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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 02, 2010






“Líderes ocidentais são covardes para salvar vidas”

Quando Lula tomou um avião para Teerã e foi, junto com o primeiro ministro da Turquia, buscar uma solução para a questão nuclear iraniana, sua atitude revelou, além do protagonismo dos países emergentes no cenário mundial, a incapacidade dos líderes ocidentais de solucionar qualquer conflito e terem posições firmes.

Esta percepção me foi reforçada hoje ao ler o artigo de Robert Fisk, no jornal inglês The Independent, “Líderes ocidentais são muito covardes para ajudar a salvar vidas”. O jornalista inglês mostra que atualmente são as pessoas comuns, como as que estavam na flotilha atacada por Israel, que tomam decisões para mudar as coisas. E quando suas vidas são ameaçadas, os líderes ocidentais continuam sendo “frouxos”.

Fisk abre seu artigo perguntando se a Guerra de Gaza (2008-2009), com seus 1.300 mortos; a Guerra do Líbano (2006), com 1.006 mortos, e os nove mortos da flotilha humanitária vão levar o mundo a não aceitar mais as regras de Israel. Ele demonstra ceticismo diante das reações da Casa Branca e do novo premiê inglês, David Cameron. “Nem uma só palavra de condenação. Nove mortos. Apenas mais uma estatística a acrescentar à relação do Oriente Médio.”

O jornalista faz uma crítica a Israel e também à passividade do mundo diante dos abusos cometidos pelo país. Um texto para refletir, que serve para os dirigentes de todos os países, principalmente os que só enxergam problemas quando vêm dos outros.

“E o que dizer sobre Israel? Não é a Turquia um forte aliado de Israel? É isso que os turcos devem esperar? Agora, o único aliado de Israel no mundo muçulmano está dizendo que houve um massacre, e Israel não parece ligar. Mas Israel também não ligou quando Londres e Camberra expulsaram seus diplomatas depois que passaportes britânicos e australianos foram falsificados para os assassinos do comandante do Hamas, Mahmoud al-Mabhouh. Não ligou ao anunciar um novo assentamento judeu na região ocupada de Jerusalém oriental quando o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, estava na cidade.Por que Israel deveria se importar agora?”

“Como chegamos a esse ponto? Talvez porque todos crescemos habituados a ver Israel matar árabes, talvez porque os israelenses cresceram acostumados a matar árabes. Agora, eles matam turcos. Ou europeus. Alguma coisa mudou no Oriente Médio nas últimas 24 horas – e Israel (graças a sua extraordinariamente estúpida resposta política à matança) não parece ter noção do que aconteceu. O mundo está cansado dessas atrocidades. Só os políticos estão em silêncio.”

Brizola Neto

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