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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Petrobras é técnica? É politica? É nossa!

Segunda-feira, a Petrobras troca de comando, com a entrada de Maria das Graças Foster no lugar de José Sérgio Gabrielli na presidência da empresa.
Troca de comando, mas não troca de política. A ordem é acelerar os investimentos da empresa e coube a Gabrielli enfrentar a etapa mais pioneira deste processo.
A conversão de uma enorme empresa, com estrutura, rotina e capacidade para ser uma das grandes petroleiras do mundo numa empresa gigantesca, com a vocação de ser a maior petroleira do mundo.
Porque Gabrielli chegou à Petrobras antes do pré-sal. E o pré-sal, até 2020, significa uma Petrobras com o dobro da produção que, sem ele, se poderia esperar para este mesmo prazo.
Porque o pré-sal ser um achado, uma dádiva providencial ao povo brasileiro não é um fato em si, e pronto. É resultado de um processo de acumulação de conhecimento da empresa – onde brilhou Guilherme Estrella, o lider dos ousados que decidiu ir além do horizonte petrolífero convencional – e tem como consequência uma mudança de qualidade na própria organização da atividade petrolífera no país.
Um número resume magistralmente esta mudança: em 2007, a empresa – já então líder no segmento exploratório de águas ultraprofundas – possuía duas sondas de águas ultraprofundas, com capacidade de perfurar em lâminas d´água acima de 2,5 mil metros de profundidade. Hoje, opera 26 e terá 65 delas em 20o2,  quase metade delas produzida aqui, como as 21 que se contratou, definitivamente, ontem.
Quando se considera que  cada uma destas sondas custa meio bilhão de dólares, é possivel compreender a complexidade de tamanha decisão empresarial.
Agora, extrapole isso para terminais, gasodutos, navios, barcos de apoio, refinarias, equipamentos, tecnologia, especialistas, logística e tudo o mais e verifique se seria tarefa simples para o melhor administrador da face da terra.
Dizer que Gabrielli era “um político” à frente da empresa é verdade, mas apenas meia-verdade. Não apenas porque é um economista de qualificação extraordinária como porque, também e por isso, compreendeu que a reestruturação necessária para fazer frente ao desafio fazia parte de um embate político de mais de 70 anos no Brasil: termos a capacidade de controlar – e controlar – a grande fonte da riqueza mundial, ao lado do trabalho, que é a energia.
Mas sim, ele foi político e não poderia ser um bom administrador se não o fosse. Porque o desafio da Petrobras é permanentemente político, por fazer parte essencial de um projeto de país que ainda está por se realizar e que, por cinco séculos, esbarra nas forças terríveis que drenaram nossas riquezas e que construíram – aqui e com brasileiros – uma camada de beneficiários deste saque e a ideologia da incapacidade de nos condiserarmos capazes de trabalhar, criar, produzir e progredir por nossas próprias pernas e em favor de nossas próprias vidas.
Gabrielli soube entender que ele não era o “pequeno imperador” de uma grande empresa. Poderia ter sido, facilmente, um Agnelli do petróleo, bajulado pela mídia, correndo para apresentar resultados expressivos na quantidade e vazios no conteúdo, porque obtidos  em detrimento do desenvolvimento da indústria nacional, do emprego dos brasileiros, da criação de conhecimento e tecnologia que, ao contrário dos bolsões de petróleo, são inesgotáveis.
Soube associar, com Lula e Dilma. o futuro da Petrobras ao futuro do Brasil e dos brasileiros. A Petrobras voltou a ser amada, voltou a ser um ícone de nossos sonhos de futuros e, sobretudo, voltou a ser um instrumento de sua construção. Aos idiotas que querem tudo mais rápido, mais barato, mais lucrativo em instantes, a Petrobras respondeu com um sistema de compras consistente, que reativou e multiplicou o parque produtivo nacional, as oportunidades de trabalho, a formação de profissionais e, ainda por cima, nos devolveu, com a capitalização, uma fatia daquilo que Fernando Henrique havia, criminosamente, entregue à Bolsa de Nova York.
No último ano, soube ser paciente e conduzir com prudência o apoio que a empresa – tão apoiada pelo país – precisava devolver ao Brasil, contendo preços para livrar o Brasil do ataque especulativo que pressionava a inflação. Compreendeu que, tanto quanto plantas industriais e equipamentos, o apoio dos brasileiros é um grande capital daquela empresa.
Agora, passa a  Graça Foster o comando da empresa.
Dizer que Graça é uma técnica é, igualmente, uma meia-verdade.
Ela sabe, em sua prória existência pessoal, o que a Petrobras pode fazer pela vida das pessoas e deste país. Sabe que, sem a paixão pelo Brasil a Petrobras não teria nascido e, muito menos, sobrevivido a todo o ódio que lhe votam aqueles que vêem no país apenas uma fonte de enriquecimento pesoal. Sabe que ela é capaz de tirar milhões da pobreza e que, por ser assim, não pode parar, transigir, vacilar e tremer diante dos desafios.
O seu desafio não é, como o de Gabrilli não foi, nada pequeno. Se as plantas da construção estão traçadas e seus alicerces bem fundados, o tamanho e a complexidade das estruturas que saião deles vai exigir, a toda hora, ajustes e correções. A “engenheira-chefe”  desta obra não será nem poderia ser apenas uma planejadora ou gestora. Por mais que haja áreas específicas, entregues a comandos próprios e responsáveis, ela terá de percorrer e olhar por todas elas, todo o tempo.
Animando, desafiando, cobrando, exigindo e, sobretudo, decidindo, por vezes com alguns sacrifícios e prejuízos nada agradáveis dentro de uma corporação.
Uma missão de gerente? De certa forma, sim, como é de se esperar de quem tem essa responsabilidade funcional. Mas, também, uma missão fundamentalmente política, porque se a Petrobras é a edificação concreta do sonho dos brasileiros, este sonho também é matéria prima, tanto quanto o concreto e o ferro, desta construção nacional. E jamais pode se permitir que esta matéria-prima, a compreensão e o amor por esta grande empresa se perca no tecnicismo ou se abale com as campanhas, imensas e incansáveis, que se farão contra ela.
Os tolos, os céticos, os descrentes que se preparem. Os próximos anos vão tornar evidente o tamanho do gigante que está se erguendo e erguendo com ele, para o lugar que merece, o povo brasileiro.
*Tijolaço

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