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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, fevereiro 08, 2012


A privatização da Dilma é partilha. FHC era concessão

Para o Valor, na primeira página, os vencedores do leilão dos aeroportos formam um conjunto de parvos:

“Preços pagos no leilão superam geração de caixa de aeroportos”

Entraram no leilão para ter prejuízo.

Durma-se com um barulho desses, amigo navegante.

A Folha (*), na primeira página, diz que só empresa micha venceu o leilão.

Claro, amigo navegante: nenhuma vencedora tem a musculatura do UOL e da Folha, que, como se sabe, são blue-chips da Bolsa da Valores de Nova York.

O jornal nacional do Ali Kamel deu ao leilão o tratamento de uma batida de trânsito na rua Lopes Quintas.

Reportagenzinha fuleira, em que a metade do tempo foi gasta com um “transportista”, especialista em “transportismo” que provou, por “a” mais “b” que foi um desastre.

Kamel parecia por lenha na fogueira da insurreição baiana – clique aqui para ler o Santayana.

A Urubologa esteve implacável no Globo.

Não fica finger sobre finger.

Começa com uma gigantesca imprecisão:

“… como a privatização dos tucanos, foi estatizada demais.”

(Ela não menciona pequena diferença entre uma e outra – a dos tucanos foi a maior roubalheira numa privataria latino-americana, como demonstrou em cem paginas de documentos públicos, o Amaury Ribeiro Junior.)

E aí é que está o busílis da questão.

Na Privataria tucana, o Cerra e o Farol de Alexandria vendiam a preço de banana – como fizeram com a Vale, debaixo de furiosa pressão do Cerra, segundo depoimento envergonhado do FHC – e iam embora para casa.

Ou para Miami.

Vendiam as telefônicas a preço de banana, entregavam ao Daniel Dantas – que não entrava com um tusta – e iam embora para casa.

Ou para Paris.

Se as telefônicas não cumpriam o combinado com os consumidores, se mandavam com todo o lucro para fora e não reinvestiam, se eram as campeãs de reclamação no Procon, problema da Anatel.

Anatel ?

O que faz a Anatel ?

A privatização da Dilma é um pouquinho diferente.

Primeiro, ela não levou a leilão patrimônio nacional não renovável, como as jazidas minerais da Vale do Rio Doce.

Ou as jazidas do pré-sal da Petrobrax.

Ela leiloou a gestão de serviços.

O controle do que interessa, do que é vital, a gestão do espaço aéreo, isso continua no Brasil.

Não foi para a Espanha.

Em segundo lugar, a Infraero é sócia dos consórcios vencedores, com participação forte – 49% em Guarulhos.

E a Dilma tem direito a veto na administração dos aeroportos.

Ou seja, a Presidenta Dilma tem o pé na porta.

Não cumpriu o que prometeu, ela entra na sala.

E 49% da geração de lucro de Guarulhos não é de se jogar fora, não é isso, amigo navegante ?

É dinheiro para a Infraero aplicar em outros aeroportos essenciais à interiorização do progresso.

O que o Brasil ganhou com a concessão da Brasil Telecom ao Daniel Dantas ?

Quem ganhou mais ?

Ele ou o Brasil ?

O modelo que se pode chamar de híbrido da Dilma é manter sob controle do Estado uma formidável “golden share”, como fazia a D. Thatcher, a mãe de todos os privatizadores.

(Aqui, o Cerra jogou a “golden share” num piscinão do rio Tietê.)

A “golden share” da Dilma é o direito a veto.

Para fazer uma analogia, que talvez ajude a conter o disfarçado entusiasmo dos neolibelês (**), a distância que separa a Dilma da Elena Landau não é a que vai do Carandiru à Daslu.

É a diferença entre “concessão” e “partilha”, na Petrobrás.

O Farol “concedia” as reservas de petróleo do Brasil às empresas exploradoras.

A Dilma e o Lula, na companhia do Gabrielli, montaram o sistema da “partilha”.

E quem fica com a parte do leão (Infraero e o direito a veto) é a Petrobrás.

A Urubóloga tem razão.

A privatização da Dilma é estatizada demais.

Sem Ricardo Sergio de Oliveira.

O que é uma grande diferença !


Paulo Henrique Amorim

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