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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 02, 2010

Modelo precisa mudar






"Nosso modelo de desenvolvimento está falido", diz Jeffrey Sachs



Incrível! Não sei se é uma conversão completa, mas é um grande passo. E corajoso.

Hugo


"Nosso modelo de desenvolvimento está falido", diz Jeffrey Sachs

Para o economista e conselheiro da ONU, o PIB é hoje um indicador muito fraco para medir o crescimento de um país, pois não leva em conta a sustentabilidade

*Elisa Campos, de Nova Lima


Jeffrey Sachs: economista está preocupado com a sustentabilidade


Jeffrey Sachs mudou de idéia. Taxado de ultraliberal por seu trabalho nas décadas de 80 e 90 na América do Sul e no Leste Europeu, o economista americano não acredita mais na mão invisível do mercado. “A economia de livre mercado é insustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental”, afirmou o professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e conselheiro da ONU, em conferência internacional promovida pela Fundação Dom Cabral, em Nova Lima, Minas Gerais.


As grandes catástrofes naturais vistas recentemente, como as enchentes no Paquistão e as queimadas na Rússia, seriam, para Sachs, sinais de que nosso modelo de desenvolvimento está falido. “Hoje, medimos o sucesso de um país pelo crescimento de seu PIB. Este é um indicador fraco, que dá conta de uma parte muito pequena do bem-estar da população”. O parâmetro exclusivamente financeiro mostra que a preocupação com a sustentabilidade ainda não está em primeiro plano. “O mundo não está crescendo de maneira sustentável”, diz o economista.


Sachs é especialmente rigoroso em sua análise da sociedade americana, que acusa de ser uma das grandes culpadas pela degradação ambiental e pelo caos financeiro dos últimos tempos. “Há um colapso de valores nos Estados Unidos. Criamos uma das maiores crises já vistas na história, por uma total incompreensão do mundo e pelo consumismo extremo. Não existe discussão inteligente sobre sustentabilidade nos Estados Unidos. Os americanos passam atualmente cerca de quatro horas por dia em frente à TV, assistindo a uma infinidade de propagandas, que não mostram problemas como o aquecimento global, mas que instigam a compra de mais e mais produtos”, afirma Sachs.


Uma sociedade de consumo, alienada, dominada pelas grandes corporações e que não aprendeu nada com a última crise. Essa é a visão do economista sobre seu país natal e a maior economia do mundo. “Aprendemos a vender tudo, inclusive alguém como George Bush. Não somos mais capazes de distinguir entre realidade e fantasia. E, mesmo depois da crise, nada mudou. O candidato da mudança [o atual presidente americano, Barack Obama] também teve sua campanha financiada pelo Goldman Sachs. Os americanos continuam sem poupar e o governo continua a estimular a compra de casas, mesmo para aqueles sem condições financeiras de comprá-las”, diz o conselheiro da ONU.


As conseqüências do consumo excessivo e da desigualdade de distribuição de renda em nível global trazem, segundo Sachs, impactos gravíssimos. “Dizem que o terrorismo cresce no Oriente Médio e no Iêmen por causa de grupos mulçumanos fanáticos. É mentira. Ele se desenvolve, porque esses são locais secos, cada vez mais secos, e pobres, onde as pessoas passam fome. Países fáceis para os terroristas recrutarem. Enviar mísseis como vêm fazendo os Estados Unidos, não vai resolver nada. Só matar pessoas. O que há é uma escassez de recursos”.


Apesar de todo o pessimismo, o americano ressalta um aspecto importante em relação à sustentabilidade: os problemas ambientais do mundo têm solução e elas são conhecidas. O que é necessário é iniciar as mudanças. “O que as pessoas precisam se lembrar é que não se trata apenas de negócios, trata-se do mundo”. Jeffrey Sachs mudou. O mundo irá acompanhá-lo na mudança?

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