A campanha dos bancos para saquear as poupanças
Desde
o último dia 18, quando a taxa nominal de juros básicos caiu para 9%,
espalharam-se por atacado os artigos, reportagens ou shows de televisão,
etc., sobre a tremenda urgência de rebaixar os rendimentos das
cadernetas de poupança. Caso contrário, dizem, não será possível baixar
mais os juros – apesar dos juros básicos reais, isto é, descontada a
inflação, ainda estarem em +3,4%, enquanto a média internacional está em
-0,6%.
O
rendimento da poupança (taxa referencial de juros + 0,5% ao mês) é um
contrato. Mas, quando é para pilhar os mais pobres, nenhum desses
filantropos se importa em quebrar contratos.
Segundo eles, com a queda dos juros básicos, a poupança ficou (ou estaria ficando)
mais “atrativa” que os fundos de renda fixa, cuja base é constituída
por aplicações em títulos do governo. Assim, os especuladores estariam
retirando (ou iriam retirar) dinheiro da renda fixa, abrir
cadernetas de poupança, e o governo não poderia refinanciar (“rolar”)
sua dívida, por falta de aplicadores em títulos públicos.
Tudo isso é falso,
como disse, no dia 23, o coordenador de Operações da Dívida Pública do
Tesouro, Fernando Garrido. Mas isso não impediu os porta-vozes dos
bancos de continuarem a sua campanha.
Logo, arrumaram um
“estudo” de uma entidade chamada Anefac (Associação Nacional dos
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) para provar a
inevitabilidade da fuga para a poupança, se o rendimento desta não for
reduzido.
Anefac é o nome de fantasia da National Association Accounting (NAA), braço doInstitute of Management Accountants (IMA), sediado em New Jersey, EUA. O atual presidente da Anefac atende pelo nome de Andrew Frank Storfer.
No “paper” da
Anefac, para chegar à conclusão de que a queda dos juros básicos fez com
que a poupança tenha rendimento maior que a “renda fixa”, além do
imposto de renda, subtraiu-se do rendimento da última a taxa de
administração que os bancos cobram dos aplicadores.
Naturalmente, os
especuladores estrangeiros (segundo as contas do BC, há U$ 124,49
bilhões de dinheiro externo na “renda fixa” dentro do país, o que, ao
câmbio da última quarta-feira, significa 45,5% do total) não querem
pagar impostos. Mas, se o sr. Mantega não inventar mais uma isenção,
terão de pagá-los. Até porque o imposto de renda, que é tanto mais baixo
quanto maior o prazo dos títulos, não impede as cornucópias de ganhos
na renda fixa.
Quanto às “taxas de
administração”, realmente, os especuladores maiores, isto é, os bancos
que “administram” os fundos de renda fixa, escalpelam com elas os
especuladores menores. Aliás, há taxas para tudo, com alíquotas que
dependem apenas da ganância dos bancos: “taxas de administração”, “taxas
de performance” (se o resultado for bom, o “administrador” cobra mais),
“taxas de entrada” (para permitir a entrada do “investidor” no fundo) e
“taxas de saída” (se o sujeito quiser sair dele).
No entanto, os bancos, que são os principais “investidores” da renda fixa, cobram as taxas, eles não as pagam.
São eles os “administradores” que estabelecem as taxas - e as auferem.
No momento, a “taxa de administração” pode ir até 5% do dinheiro
aplicado pelo pato, digo, investidor. São taxas tão inúteis que há
fundos que não cobram qualquer taxa, assim como existem os que cobram 1%
ou 2%.
Portanto, calcular o
rendimento da “renda fixa” subtraindo essas taxas para diminuí-los, é
uma falácia, porque os “investidores” mais pesados não as pagam. Pelo
contrário, são eles que cobram essas taxas, como “administradores” dos
fundos. Se o pequeno ou médio especulador quer se submeter a essa
escorcha, não há nada a fazer. Quem é burro pede a Deus que o mate e ao
diabo que o carregue. A poupança e seus aplicadores é que não têm nada a
ver com isso.
No entanto, como em
simulações tudo é possível, no “paper”, a Anefac não somente as
subtraiu em geral do rendimento da “renda fixa” - como se todos os
“investidores” as pagassem -, como usou as taxas de administração que
convinha para provar, irretorquivelmente, que a poupança tem de ser
furtada...
Evidentemente,
rebaixar o rendimento da poupança significa aumentar o ganho dos
“agentes repassadores”, isto é, dos bancos. Além do que, com o dinheiro
dos depositantes, estão soltos para jogar nos cassinos especulativos ao
redor do mundo.
Os aplicadores na
“renda fixa” são cerca de 50 mil, com R$ 1 milhão ou mais aplicados –
menos que isso é insignificante, do ponto de vista do total. Os
aplicadores em caderneta de poupança são 98 milhões.
A “renda fixa” imobiliza hoje, em completa esterilidade especulativa, R$ 513,90 bilhões (cf. Anbima, “Indicadores do mercado de renda fixa”, 24/04/2012). A poupança tem um total de depósitos de R$ 428,90 bilhões (cf. BC, Relatório de Poupança, abril/2012).
Em síntese, o total
imobilizado na “renda fixa” supera a poupança em R$ 85 bilhões, apesar
do número de aplicadores desta última serem 1960 vezes os
daquela, e apesar da primeira ser uma aplicação estéril, enquanto a
segunda financia a construção civil (poupança SBPE) e a agricultura
(poupança rural).
Portanto, seria
muito divertido ver os especuladores retirarem mais de meio trilhão de
reais da “renda fixa” para enfiá-los em cadernetas de poupança.
Mas, diria algum
espiroqueta, isso não seria “responsável”. Responsável é aumentar o
ganho dos bancos e manter bilhões esterilizados na especulação, isto é,
desviados da produção (a Anbima, que reúne as “entidades” do mercado
financeiro e de capitais, informa que há R$ 2,1trilhões imobilizados nas várias operações dos “fundos de investimento”).
O rendimento real
da poupança ao mês está em 0,61%. O da renda fixa (médio, pois depende
do prazo) está em 0,62% a.m. A “renda fixa” tem um rendimento superior
ao da poupança. Perguntaria o leitor: e se houvesse uma inversão? Se
fosse o inverso, os especuladores continuariam a ganhar uma fábula com a
“renda fixa”. Mas, continuaria o leitor, e a fuga para as cadernetas de
poupança? Um consultor financeiro – ao contrário da mídia, os
consultores que querem sobreviver não podem desencaminhar os seus
clientes – definiu: “para quem tem mais de R$ 1 milhão, a poupança é mau negócio, diante de outras aplicações que rendem muito mais”.
Se houvesse alguma fuga, não seria para a poupança. Ao silenciar sobre
isso, os porta-vozes dos bancos revelam que estão se lixando para evitar
uma fuga da renda fixa, e que se danem as contas do governo. Querem,
única e exclusivamente, saquear a poupança dos pobres para aumentar o
ganho dos seus patrões.
CARLOS LOPES
Fonte: Hora do Povo
Fonte: Hora do Povo
*SoaBrasil
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