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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, setembro 01, 2010
Michael Moore ruptura já.
Aumentam os lucros da General Motors Mas continuais desempregados
Via O Diario.info
Michael Moore*
Apesar do exemplo tolo (apresentar Portugal como país que prepara o futuro!…), este texto de Michael Moore, em linguagem simples e despretensiosa, mostra-nos como a classe trabalhadora e a restante população não monopolista nada pode esperar das medidas que o poder impõe aos governos para a saída da crise.
Eis a General Motors (GM) agora de novo com milhares de milhões de dólares de lucros. Se aprendemos alguma coisa com o passado, sabemos o que é que isso quer dizer: chegou a hora dos despedimentos.
Ou talvez não. Nas décadas de 1980 e 1990, quando a GM apresentava consistentemente gigantescos lucros, simultaneamente despedia dezenas de milhares de operários na minha cidade natal, Flint, e no resto de Michigan. Neste momento parece que a única pessoa que vão despedir é o Director Geral, Edward Whitecare. (Embora há uma semana Whitecare dissesse que, de momento, não tinha planos de sair – é uma ironia que o ex-presidente dos Boy Scouts dos Estados Unidos não esteja Sempre Preparado.)
Mas se não estão a despedir pessoas também não estão a contratar.
Durante a primeira de 2010, a GM teve lucros de 2.200 milhões de dólares, no entanto, segundo The Wall Street Journal, so recrutaram 2.000 empregos em toda a América do Norte, com o que aumentaram a sua força de trabalho de 113.000 para 115.000 trabalhadores.
E o que é bom para a Genaral Motors é bom para os Estados Unidos. O gioverno apareceu com milhares de milhões de dólares em dinheiro e garantias para impedir que as corporações norte-americanas falissem devido á sua própria estupidez, miopia e avareza. E funcionou – para as corporações norte-americanas. Pode ser que o leitor não se tenha apercebido por lhe estarem a executar uma hipoteca, mas os lucros dos 500 mais ricos da revista Fortune já quase são normais. Aumentaram para 391.000 milhões em 2009, um incremento de 335 por cento em relação a 2008. E as 500 maiores empresas não financeiras estão agora sentadas em 1,8 mil milhões em dinheiro, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 50 anos. (Isto é o que a imprensa de negócios diz sempre, que estão «sentadas» no dinheiro embora, pelo que sei, isso não seja literalmente verdade).
Mas é o que devemos reter quando falamos da GM e de outras empresas que aceitaram a dádiva gratuita. Não se trata do permanente baralhar dos brancos de fato completo. O que é que significa que o novo Director Geral da General Motors seja Daniel F. Akerson, um director executivo do Grupo Carlyle? Provavelmente que a GM vai ser dirigida por alguns dos que nos agarraram pelas partes e que não lhes importa desdenhar da lei e da decência básica norte-americana.
Para compreender o que está a acontecer temos de dirigir o olhar aos aspectos essenciais, tal como eles fazem. E a essência diz-nos que todo o mundo dos negócios imaginou uma forma de ganhar uma enorme pipa de massa sem nos empregar para trabalharmos para eles. Não vejo como a longo prazo essas empresas beneficiam coma medida. Será que os mesmos robots que agora fabricam a maioria das coisas também estão programados para as comprar?
O resultado final é o seguinte: temos de nos confrontar com o facto da maioria dos directores gerais dos Estados Unidos não desejarem que a economia «melhore». Porque para eles não pode estar melhor – os lucros tiram-nos detrás da orelha, enquanto com 9,5% de desemprego toda a força de trabalho tem demasiado medo em pedir um aumento de 25 centavos por hora. Já ficariam contentes se as coisas ficassem como estão. Para sempre.
Apesar do mau que é a má notícia, a boa notícia ainda é melhor. Milhões de pessoas dão-se agora conta que necessitamos de um Novo Contrato. Temos de fazer a reengenharia da civilização norte-americana, e para isso vai faltar muita gente.
Sabem que agora Portugal obtém 45 por cento da sua electricidade a partir de fontes renováveis – um aumento de 28 por cento em relação há cinco anos atrás? Ou que o Scientific American descobriu que poderíamos eliminar todo o uso de combustível fóssil em 2030? Ou que o vento nas grandes altitudes, só por si, podia fornecer 100 vezes a quantidade de energia que o actualmente o mundo inteiro necessita? E melhor ainda, podemos dar-nos ao luxo de fazer esta mudança – porque somos ricos! Ainda se recordam daqueles 1,8 mil milhões de dólares das contas bancárias das nossas empresas? Enquanto o resto do mundo se dirige para o futuro, nós estamos aqui sentados. A única coisa que funcionará para chegarmos ali é o que funcionou anteriormente: tal como fizemos na década de 1930 e 1960, temos que perder o medo aos 1% mais ricos e fazer com que eles nos temam. É a única forma de nos largarem o pescoço, é o suficiente que permite que nos salvemos a nós próprios e os salvemos também a eles.
Uma coisa é certa: obama não vai fazer isso por nós. O Congresso? Esqueçam.
Se queremos para nós e para os nossos filhos uma vida que valha a pena teremos que procurá-la nós próprios. Não podemos continuar á espera que chegue a cavalaria. Isso, porque nós é que somos a cavalaria.
E do último andar da torre da GM no centro de Detriot devíamos fazer com que ouçam o troar das patas dos nossos cavalos.
* Michael Moore, cineasta norte-americano de prestígio mundial
Este texto foi publicado em: http://progreso-semanal.com/4/index.php?option=com_content&view=article&id=2514:iaumentan-las-ganancias-de-gm-y-ustedes-siguen-desempleados&catid=3:en-los-estados-unidos&Itemid=4
Tradução de José Paulo Gascão
*GilsonSampaio
Postado por GilsonSampaio
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