham acesso à contabilidade da empresa. A essa altura, as jazidas iranianas eram o único investimento de vulto que sobrevivera à derrocada do Império Britânico.

Diante da intransigência dos ingleses, que recusaram-se a aceitar um acordo semelhante ao firmado com a Arábia Saudita (lucros divididos meio a meio), o Primeiro Ministro Mohammad Mosaddegh tomou a decisão de nacionalizar o petróleo iraniano em 1º de maio de 1951. Inconformada, a Grã-Bretanha recorreu à Corte Internacional de Justiça de Haia, mas o Tribunal confirmou a legalidade da ação do Irã. Como já não possuíam o poderio militar da época do Império, para obter pela força o que a Justiça lhes negara, só restou aos ingleses pedir ajuda aos Estados Unidos. O Primeiro Ministro Winston Churchill escreveu ao presidente Dwight D. Eisenhower dizendo que o governo de Mosaddegh estava em íntima cooperação com o Tudeh (Partido Comunista Iraniano), e que "o Irã corria o sério risco de ser engolido pela Cortina de Ferro, se não agirmos o quanto antes."

A princípio, Eisenhower tentou convencer o Xá Reza Pahlav a demitir Mosaddegh, mas a popularidade do Primeiro Ministro iraniano era muito grande, e o plano fracassou. Determinados a derrubá-lo do poder, a CIA (Central Intelligence Agency) americana e o SIS (Secret Intelligence Service) britânico foram encarregados de montar um golpe de estado contra Mosaddegh. Em 13 de agosto de 1953, o governo iraniano foi deposto, naquilo que viria a ser a primeira derrubada de um regime estrangeiro através de uma ação clandestina da CIA. O sucesso da operação tornou-a um modelo que seria repetido inúmeras vezes, no curso das décadas seguintes (deposição de Jacobo Arbenz na Guatemala em 1954, João Goulart em 1964, Salvador Allende em 1973, etc.):

  • Uma equipe de agentes especiais foi enviada ao Irã, levando $US 5 milhões em dinheiro;
  • Uma agressiva campanha de propaganda foi patrocinada na imprensa iraniana, com críticas intermitentes ao governo;
  • Um grande volume de notícias destinadas a repercutir negativamente no Irã foram plantadas na imprensa americana;
  • Polpudas gratificações foram distribuídas entre generais iranianos ocupando posições-chave de comando;

Uma parte substancial do dinheiro foi reservada ao general Fazlollah Zahedi, escolhido pela CIA para substituir Mosaddegh no cargo de Primeiro Ministro. O Xá aboliu o Parlamento e voltou a assumir poderes autocráticos. Agentes especiais da CIA americana e do Mossad israelense foram destacados para organizar a SAVAK (polícia política iraniana), que iria seqüestrar, torturar e assassinar dezenas de milhares de pessoas na ditadura recém-implantada. Um dos primeiros atos do Primeiro Ministro golpista foi convidar de volta ao Irã a Anglo-Iranian Oil Company, agora rebatizada de British Petroleum. O antigo monopólio foi porém extinto, pois os EUA exigiram uma fatia do petróleo em troca de sua colaboração no golpe. Na nova partilha do óleo iraniano, 40% foi destinado à BP, 20% para a holandesa Shell e a francesa Total, e os 40% restantes foram rateados entre diversas companhias americanas.

A odiosa ditadura de Reza Pahlav prolongou-se por 26 longos anos, e estará para sempre inscrita na História como um dos regimes mais brutais do século XX. Com o advento da Revolução Islâmica em 1979, o Xá fugiu do Irã e terminou os seus dias escorraçado como um cão, pois nenhum país desejava asilá-lo, temendo as terríveis represálias ameaçadas pelo aiatolah Ruhollah Khomeini contra qualquer um que o abrigasse. Ansiosos por encontrar provas do envolvimento americano no golpe de 1953, os estudantes da capital invadiram e ocuparam a embaixada dos EUA em Teerã, mantendo 52 funcionários como reféns durante 444 dias, liberando apenas as mulheres e os negros. O fracasso do presidente Jimmy Carter em encontrar uma solução para a crise acabou impedindo-o de reeleger-se nas eleições de 1980.

