São Paulo: Uma Onda de Liberdade
Um Estado em luta contra a alienação
Jornalista
Um exemplo é a sonegação de um dado essencial para que se possa compreender todo o desenvolvimento histórico brasileiro: o escamoteamento do caráter capitalista da exploração colonial do país, desde seu início e, depois, sob o jugo imperialista. Nesse caso, como forma de justificar o "progressismo" desenvolvimentista do sistema de espoliação que iria ser adotado como norma no País, optam por alegar que teria existido a continuidade de estruturas de produção de natureza semifeudal ou pré-capitalistas. Um fato incontestavelmente falso.
Assim, enquanto o restante da Europa, menos aquinhoada de colônias ultramarinas desenvolvia formas superiores de atividades capitalistas, seja criando as bases do moderno sistema financeiro, seja com a alteração laboral e associativa das corporações ofício, Portugal, por exemplo, prisioneiro da prodigalidade da Coroa Portuguesa, endividado com os bancos ingleses, via toda a sua riqueza ser drenada. Era o clássico caso do multibilionário pobre. O resultado é que milhares de aventureiros ibéricos e europeus "fizeram a América", ora para fugir da miséria e das doenças que assolavam o Velho Continente, ora para reerguer fortunas perdidas com a mineração, o comércio ou com a exploração agrícola ou pastoril, a partir do trabalho escravo.
É, assim, de fotograma em fotograma que a História nos é apresentada. No Brasil, como não poderia deixar de ser, a Colônia vai ser rica em mitos e heróis, alguns bem perto da lenda, outros, mais simples. O processo histórico de formação econômica do país é objeto de análises políticas que de análises políticas isentas não têm nada, já que negam o movimento - que é a essência de todo processo histórico - e nos apresentam a História como sendo apenas uma sucessão de feitos heróicos, com o cuidado de sempre negar o fator trabalho como a base desse processo.
Foram negros de São Vicente que introduziram a siderurgia em Minas Gerais, pelo primitivo processo dos cadinhos, o que aliás já era uma técnica africana muito antiga. Ferraduras para animais, aros de roda, instrumentos agrícolas e de mineração eram por eles fabricados. Embora tanto a metalurgia, quanto a siderurgia coloniais brasileiras tenham sofrido forte repressão por parte do capital industrial europeu não-lusitano, foi possível a sua sobrevivência principalmente nas Gerais e zonas periféricas à mineração ou centros de transporte.
Entretanto, como era uma atividade massiva e incapaz de forjar grandes heróis, a não ser nos casos de sonegação e furto fiscal, como acontecia em Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, há um forte silêncio sobre tais fatos, ao contrário do falso retrato de heroísmo das predadoras entradas e bandeiras, cujo escopo básico era o lucro imediato com o apresamento de índios e saques a alguns centros de mineração. Ora, como esses fotogramas das entradas e bandeiras foram transformados em mitos heróicos, passaram a simbolizar algo que nunca significaram realmente. Mas, como o sistema necessita criar mitos de permanência, toda uma província e depois um Estado é seduzido pela miragem do que não foi. Um fenômeno que vai sendo cada vez mais forte e trabalhado, não para honrar ou louvar esses tais "heróis", mas para justificar os novos predadores e os processos espoliativos capitalistas.
O resultado é a seqüência de governos "providenciais" e "carismáticos" (sic), como a mídia costuma dizer. Ou seja, em São Paulo, o trabalho político é desenvolvido como uma forma de preservação oligárquica e para que isso tenha sucesso é necessário que a população se oriente na crença da força de "heróis" nos moldes de um Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf, Franco Montoro, Orestes Quércia, Luiz Antonio Fleury, Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
A atual batalha política de São Paulo é cada vez mais estratégica para o país. Justo fazer dessa batalha um dos mais sérios embates contra o neoliberalismo. É um bravo esforço, pois, ao se desvendar a falácia que era e é o poder do tucanato no Estado, foi possível compreender que uma vitória tucana seria o mesmo que consolidar um estado de exceção como algo inevitável e natural. Aliás, esse é o ardil que nos é vendido pela mídia, desde os idos de 1975, quando as teses de Friedman e Hayek sobre o (neo)liberalismo já faziam parte dos currículos universitários e dos governos.
Em São Paulo, a partir de 1979, independentemente dos governantes, há extrema coerência nessa atividade. Uma ação que vai ter o seu ápice com Mário Covas, quando as bases de sustentação do Estado paulista são doadas às empresas privadas, sob o pífio e hipócrita argumento de modernização e reengenharia administrativa - nomes fantasias para o mais deslavado entreguismo do patrimônio público. Alckmin, como um fiel discípulo e seguidor da linha de Mário Covas, o grande líder político (neo)liberal de São Paulo e do país, representa a continuidade dessa política antinacionalista e desumana.
Desse modo, para o Estado de São Paulo e para os paulistas comuns - aqueles que não fazem parte do sistema em termos de poder e servidão - é chegada a hora de construir sua desalienação política. Fazer com que todos esses isolados fotogramas de sua História passem a ter movimento e, com isso, surja o nexo que irá lhes garantir a libertação desse secular jugo capitalista.
Hoje, o povo paulista, analisando a verdadeira História de seu Estado e compreendendo o que está em jogo nas próximas eleições, pode perceber que estão presentes as reais condições para a sua liberdade.
Venceremos!
Jornalista
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