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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Para entender o que é estratégico

 

O Jurong Aracruz, no Espírito Santo: o navio sonda nasce junto com o estaleiro
O mercado de exploração de petróleo não é igual a uma feira livre, onde você pode ficar rodando e escolhendo, na hora em que quiser, a melhor oferta de preço.
Os contratos de concessão, que vigem na maior parte do mundo, têm datas, prazos que, se não cumpridos, acarretam a perda dos direitos exploratórios.
E os equipamentos são altamente especializados e caríssimos.
O aluguel de uma sonda da águas ultra profundas, no mercado “varejista” – contratos bem negociados ficam um pouco abaixo disso – anda na faixa de US$ 500 mil por dia (por dia, é isso mesmo).
Em 2007 e 2008 a Petrobras teve de fazer malabarismo para colocar sondas em todas as áreas que detinha e por pouco não perde os direitos exploratórios de uma das áreas do pré-sal, o campo de Carioca.
A opção, corretíssima, da empresa foi estimular a fabricação aqui destas sondas. Mas enfrentamos o problema de operação plena dos estaleiros e do ineditismo desta produção.
A solução foi a própria Petrobras coordenar a formação de uma empresa com este fim, a Sete Brasil, reunindo bancos e fundos de investimento.  Foi ela a contratada para fazer as sete primeiras sondas de um lote total de 28 unidades, e concorreu às demais 21, no finalzinho do ano passado, numa licitação que a Petrobras suspendeu à espera de uma baixa de preços.
Mas as sondas têm de sair e vão sair.
Mesmo sem a garantia firmada do contrato, a Sete Brasil contratou uma sonda ao estaleiro Jurong Aracruz, que está sendo construído no Espírito Santo, ainda em fase inicial.
Baseado num desenho inédito, o navio-sonda  poderá operar em lâmina d´água de mais de 3,3 mil metros e tem capacidade para perfurar mais outros 9 mil metros no subsolo.O índice de nacionalização deverá ser superior a 60%.
Se a Petrobras não tivesse o peso que tem na empresa, ela firmaria um contrato assim, de quase US$ 800 milhões? E se a sonda não começasse a ser projetada agora, se as encomendas de partes e equipamentos não pudesse começar a ser feita, se os problemas de um primeiro produto não começassem a ser enfrentados já, haveira prazo para que a sonda entrasse em operação no calendário-limite que tem a Petrobras?
Um empresa de petróleo com as perspectivas que tem a Petrobras precisa deste poder, porque é dele que se origina a pressão que ela precisa fazer sobre seus fornecedores. Se a Sete Brasil bancou os riscos, é porque sabe que há mercado.
A Petrobras tinha apenas duas sondas de águas ultraprofundas em 2007, hoje tem 25, terá 34 dentro de dois anos, quando- aí, sim – entrarão em operação as sondas feitas no Brasil. Em 202o, quando o contrato estiver concluído, serão 65, um terço delas fabricado aqui.
Sem o novo modelo de partilha, sem a garantia de operar todos os nossos poços do pré-sal pela petroleira brasileira, alguém ia meter o peito na correnteza e produzir este bilionário equipamento aqui, turbinando a economia, a indústria, a tecnologia e o emprego?
Imprudência? Imprudência é um gigante que aceita rastejar.
*Tijolaço

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