Em represália à tomada da embaixada, os EUA congelaram depósitos iranianos equivalentes a US$ 7,9 bilhões em bancos americanos, forneceram o equipamento militar (incluindo armas químicas e biológicas) utilizado por Saddam Hussein na invasão do Irã, e abateram um avião comercial iraniano (vôo 655) sobre o Golfo Pérsico, causando a morte de todos os 290 civis a bordo. Em 19 de janeiro de 1981, Irã e Estados Unidos assinaram os Acordos de Argel, resultando na libertação dos reféns, a devolução do dinheiro congelado, e a promessa americana de, no futuro, "não intervir, direta ou indiretamente, de forma política ou militar, nos assuntos internos iranianos".

O relatório completo da derrubada do governo iraniano pela CIA em 1953 é hoje um documento de domínio público. A sua leitura é essencial para todos aqueles desejosos de compreender o modus operandi da agência de inteligência americana, em várias operações similares ocorridas nos 5 continentes, no curso das últimas décadas.

do blog Luis Nassif


A dupla moral dos EUA

O criminoso nazista Klaus Barbie aproveitou a vida em liberdade graças aos EUA

Os Estados Unidos pressionam o mundo por sanções contra o Irã, alegando que o programa nuclear de Teerã ameaça a paz no Oriente Médio e o Estado de Israel. Ahmadinejad é pintado como o demônio, que não reconhece o holocausto, e seria como um novo Hitler para o povo judeu. Mas enquanto o Irã jamais fez qualquer mau aos judeus, os EUA não só protegeram como contrataram para trabalhar em seu serviço de inteligência um dos maiores criminosos nazistas, o carniceiro de Lyon, Klaus Barbie.

Barbie foi oficial da SS e chefe da Gestapo, em Lyon, onde mandou para a câmara de gás 44 crianças judias, entre 3 e 14 anos, que estavam refugiadas em um abrigo de órfãos. Tinha um prazer mórbido em torturar prisioneiros, muitas vezes os levando à morte. Pois este monstro, condenado e procurado pela Justiça francesa, foi recrutado pelo exército dos Estados Unidos após a guerra e trabalhou como agente secreto por dois períodos. Ou seja, foi contratado, dispensado e depois recontratado, provavelmente pela qualidade de seus serviços.

Os EUA não apenas usaram os serviços de Barbie, como auxiliaram sua fuga para a Bolívia, evitando seu julgamento na França. Como assinalou o assistente especial para a Procuradoria Geral dos EUA, Allan Ryan, em memorando de 1983, “representantes do governo dos Estados Unidos foram diretamente responsáveis por proteger uma pessoa procurada pelo governo da França por acusações de crime e por providenciar sua fuga da lei. Como resultado direto dessa ação, Klaus Barbie não compareceu ao julgamento na França, em 1950, passou 33 anos como um homem livre e fugitivo da justiça”, e só foi enviado para julgamento na França, muitos anos depois, pela cooperação direta entre os governos da França e da Bolívia.

As ações de Barbie como espião americano não são totalmente conhecidas, por razões óbvias, mas no combate promovido à guerrilha de Che Guevara na Bolívia, a CIA recontratou seus serviços. O carniceiro nazista ajudou a organizar a polícia secreta da Bolívia e a montar milícias de direita em Santa Cruz de La Sierra, onde se encontram atualmente os setores mais conservadores do país, que tentaram derrubar o governo de Evo Morales.

Essa é a dupla moral americana. Condenam uma suposta ameaça a Israel, evitando negociações de paz, e protegem um criminosos de guerra nazista condenado por um país aliado. Barbie morreu preso na França sem demonstrar um pingo de arrependimento por seus crimes e eternamente gratos aos EUA pelos bons anos em que viveu livre e ainda recebeu por isso.

do Tijolaço

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