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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Chega de militância de sofá 

 

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Na noite de ontem (terça-feira, 13 de dezembro), participei da cerimônia de entrega do 1º Prêmio CUT. No evento, mais uma vez conversei com lideranças dos movimentos sociais, do movimento sindical, com jornalistas, intelectuais, políticos etc. sobre ideia que venho defendendo desde 2007, quando propus, neste blog, que seus leitores me acompanhassem ao primeiro ato público do Movimento dos Sem Mídia.

A partir daquele ano, por sucessivas vezes tentei pôr em prática o que só agora vejo chances de conseguir. Nos últimos quatro anos, jamais existiu disposição como a que vejo agora nos movimentos organizados da sociedade civil e nos partidos para levarmos à rua, de uma vez por todas, as denúncias fartamente comprovadas de que as Organizações Globo, o Grupo Folha, o Grupo Estado e a Editoral Abril (Veja) lideram um partido político dissimulado que se vale até de atividades criminosas para impedir que este país distribua renda, direitos e oportunidades.

Esse legítimo Partido da Imprensa Golpista composto por impérios de comunicação, esse império do mal que atirou o Brasil em vinte anos de ditadura, essa máfia, enfim, elegeu parlamentares e governantes e cooptou juízes valendo-se do dinheiro público que os tais políticos que elegeu lhes doaram – e que continuam doando.

Toda essa máquina de corrupção, de difamação e de mentiras, agora muitos já sabem, foi erigida com o sangue, com o suor, com as lágrimas, mas, antes de tudo, com o dinheiro do povo brasileiro. Uma máquina que engana incautos, por um lado, e que rouba dinheiro público e distribui a quem aciona tais mecanismos.

Sempre soube, porém, que só poderia ver essa idéia se tornar palatável se conseguisse adeptos entre esses setores com os quais estive no Teatro Tuca, onde a Central Única dos Trabalhadores realizou a sua primeira premiação daqueles que entende que mais contribuíram para a Democracia e a Liberdade no ano passado, entre os quais figura o ex-presidente Lula.

Antes, ainda nesta semana, estive no Intervozes com a mesma finalidade: tratar dos preparativos para uma série de atos públicos, a partir do ano que vem, para denunciar na rua como o país está sendo espoliado por meia dúzia de famílias, pelos políticos que elegem e pelos juízes que põem no bolso

O objetivo dessa agenda de manifestações será explicar ao povão – em vez dos convertidos de sempre – como a comunicação de massas é uma máfia, no Brasil, e para propor a esse mesmo povo que apoie a Frente Parlamentar que apresentará um projeto de lei que visa conter o apetite dos mafiosos.

Não dá mais para esperar pelo governo Dilma. Não fará nada, não enviará projeto nenhum. Semana passada, a presidente repetiu aquela história de que o único controle da mídia que quer é o controle remoto das televisões. Uma barbaridade que o ministro do STF Carlos Ayres Britto também dissera pouco antes.

É uma barbaridade, o que disseram essas autoridades, porque vemos um debate público dessa importância ser literalmente censurado até por concessões públicas de rádio e tevê que continuam sendo regadas por bilhões de reais de dinheiro público ano após ano. É uma barbaridade porque o que se pede nada mais é do que um marco regulatório que existe em todos os países civilizados.

O marco regulatório das comunicações e uma agência como a FCC americana, como o Ofcom inglês ou como a CSA francesa são os objetivos desse movimento que deve eclodir no país no ano que vem simplesmente porque acabou a esperança de que militando atrás de computadores ou sentados em confortáveis sofás este país conseguirá se libertar da ditadura das famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita – uma ditadura que já foi de Estado e que hoje é apenas comunicacional.

Nesse aspecto, a ocultação dos grandes meios de comunicação, inclusive de concessões públicas de rádio e televisão, das denúncias escabrosas e fartamente documentadas contidas no livro A Privataria Tucana, penso que foi a gota d´água para todos os que acreditavam em outras formas de colocar a questão do marco regulatório da mídia na pauta do debate público.

Enquanto acharmos que através da internet, da militância de sofá, conseguiremos que os impérios de comunicação que o dinheiro público erigiu ajam direito, o país continuará sendo esbofeteado como em artigo publicado hoje na versão on line do jornal O Estado de São Paulo em que é dito que a mídia não repercutiu as denúncias do livro sobre a privataria tucana porque tem que lê-las primeiro, como se tal cuidado existisse quando o partido envolvido não é o PSDB.

Há anos que jornalistas, blogueiros, intelectuais, partidos políticos e movimentos sociais vinham acreditando em alguma forma de diálogo com a direita tucano-midiática. Depois do escândalo da ocultação do livro sobre a privataria pela mídia, acho que já não acreditam mais.

Entendo perfeitamente o senso de responsabilidade de todos os que sempre apoiaram as iniciativas do MSM mas que jamais se envolveram de verdade com elas por acharem que não seria por aí que se travaria essa luta. CUT, MST, UNE, entre tantos outros, já vão chegando à conclusão de que chega de apanhar, de serem criminalizados por ordem de quatro famílias e dos interesses que elas defendem no âmbito da comunicação social.

Os crimes da mídia não têm fim, são cada vez mais ousados. E tendem a piorar.

Essas famílias midiáticas transformaram estudantes da USP em drogados, traficantes e arruaceiros por quererem que o debate sobre a Cidade Universitária ser policiada pela Polícia Militar não fosse discutido com o bode na sala, ou seja, só após a medida da reitoria ter sido adotada.

Os barões da mídia escondem denúncias gravíssimas e cheias de provas documentais de roubalheira de bilhões de dólares de patrimônio público praticada pelos arautos da moralidade do PSDB, os quais, quando questionados, fazem discursos indignados como o que você assistiu no vídeo acima.

Será que chega? Será que todos já entenderam? Podemos publicar todos os posts que quisermos, podemos escrever todos os livros que quisermos, podemos apresentar todas as provas possíveis e imagináveis – mesmo se forem um áudio ou vídeo com José Serra e FHC confessando a privataria – que não adiantará nada sem dar continuidade na rua.

E sabe por que não adiantará, leitor? Porque o Judiciário senta em cima de qualquer denúncia contra tucanos e amigos. Governantes tucanos roubam à vontade e a mídia finge que não vê enquanto transforma cada tapioca do governo petista no “maior escândalo da história”.

Comparem as cifras do mensalão com as da privataria. Não que ilegalidades não tenham sido praticadas por petistas e aliados no âmbito do financiamento de campanha via caixa 2, que obviamente envolve recursos de origem duvidosa. Mas os suspeitos estão sendo processados judicialmente e a mídia os ataca todo dia desde 2005. Está tudo sendo apurado e ocorrerão punições.

Enquanto isso, roubo de cifras astronômicas durante a privataria tucana, centenas de vezes maiores do que os valores envolvidos naquilo que a mídia tucana diz ser “o maior escândalo de corrupção da história”, é ignorado por um Judiciário acovardado diante do poder de difamação das quatro famílias midiáticas e de seus tentáculos.

Mais uma vez: a Justiça brasileira sentou em cima de processos contra Serra, sua filha e tantos outros envolvidos na maior roubalheira de dinheiro público da história brasileira porque juízes têm medo de virar alvo dos meios de comunicação controlados pelas famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita, os quais tratam de proteger o tucano porque ele é o despachante que querem pôr no Planalto.

E para que não reste dúvida: jamais se pediu, aqui, que os escândalos contra petistas e aliados não fossem denunciados. Nunca, jamais. É dinheiro público que pode estar envolvido. É dinheiro meu, também. Dinheiro que paguei de impostos e que tirei do tratamento da saúde de minha filha de 13 anos, portadora de Síndrome de Rett (paralisia cerebral).

O que não se pode aceitar mais é que os tucanos roubem muito mais e que, para ficarem impunes, usem mais dinheiro público para retribuir o apoio de Globo, Folha, Estadão, Veja e de seus tentáculos. Se querem montar uma máquina publicitária para combates políticos que façam com dinheiro de quem os apóia, não com o dinheiro que é de todos.

Então, chega de militância de sofá, leitor. Só indo à rua quantas vezes forem necessárias e aos milhares, às dezenas de milhares, porque os setores organizados da sociedade civil supracitados têm força e representatividade para tanto. Podem obrigar a mídia a aceitar o debate sobre o marco regulatório das comunicações. Ela poderá esconder as manifestações uma, duas, três vezes, mas não poderá esconder para sempre.

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